Uma das memórias de infância que o meu pai costuma partilhar connosco, relaciona-se com um evento passado neste dia. Em 1941, passavam férias fora de Lisboa; num momento de descontracção familiar ligaram o rádio para ouvir as notícias. E ouviram: "A Alemanha invadiu a Rússia". O meu avô reagiu imediatamente: "Agora meteram-se com umas bestas à altura deles!".
O meu avô, um coronel-médico, tinha combatido na Primeira Grande Guerra, em Angola (a actual Namíbia era colónia alemã) e em França. Testemunhou os horrores da guerra; sentiu a perda de amigos e companheiros de armas. Por vezes, contava coisas que se tinham passado nas trincheiras. Imagino que deva ter ficado ressentido com os alemães.
Nesse verão, demoraram-se mais algum tempo na casa alugada para as férias antes de regressarem a Lisboa. Creio que ele temia que, após um eventual sucesso do exército alemão na União Soviética, Portugal pudesse vir a ser o alvo seguinte. Só no início de Novembro, quando o avanço alemão começou a perder o ímpeto, regressaram à vida normal em Lisboa.
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