Nos ensaios reunidos no livro Fé, Verdade e Tolerância, o então Cardeal Ratzinger repete que existem três atitudes possíveis dos cristãos face às religiões não-cristãs: Exclusivismo, Pluralismo ou Inclusivismo.
Apesar do autor considerar que a perspectiva cristã vê Cristo como a única - e definitiva - salvação do homem(p.20), reconhece também que o Exclusivismo "no sentido de recusar a salvação a todos os não-cristãos, não é hoje defendido por ninguém"(p.75).
Quanto ao Pluralismo, Bento XVI, também não hesita em rejeitá-lo:
"A posição pluralista aparece em John Hicks e Paul Knitter. Esta corrente não acredita que a salvação venha somente de Cristo. Aqui o pluralismo das religiões é desejado pelo próprio Deus, e todas são – ou podem ser – caminhos de salvação. A Cristo cabe algum realce, mas de modo algum exclusivo." (p.49)Resta então o Inclusivismo. Aqui o Cristianismo é visto como estando presente em todas as religiões. Todas as religiões não-cristãs vão ao encontro do Cristianismo – mesmo sem o saber – e o que oferecem à humanidade é uma forma distorcida e parcial dos ensinamentos divinos que se tornaram visíveis em Jesus Cristo (p.48). Um dos expoentes das perspectiva foi Karl Rahner que considerava que muitos não-cristãos eram “cristãos anónimos”.
"O mero pluralismo das religiões, enquanto posicionamento permanente de blocos lado a lado, não pode ser a última palavra na actual hora da história... Certamente não é declarada a absorção das religiões numa única, mas é necessário encontrar uma unidade que transforme pluralismo em pluralidade. Esta unidade é hoje procurada." (p.78)
Ratzinger lamenta que hoje esteja em moda recusar o Inclusivismo por se tratar de uma forma de arrogância e imperialismo cristão (p. 75). Embora afirme que não concorda com a tese de Rahner - que os não cristãos sejam considerados cristãos anónimos (p.18-19) -, o líder da Igreja Católica também considera que não se pode negar a um cristão “o direito à sua fé, e a fé de que tudo foi criado em Cristo...”. Por outras palavras, Bento XVI tem uma postura inclusivista e, consequentemente uma concepção Cristocentrica da religião e da história da humanidade.
Se Bento XVI se opõe a um Pluralismo “enquanto posicionamento permanente de blocos lado a lado”, não se percebe porque não explora outros conceitos de Pluralismo. Porque não um pluralismo de blocos que acompanham a evolução histórica da humanidade, adequando-se às necessidades de cada povo e de cada época? Porque não um pluralismo de blocos religiosos, vistos como etapas sequenciais da nosso desenvolvimento espiritual colectivo?
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