“O problema não é o excesso de licenciados, mas a falta de emprego” são palavras de Leopoldo Guimarães, Reitor da Universidade Nova de Lisboa, publicadas ontem num jornal diário, relativamente ao desemprego de jovens recém licenciados. A serem verdade estas palavras (ainda estou para ver se não foram tiradas do contexto) são tão surpreendentes, quanto preocupantes. Surpreendente, porque parte significativa do desemprego de recém-licenciados tem origem num excesso de vagas disponibilizadas em alguns cursos universitários; preocupante, porque a universidade enquanto polo de desenvolvimento de conhecimento e criação de recursos humanos qualificados deve estar atenta às necessidades do meio em que está inserida.
O que se infere das palavras do Reitor é uma postura estática da universidade em relação ao mercado de trabalho (do tipo “nós produzimos os licenciados e as empresas é que têm de lhes arranjar trabalho; se as empresas não lhes dão trabalho isso é lá problema deles”). Como pode uma universidade viver isolada do mundo empresarial?
Se o mercado não absorve um determinado número de licenciados numa determinada área, então é obrigação da Universidade reduzir a oferta de vagas nesse curso. De igual modo se se verifica carência de licenciados numa outra área, é dever da Universidade aumentar a oferta de vagas nessa área. O que não é correcto é que a Universidade tenha um comportamento autista em relação ao mercado de trabalho e ao mundo empresarial, não assumindo a sua quota de responsabilidade no desemprego de recém licenciados e persista em manter uma oferta de vagas inadequada em alguns cursos.
Na minha opinião, o número de vagas disponibilizadas nos cursos universitários devia ser proporcional às necessidades do mundo do trabalho; essa quantidade de vagas podia ser revista periodicamente (de cinco em cinco, ou de dez em dez anos). Veja-se o caso de cursos como Relações Internacionais e Medicina. Todos sabemos do problema de falta de médicos com que os estabelecimentos de saúde se debatem; e com alguma facilidade encontramos licenciados em Relações Internacionais no desemprego ou em empregos que nada têm a ver com a sua formação. Será que isto é problema do mercado de trabalho? Ou será um sinal de inadequação Universidade às necessidades sociais?
É certo que estamos a viver uma crise económica e que em todos os ramos de actividade é difícil encontrar um emprego. Mas a tão apregoada competitividade e o almejado desenvolvimento económico passa inevitavelmente pela cooperação Universidade-Empresa. Esta cooperação pode estabelecer-se em muitas áreas e assumir muitas formas (não se resume apenas à mera formação de recursos em quantidade e qualidade de acordo com as necessidades das empresas). Mas a persistência na oferta excessiva de vagas numa determinada área é um sintoma de que algo vai mal nas nossas Universidades.
3 comentários:
Eu apostava que o dito Reitor ao dizer estas coisas está apenas a defender o emprego de alguns professores, mesmo que isso custe anualmente o desemprego de várias centenas de jovens recém-licenciados.
Ora aqui está um tema que me toca directamente. Às vezes parece que as universidade apenas se preocupam com a quantidade de licenciados que formam, ignorando a utilidade e a validade da formação que lhes dão. Quantos desses licenciados em cursos de humanidades (literaturas, sociologias, jornalismo) têm um canudo que não serve para nada? Eu tive a sorte de encontrar um emprego adequado; mas a maioria dos meus colegas não conseguiu. E que fazem as universidades para corrigir a situação? Lavam as mãos como Pilatos.
As nossas universidades ainda vivem num mundo corporativista. Lembro-me de ter tido cadeiras em que estas eram feitas de acordo com o professor sabia e não o que os alunos precisavam.
A falta de médicos com que nos debatemos é um exemplo de uma opressão corporativista sobre a restante sociedade.
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