quinta-feira, 24 de fevereiro de 2005

Os Sete Mártires de Teerão: a reacção russa

1850 foi um dos anos mais marcantes da história das religiões Babi e Baha'i. Os acontecimentos mais relevantes foram o martírio do próprio Báb, e as sublevações e massacres em Zanjan e Nayriz; mas o martírio de sete crentes em Teerão, permitiu aos diplomatas estrangeiros testemunhar em primeira mão as perseguições aos babis e a reacção da população.

Nessa época o embaixador russo em Teerão era o conde Dolgorukov. Por mera casualidade, este diplomata já tinha testemunhado a tortura e execução de criminosos na presença do Xá; esse facto deixou-o profundamente perturbado. Durante vários meses, e conjuntamente com o embaixador britânico, tentaram persuadir o Xá e o primeiro-ministro a pôr termo a essas práticas que consideravam bárbaras, e a criar tribunais imparciais para julgar qualquer pessoa que fosse acusada.

A sede da Embaixada Russa em Teerão, no séc. XIX

Após a execução dos sete mártires de Teerão, o conde Dolgorukov enviou, em 24 de Fevereiro de 1850, o seguinte despacho para o seu governo:
A mentes estão num estado de profunda agitação devido à execução [de vários Babís] que teve lugar recentemente numa grande praça de Teerão. Já expressei uma vez a minha opinião que o método pelo qual, no ano passado, as tropas do Xá, sob comando do Príncipe Mahdi Quli Mirza, exterminaram os Babis não diminuirá o seu fanatismo.

Desde esse tempo que o governo tem ficado a saber que Teerão está repleta destes sectários que não reconhecem estatutos civis e pregam a partilha da propriedade daqueles que não se juntam à sua doutrina. Temendo pela paz social , os ministros da Pérsia decidiram prender alguns destes sectários e, segundo se diz, tendo recebido durante o interrogatório a sua confissão de fé, executaram-nos. Estas pessoas, em numero de sete, e presas aleatoriamente, pois os Babis já se contam aos milhares na capital, recusaram-se sempre negar a sua fé, e enfrentaram a morte com um entusiasmo que só pode ser explicado por um fanatismo levado ao limite extremo. O assistente do ministro do Negócios Estrangeiros, Mirza Muhammad Ali, pelo contrário, afirma que estas pessoas nada confessaram e que o seu silêncio foi interpretado como uma prova suficiente da sua culpa.

Apenas se pode imaginar a cegueira das autoridades do Xá que imaginam que estas medidas podem extinguir o fanatismo religioso, assim como a injustiça que guia os seus actos quando exemplos de crueldade com os quais tentam assustar o povo, são cometidos sem distinção sobre as primeiras pessoas que lhes caem nas mãos...
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NOTA
[1] – Citado em The Bábi and Bahá’í Religions, 1844-1944; Some Contemporary Western Accounts, de Moojan Momen, pag. 104

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