segunda-feira, 28 de junho de 2004

O Velho Louco que movia Montanhas

Talvez já conheçam esta fábula chinesa:

Na China antiga, havia um Velho Louco que já tinha oitenta ou noventa anos. Em frente da sua porta existiam duas enormes montanhas, que bloqueavam o caminho até à sua casa.
Um dia o Velho Louco reuniu toda a família e disse: “Estas duas grandes montanhas à nossa porta são um transtorno! Vamos afastá-las! Que tal?”
Todos os filhos e netos concordaram. Disseram: “Não há dificuldade que não possamos ultrapassar. Podemos atirar as pedras para o mar!”
No dia seguinte, o Velho Louco foi com toda a família para a montanha; saíram muito cedo e voltaram tarde. E sem medo das dificuldades começaram a escavar as montanhas todos os dias.
Um outro velho, conhecido como o Velho Sábio, viu-os a trabalhar para afastar as montanhas e pensou que aquilo era ridículo. Perguntou ao Velho Louco: “Como podes tu afastar duas enormes montanhas na tua idade?”
O Velho Louco respondeu: “Apesar de eu morrer, ainda estarão cá os meus filhos. E depois deles morrerem, estarão os meus netos. Teremos cada vez mais pessoas, e as montanhas terão cada vez menos pedras. Enquanto tivermos determinação, por certo que poderemos afastar montanhas.”
Quando o Velho Sábio ouviu isto, não teve mais nada a dizer.
Esta determinação do Velho Louco sensibilizou Deus. Assim, Ele enviou dois anjos que afastaram imediatamente as duas montanhas.

Creio que esta fábula reflecte não só, a sabedoria de uma civilização milenar, mas também uma experiência de vida comum a toda a humanidade. No tempo de Mao Zedong, foi dada uma nova interpretação a esta fábula. As “duas montanhas” que os revolucionários chineses tinham de afastar eram o imperialismo e o feudalismo, que pesavam sobre o país e o povo. E Mao acrescentou: “O nosso Deus não é outro senão o povo chinês. Se o povo se levantar e escavar connosco, porque motivo não conseguiremos afastar estas montanhas?” Diziam alguns analistas que o povo chinês construía o Socialismo com o “espírito do velho louco”.
A determinação em levar uma causa avante, e a fé que se pode atingir um objectivo difícil, mesmo quando todos os obstáculos parecem enormes, encontram eco nesta fábula. Pessoalmente (e isto é uma opinião muito pessoal!) vejo esta determinação em alguns políticos que admiro, como Mandela, Luther King e Ghandi.
Também no momento do despertar das grandes religiões, se encontram também muitos visionários, pessoas com determinação e coragem para levar os novos ensinamentos e conseguirem ter alguma percepção do mundo para lá do momento em que vivem. Eles têm a clara noção que a fé pode mover montanhas.
Um dos exemplos que me vem imediatamente à memória, ter-se-ia passado com Santo Agostinho. Enquanto em Cartago se assistia à chegada e refugiados da península itálica, e se falava do desembarque dos Vândalos no norte de África, as pessoas diziam “É o fim do mundo! É o fim do mundo!” O Bispo de Hipona, respondia: “Não. É o princípio de um mundo novo.”
Ao vivermos tempos de pessimismo generalizado sobre a situação mundial, ao repetir de frases como “Isto tá cada vez pior!” ou “Não sei onde isto vai parar…” muita falta nos fazem visionários - velhos loucos que conseguem afastar montanhas - que percebam a evolução para lá do momento em que vivem e entendam que mundo novo estamos a construir, apesar das dificuldades do momento. É que a história da humanidade mostra-nos que a fé pode mesmo mover montanhas.