Os primeiros relatos que surgem no ocidente sobre as religiões Bábi e Bahá'í, chegam através de viajantes, diplomatas e missionários. Naquele tempo os jornais ocidentais não tinham correspondentes nas cidades da Pérsia; a informação circulava lentamente e nem sempre era a mais correcta. Por outro lado, a dimensão das primeiras perseguições tornava praticamente impossível obter informação em primeira mão sobre esta nova religião. A simples menção das palavras "Bábi" ou "Bahá'í" em público era algo perigoso; a nova comunidade chega a assumir um comportamento de "quase-clandestinidade".
A opinião da colónia europeia em Teerão, entre 1850-1852, era que os Bábis seriam socialistas, comunistas e anarquistas. Esta perspectiva deve ser entendida no contexto da história europeia da época. A Europa acabava de atravessar um período turbulento. O ano de 1848 ficara conhecido como "o ano das revoluções" promovidas por socialistas e anarquistas. Assim, não é surpreendente que os europeus em Teerão vissem o movimento Bábi sob uma perspectiva semelhante.
As principais embaixadas em Teerão eram a Britânica e a Russa; estes dois países disputavam interesses e zonas de influência na Pérsia. Os arquivos diplomáticos desses dois países revelam o interesse de ambos sobre a natureza e evolução do movimento Bábi.
O embaixador russo na Pérsia, o principe Dolgorukov, preocupava-se com a dimensão do movimento Bábi naquele país. Em 1849 chega mesmo a referir-se aos Bábis como "uma seita que promove o comunismo pela força das armas". O facto do Báb ter ficado preso na fortaleza de Maku, perto da fronteira russa deixa-o ainda mais alarmado. Só passado alguns meses percebe que o movimento Bábi não é uma rebelião armada, mas um movimento religioso.
Em meados de 1850, Dolgorukov toma conhecimento que os ingleses estão a investigar os Bábis. Para tentar obter informações mais fidedignas enviou, em 15 de Julho de 1850, para o cônsul russo em Tabriz, Anitchkov, a seguinte carta:
"A doutrina do Báb todos os dias capta novos aderentes na Pérsia. Por esse motivo deve merecer a nossa mais séria atenção. Consequentemente, solicito-lhe que desenvolva todos os esforços para reunir toda a informação possível sobre os dogmas desta doutrina e movimentos dos seus apoiantes. Depois de me comunicar tudo o que obtiver, farei uma comparação com tudo aquilo que estou em posição de recolher em Teerão.
A presença do Báb em Tabriz pode talvez possibilitar-lhe a recolha da informação mais autêntica sobre este assunto"
No mesmo dia, escreveu para Senivian, o Ministro Russo dos Negócios Estrangeiros:
"Lord Palmerston [o Ministro dos Negócios Estrangeiros Britânico] pediu ao seu Embaixador na Pérsia que lhe enviasse um relatório detalhado sobre as crenças desta seita, e eu próprio espero, num futuro próximo, poder enviar ao Ministro Imperial um livro que foi compilado por um famoso Bábi e que foi posto à minha disposição".
Na data em que estas carta foram escritas, tinham já passado 6 dias sobre o fuzilamento do Báb, facto que provavelmente ainda não era do conhecimento do embaixador. Estas duas cartas são apenas curiosidades históricas. Existem cartas semelhantes redigidas por diplomatas ingleses. Entre os livros e os artigos escritos na época e que referem a nova religião, destacam-se imediatamente os do professor E.G.Browne, A. Nicolas e do Conde Gobineau. Talvez um dia escreva sobre estes autores.
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Referências/Links:
* Todas as citações foram retiradas de The Bábi and Bahá’í Religions, 1844-1944; Some Contemporary Western Accounts, de Moojan Momen
* Uma breve descrição das referências às religiões Bábi e Bahá'í no Ocidente encontra-se aqui.
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