Quando receita um medicamento, um médico qualificado leva em conta a constituição física específica do paciente, a sua idade, o seu estado físico ou a sua predisposição para reacções negativas a certas substâncias, para além de outros factores. Dependendo destas condições, o médico prescreverá o medicamento. Mesmo quando se trata de um mesmo paciente, um médico qualificado terá de levar em conta a reação do doente à dose prescrita, bem como as diferentes composições do medicamento, a fim de que possa ajustar tanto a dose como a composição às diferentes etapas do processo de cura. De igual forma, um mestre espiritual qualificado adapta os seus ensinamentos, mantendo sempre uma profunda sensibilidade face às necessidades específicas de uma determinada situação. Portanto, quando se refere aos ensinamentos de Buda, um budista não pode dizer «este ensinamento é o melhor», como se uma tal avaliação pudesse ser independente do contexto específico.
Dalai Lama, Caminhos da Fé, pag. 160
Este pequeno excerto das palavras de Dalai Lama despertou a minha curiosidade. Para mim, comparar os fundadores das grandes religiões mundiais a Médicos Divinos não é original. É algo recorrente nas Escrituras Bahá’ís. Deixo aqui dois exemplos:
Os Profetas de Deus devem ser vistos como médicos cuja tarefa consiste em promover o bem-estar do mundo e dos seus povos, para que, através do espírito da unidade, possam curar a doença de uma humanidade dividida. A ninguém é dado o direito de questionar as suas palavras ou denegrir a sua conduta, pois eles são os únicos que podem declarar ter compreendido o paciente e diagnosticado correctamente as suas enfermidades. Homem algum, por mais perspicaz que seja a sua percepção, pode esperar jamais alcançar as alturas que a sabedoria e a compreensão do Médico Divino atingiram. Não é de admirar, portanto, que o tratamento prescrito pelo médico neste dia não seja idêntico, àquele anteriormente prescrito. Como poderia ser de outro modo, quando os males que afectam o sofredor necessitam, em cada fase de sua doença, um remédio especial? De igual modo, cada vez que os Profetas de Deus iluminaram o mundo com o brilho esplendoroso do Sol do conhecimento Divino, eles, invariavelmente, convocaram os seus povos a abraçar a luz de Deus através dos meios que melhor satisfizessem as exigências do tempo em que apareceram. Assim eles puderam dissipar as trevas da ignorância e derramar sobre o mundo a glória do Seu próprio conhecimento. É para a mais íntima essência desses Profetas, portanto, que a visão de todo homem de discernimento se deve dirigir, na medida em que o seu único e exclusivo propósito sempre foi guiar os errantes e dar paz aos aflitos... Estes não são dias de prosperidade e triunfo. Toda a humanidade está atacada por múltiplas enfermidades. Esforça-te, pois, para lhe salvar a vida por meio do remédio salutar preparado pela mão omnipotente do infalível Médico.
(Bahá'u'lláh, Selecção dos Escritos de Bahá’u’llah, sec. XXXIV)
A existência do mundo pode ser comparada à vida do homem, e os Profetas e Mensageiros de Deus a médicos competentes. O ser humano não pode permanecer na mesma condição: diferentes enfermidades ocorrem e cada uma tem um remédio especial. O médico hábil não usa o mesmo remédio para todas as doenças e todos os males; ele altera os remédios e medicamentos de acordo com as necessidades das doenças e constituições. Se uma pessoa tiver uma doença grave causada por uma febre, um médico competente dar-lhe-á remédios refrescantes; e quando, noutra ocasião, a condição desta pessoa tiver mudado, e a febre for substituída por um calafrio, sem dúvida que o mesmo médico descartará o remédio refrescante e permitirá o uso de outros, de efeito contrário. Essa mudança na prescrição é exigida pelo estado do paciente, e é uma prova evidente a habilidade do médico.
('Abdu'l-Bahá, Respostas a Algumas Perguntas, cap 20)
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