No ano passado concluí a leitura do Sobrados e Mocambos; anteriormente tinha lido o Casa Grande e Senzala. À maioria dos portugueses estes títulos não dizem nada. Tratam-se de duas obras do sociólogo brasileiro, Gilberto Freyre, onde se descreve a formação da sociedade brasileira no nordeste daquele país.
O primeiro volume descreve a formação do sociedade rural e patriarcal; o senhor e a sua família ficavam na Casa Grande; os negros dormiam na Senzala. O segundo volume aborda a decadência da sociedade rural e a formação das primeiras sociedades urbanas; os burgueses (maioritariamente brancos, poucos mestiços) viviam em grandes casas (chamados sobrados) nas cidades; os negros, maioritariamente escravos libertados, viviam em palhotas ou outras casa de construção frágil (a que chamavam mocambos).
Os livros abordam diferentes aspectos das transformações sociais que o nordeste brasileiro testemunhou; os hábitos alimentares, a maneira de vestir, os métodos de trabalho, a organização social, e até as histórias e brincadeiras de crianças. Por detrás da frieza do sociólogo, percebe-se nas entrelinhas que existiram ali muitas e muitas gerações de sofrimento e opressão.
A fusão de culturas assume aspectos muito interessantes; a maneira de falar português das amas negras que tomavam conta das crianças brancas, acaba por influenciar a maneira de falar dessas crianças quando adultas. Algumas histórias contadas às crianças entram definitivamente no imaginário infantil das crianças brasileiras; é o caso da história contada pelos índios sobre o Saci Pererê, um menino só com uma perna que vivia na floresta.
As culturas que se encontraram/confrontam no Brasil acabaram por perder a sua identidade original; formaram uma série de "brasis", dos quais conhecemos muito poucos. O jornal Estadão, na sua edição on-line, apresenta um documento especial sobre jogos e brincadeiras dos índios que ainda subsistem (ver este link). É particularmente interessante, pois as culturas indígenas parecem ter sido as que mais se diluíram nas outras (ou as que foram mais destruídas) no processo de formação do Brasil. É um património cultural que interessa preservar.
Também o Instituto Socioambiental do Brasil possui um site muito interessante sobre os diferentes povos indigenas no Brasil