Não sei até que ponto esta descrição é realidade ou um mero estereotipo. Hoje ao recordar um dos mais brutais dos martírios que ocorreram em Yazd, não pude deixar de recordar esta conversa.
OS SETE MÁRTIRES DE YAZD
O ano de 1891 foi particularmente violento para os bahá'ís da Pérsia. Um pouco por todo o país vários crentes foram martirizados, assustando a comunidade e levando-a a passar a uma situação de semi-clandestinidade. A cidade de Yazd[1] foi palco de um dos mais horríveis martírios desse ano: num único dia, sete crentes foram assassinados de forma incrivelmente cruel.
No dia 19 de Maio daquele ano, por ordem do governador e encorajamento do mujtahid local[2], sete crentes foram acorrentados e obrigados a desfilar pelos bazares, pelas principais ruas e praças da cidade. Eram acompanhados por uma multidão eufórica que gritava e cantava, aguardando freneticamente as suas execuções. Foram martirizados em diferentes locais da cidade. Alguns bahá'ís[3] que testemunharam os martírios foram obrigados a decorar as suas lojas para celebrar o evento.
O primeiro destes sete mártires foi 'Ali-Asghar, um jovem de vinte e sete anos. Depois de ser estrangulado, os restantes seis companheiros foram obrigados a arrastar o seu corpo pelas ruas da cidade. Um pouco mais à frente, Mullah Mihdi, um idoso de oitenta e cinco anos foi decapitado. Mais uma vez, os restantes companheiros foram obrigados a arrastar o seu cadáver até outro bairro da cidade onde executaram outro companheiro 'Aqa Alí. Todos estes crimes foram cometidos perante uma multidão entusiasmada que os insultava, agredia e festejava a sua morte.
Posteriormente seguiram até à casa do mujtahid local onde foi degolado um quarto companheiro, Mullá 'Alíy-i-Sabzivári; o seu corpo foi despedaçado perante os gritos da multidão eufórica. Logo a seguir, num outro bairro, perto das Portas de Mihriz, Muhmmad-Baqir sucumbiu aos suplícios. O cortejo dirigiu-se, então, para o Maydan-i-Khan onde os últimos condenados, os dois irmãos com pouco mais de vinte anos, 'Alí Ashgar e Muhhammad-Hasan, foram decapitados. A cabeça de um deles foi colocada numa lança, exibida como troféu e posteriormente apedrejada; o seu cadáver foi lançado contra a porta da casa da sua mãe, onde várias mulheres entraram para dançar e celebrar.
Ao final da tarde, os cadáveres arrastados para fora da cidade onde foram amontoados e apedrejados; os judeus da cidade foram obrigados a levar o que restava dos seus corpos e a lançá-los num fosso na planície de Salsabil.
Ante o entusiasmo da população, o governador decretou feriado para o povo; o comércio foi encerrado e várias ruas iluminadas para que os festejos pudessem prosseguir durante a noite.
Este foi um mais bárbaros actos cometidos contra a comunidade bahá’í durante os chamados tempos heróicos[4]. É relativamente fácil encontrar referências a este massacre em vários livros bahá'ís. Nos próximos posts apresentarei testemunhos de ocidentais que testemunharam o evento.
----------------------------------
NOTAS
[1] - Sobre a história das perseguições em Yazd ver também YAZD, IRAN e Persecutions of Babis in 1888-1891 at Isfahan and Yazd.
[2] - Doutor de Lei Islâmica
[3] - Existe um relato de um comerciante, chamado Haji Mirza, que afirma que, quando a multidão passou na rua, o próprio Bahá'u'lláh teria passado em frente à sua loja, pouco metros atrás dos mártires (na época Bahá'u'lláh estava exilado em ‘Akká). Haji Mirza saiu imediatamente do estabelecimento para seguir Bahá'u'lláh; Este terá feito um gesto apontado na direcção da loja, indicando que ele devia voltar para trás. Haji Mirza regressou à loja e dali viu que Bahá'u'lláh estava próximo do grupo de mártires quando um deles foi executado. Esta estranha visão fê-lo perceber que os mártires não estavam sós no momento da execução. Para mais pormenores, ver Adib Taherzadeh, The Revelation of Baha'u'llah, vol. 3, p. 194
[4] - Yazd voltaria a ser palco de perseguições ainda mais intensas em 1903.
8 comentários:
Marco, o texto está excelente.
Daqui podemos entender o cinismo da História, é sempre assim, aqueles que estão mais próximos do Profeta são sempre aqueles que mais se afastam.
O comportamento dos iranianos, maioritariamente xiitas, fazem-me me lembrar o dos judeus no tempo de Jesus. Imploravam pelo Prometido mas quando Ele chegou repudiram-No de forma vil.
Além de que os xiitas, segundo crença dos Bahá'ís, são aqueles que, de entre os muçulmanos, seguem os legítimos sucessores de Maomé.
Daqui faço-te uma proposta. Poderias colocar citações corânicas ou hadith (tradições) em que tudo isto já estava profetizado?
João Moutinho
Ó João Moutinho, por acaso sabes onde isso se encontra e, traduzido em qualquer língua do ocidente?
É que parece que há uns estudiosos dos hadiths mas só os vejo em árabe e farsi, como se eu dominasse alguma dessas línguas.
No "Livro da Certeza", por exemplo, há muitas tradições referidas.
A minha tola é que não me permite citar nenhuma de forma corretca. Mas estou recordado daquela atribuída a Sádiq em que ele refere que o conhecimento é composto por 27 letras mas que o Alcorão só revelou 2 letras e que o Qa'im revelará as restantes vinte e cinco letras.
Em a "Ordem Mundial de Bahá'ú'lláh" o Guardião faz citações de Maomé sobre o Dia do Juízo. Há uma em que Ele afirma que naqueles dias o céu tornar-se-á vermelho e choverão pedras sobre o Seu povo, e que a religião será algo de vazio na lígua dos crentes e que derão abreviar esse Dia.
Mas como eu disse, o melhor é ir ao texto inicial e não colocar uma ideia imprecisa.
João Moutinho
Ora vês que quando fazes os TPCs és recompensado... aí está uma resposta ... "magistral"...
um abraço
É verdade, é verdade.
Mas para eu saber alguma coisa tenho de ler bastante.
Além, de que aqui tenho alguém para fazer o meu trabalho...e que nunca poderia ser "magistral" ao contrário do efectuado neste blog.
Bom, não fica muito bem eu estar a autoelogiar-me mas eu tenho um estudo feito sobre o Alcorão, em que é demonstrado que a vinda de Bahá'ulláh já estva profetizada.
João Moutinho
O Ocean possui algumas Hadiths:
* Bukhari (9 volumes)
* Hadith Qudsi
Mas eu gostava mesmo era de ter isto impresso em livro.
já agora, é em Bukhari que está referido que Jesus iria reinar de novo durante 40 anos?
João Moutinho
lamento mas vocês...não dá. que rancor e ´odio aos xiitas. tanta imbecilidade. tá visto que vocês, até pelo alinhamentos, trabalham para o patrão sionista. e o Irão incomoda, não é?...porque os sunitas até obedecem ao padrinho americano, são obscurantistas e lambem o cu aos judeus. só que a revolução islâmica está viva e tranquila. os xiitas estão no poder no Iraque e são maioria no Líbano, com o Hizballah que vos deu uma lição no sul...pois é...baháaaa.
Enviar um comentário