segunda-feira, 15 de maio de 2006

Ainda os Bahá'ís no Médio Oriente

A propósito da tua frase "I don't understand why official ID documents on any country need to have religious identification of a citizen" aqui vão uns comentários:

Em Fevereiro estive no Bahrein, também achei a coisa mais estranha. Para renovar o visto tive que pôr a minha religião, não que me importe mas temi que não me renovassem o visto. Afinal o homem mal olhou para o papel, limitou-se a por o carimbo e passou o documento para o lado. Pensei em ir para a Arábia Saudita mas a Lua (a minha namorada) disse-me que como não tínhamos passaporte de países do Golfo, eles iam perguntar-nos a nossa religião, e quando disséssemos que éramos baha’is, não nos iam deixar entrar.

O Bahrein é um país de maioria xiita, mas a família real é sunita. No entanto não deixam entrar xiitas para o exército porque tem medo que aconteça o mesmo que aconteceu no Irão. Enfim foi a coisa mais estranha para mim, nunca me passou pela cabeça escrever a religião no bilhete de identidade ou descriminar alguém numa profissão por causa da sua religião ou seita.

Ainda quanto a assunto de discriminação religião, a Lua teve que aos 21 anos mudar o nome para "Tina" por causa do passaporte. A razão é que o governo iraniano não aceita nomes "baha'is" tal como Lua, Badi, etc… Ela nasceu no Bahrein e a mãe também; mas como o pai já veio do Irão, então ela e os irmãos são considerados iranianos e não Bahreinis.

A Lua disse-me que nas últimas 4 semanas, todos os sábados a Al-Arabiya tem feito uma reportagem/debates sobre a questão dos baha’is do Egipto, com entrevistas com o moderador, 2 baha'is e 2 pessoas da universidade de Azhar. Numa entrevista sozinho com o repórter, um clérigo disse que "os baha’is não acreditam em Deus" "são contra o Islão" que "são Alawyeen" (um grupo que acredita que o profeta era Ali e que Maomé usurpou-o). Nos debates dizem coisas como "Israel e América inventaram os baha’is e foi por isso que conseguiram o voto do tribunal" e que "os baha'is enviam todo o seu dinheiro para Israel", "os baha’is podem ter sexo com qualquer mulher menos a do pai e que isso é dito no Kitab-i-Aqdas". Nos debates os baha'is tentam se defender mas o debate não é organizado como a nossa televisão, e os as pessoas de Azhar começam a falar ao mesmo tempo e mudam logo de assunto com mais ataques. Entre outras coisas também disseram que "as mulheres baha’is dormem com vários homens" que "defendem a igualdade entre homem e mulher mas a peregrinação é só para homens", e que "nas festas de 19 dias os baha’is fazem sexo em grupo".

Pelo o que a Lua me disse, a maior parte dos muçulmanos (pelo menos no Egipto) não acredita naquilo; e depois do programa escrevem artigos para revistas e jornais sobre os baha'is, dizendo que tem amigos, vizinhos e até familiares baha’is e que são boas pessoas sem mal algum. E não "porcos anti-islâmicos" como o clero muçulmano quer fazer parecer.

(Iuri Matias)

13 comentários:

Anónimo disse...

Estou impressionado, é o que posso dizer!

É preciso estar-se muito atrofiado da cabeça para afirmar coisas como: "Israel e América inventaram os baha’is" ou "as mulheres baha’is dormem com vários homens", etc... é que nem a falta de informação justifica tal tipo de afirmações.
Isto faz-me me lembrar o filme "O Nome da Rosa", que revi há pouco tempo na televisão, com as cenas e esquemas maquiavélicos inventados pelos inquisitores.

Anónimo disse...

Num comentário anterior já havia manisfestado a minha repulsa por esta prática de alguns países exigirem que os cidadãos digam nos documentos oficiais qual a sua religião.
A religião é uma questão de consciência de cada um e sempre que o estado se mete só dá, desculpem a expressão, "merda".
A história é eloquente quanto a isto.
Quanto às barbaridades que alguns dizem sobre os bahais utilizando as calunias mais infames, isso é próprio de mentes doentes e só se revolve com tratamento psiquiatrico.
Curiosamente os países onde o sexo é mais reprimido é onde as pessoas são mais obcecadas por ele. Não é por isso dificil adivinhar que são aqueles que dizem essas coisas sem sentido dos bahais que têm umas mentes porcas fruto das frustrações que foram acumulando!

Marco Oliveira disse...

Já uma vez me tinham contado essa história do boato do "sexo em grupo nas festas de 19 dias".

O caso passou-se no Irão. Houve um baha'i já idoso que há muito vinha a falar da Fé Baha'i a uma mulher. ela estava cada vez mais receptiva à nova religião. Sabia muitas coisas e por vezes não escondia o seu entusiasmo quando se referia a Baha'u'llah ou a 'Abdu'l-Bahá.

Um dia o homem perguntou-lhe se ela queria ser baha'i, e ela, meio atrapalhada, perguntou:

- E depois como e que vai ser quando apagarem as luzes na Festa de 19 Dias?

O homem ficou estupefacto:

- Então ao fim deste tempo todo ainda acreditas nesses disparates?

Incrível, não é?

Anónimo disse...

Não sei, tudo tem uma explicação. Embora concorde plenamente com a ideia expressa aqui pelo João, da existência de um sexualismo doentemente reprimido na cultura islâmica, mas talvez haja mais qualquer coisa.
Será que para os muçulmanos mais ortodoxos, o facto de as mulheres bahá'ís não usarem o véu e terem uma posição igual há dos homens, é já por si como que um "acto sexual"?

Se compararmos a atitude comportamental e relacional entre homens e mulheres da comunidade muçulmana com a atitude bahá'í, é óbvio, que em termos relativos, a bahá'í é muito sensual. Falo em termos relativos, pois no ocidente, é bem possível que seja vista do modo completamente contrário.

É possível que gestos como o homem dar a mão a uma mulher, ou dançar, sejam considerados verdadeiros comportamentos sexuais por parte dos muçullmanos.

Não quero defender as atitudes ortodoxas da cultura muçulmana, mas tentar compreender o porquê destas ideias.

Anónimo disse...

Relativamente ao que escrevi queria só fazer uma ressalva, não meto todos os muçulmanos nem sequer todas as sociedades muçulmanas no mesmo saco, e quando eu digo que onde o sexo é mais reprimido é onde as pessoas são mais obcecadas por ele não é só em sociedades muçulmanas que isso se vrerifica.
Compreender os muçulmanos é antes demais compreender a diversidade que este conceito comporta, diversidade com a qual os fundamentalistas (de qualquer área) se dão mal. Acho que o grande combate do nosso tempo é a luta pelo direito à diferença e à coexistência pacifica das várias diferenças.

Anónimo disse...

Certo João, concordo.

Aliás, o mundo vive de modas, de fases em que predominam certo tipo de pensamento, comportamentos, etc.
As sociedades comportam-se, inconscientemente, como ovelhas dum rebanho, fazem aquilo que os "pastores", sejam eles os media, os politicos, o clero, as tradições, etc, lhe conseguem impor. Isso tem acontecido, em grande parte por incapacidade da maioria da população para viver de outra forma.

Mas com a evolução da humanidade a atingir a fase de maturidade, como é defendido nas Escrituras Bahá'ís, isso tende a desaparecer. Em breve, as pessoas deixaram de seguir as modas, cada vez mais pensarão com a sua cabeça e não com a dos outros, é isso que é estimulado pelos ensinamentos bahá'ís, por isso não há clero, por isso há imensa literatura escrita pelo próprio Manifestante Divino, e por isso é que o papel activo do crente nunca teve tanta significado como agora.

A individualidade, em oposição ao indidualismo, tomará forma no futuro presente e moldará uma sociedade mais humana. O potencial humano residente em cada ser humano será plenamente aproveitado, e finalmente vamos ter uma sociedade feita por todos para todos, e não só por alguns para alguns, por isso mais justa e mais humana. Isso é no fundo a paz.

Claro, receio que isso não vá acontecer ainda durante a minha vida, mas certamente os meus filhos viverão para ver esses dias.
Não obstante para que isso aconteça temos nós que começar já a plantar essa arvore, ainda que em plenitude não possamos colher os seus frutos.

Anónimo disse...

Pedro Reis,

Essa de não seguir os pastores é muito interessante. Mas acho que devias arranjar um pastor que te ensine a escrever português. E devias segui-lo cegamente. Pelo menos a avaliar por estas pequenas “pérolas” nos teus comentários:

…terem uma posição igual há dos homens…
Tens a certeza que aquilo é mesmo uma forma do verbo “haver”?

…pessoas deixaram de seguir…
Deixarão ou deixaram?

…tomará forma no futuro presente…
O que é um futuro presente? E o que significa? E será que também existe futuro passado?

Confessa, Pedro Reis: quando eras puto faltavas às aulas de português!

Começo a perceber cada vez melhor a ênfase que a vossa religião dá à necessidade de educação obrigatória!
Ah ah ah ah

Elise disse...

""os baha'is enviam todo o seu dinheiro para Israel""

infelizmente essas teorias da conspiração também se ouvem na Europa.

João Moutinho disse...

É só a Fé crescer em ritmo mais acelerado e vamos ouvir isso e muitas outras coisas mais.

Para já vamos ouvindo [ler] o GH, é para irmos treinando.

Anónimo disse...

GH,

O Marco em tempos também me atirou essa critica à cara, mas depois habituou-se. :-)

É, tens razão, as línguas não são o meu forte, nem a área de estudos que mais gosto, à excepção do russo, língua que consigo dominar e adoro, mas que invariavelmente também escrevo com imensos erros ortográficos.

A ajudar à festa, um trabalho onde tenho que falar em inglês, e uma mulher Estoniana, são tudo factores que não me ajudam a evoluir neste campo, se bem que a culpa é minha claro.

Digo-te, para o costume até foi um texto com poucos erros.

Agora que estava a pensar arranjar um pseudónimo, pois acho que ando a escrever muito neste blog! Enfim, já não vale a pena, pois depressa me identificavam pela minha escrita... ;-)

Grande abraço

Marco Oliveira disse...

GH,

O que o Pedro Reis escreve é verdade. Não adianta "picar" o homem por causa disso"
Com o tempo a gente habitua-se, e quase se esquece que ele escreve assim.
:-)

Elfo disse...

O amigo GH tem uma forma muito peculiar de comentar um post...?
Tive o privilégio de ter como Professor de semiologia do texto o Catedrático João Malaca Casteleiro, autor do último dicionário da língua portuguesa.
Dizia esse meu professor que não tinha grande importância o enfâse exagerado que se dá à palavra escrita, tendo esta chegado a raiar os mitos da erudição.
Pois é, é que isto da palavra tem que se lhe diga e os nossos jovens usam a chamada "novilíngua" que nós pobres e simples mortais já não dominamos de todo.
Posso pedir à minha filha que me faça a tradução deste texto em novilíngua e aposto que o amigo GH nem o cheira de longe,e,no entanto, ela move-se... não, não, me estou a referir à famosa frase de Galileu Galilei, estou a referir-me à língua a que nós pomposamente chamamos de materna...!?
Então o amigo GH quando fala com alguém define onde fica o ç ou o se, também define onde ficam os hifens, - são aqueles tracinhos que separam as palavras reflexivas -, ou também consegue na escrita dar um tom jocoso ou irónico sem ter de fazer malabirismos com as palavras, quando na fala comum um esgar ou um sorriso querem dizer tudo.
A comunidade dos falantes é muito mais rica do que a dos escreventes. Aliás os grandes filósofos da antiguidade, Sócrates e Platão, este último escrevia e Sócrates, ria-se dele por perder tempo escrever. quando o podia utilizar para pensar, não sabiam escrever e mesmo quando o sabiam fazer deixavam isso para os escrevedores ou modernanmente para os escribas e mais tarde para os amanuenses. Hoje chamam-lhes secretárias dactilógrafas.

É muito interessante porque estamos a aproximarmos da data da Declaração d'O Báb 22/23 de Maio de 1844 E.C ou 160 E.H., e, Este - não confundir com Éste, que por acaso também não leva acento -, foi acusado de não escrever segundo as regras mais ortodoxas da gramática árabe e do farsi ou persa antigo. Pois foi, criticaram um Manifestante de Deus e ninguém se lembra quem eram os críticos, no entanto, todos sabemos quem foi O Báb.

Amigo Pedro Reis nunca as mãos te doam de tanto escrever, pois há um estudo feito em Londres em que se prova que desde que a primeira letra e a última estejam certas todos entendem a palavra.

Anónimo disse...

So para esclarecer umas coisas:

o bahrain a nao ser na renovacao de visto, nao pede, tanto quanto sei, noutros documentos a identificacao da religiao. (noutros paises , principalmente arabia saudita ,yemen, egipto, etc.., ja nao e´ assim). porem xiitas vao a juizes xiitas e sunitas vao ao juizes sunitas, nesse caso tambem ha divisao.
No bahrain a mulher tem bastante liberdade e pode andar (teoricamente) como quiser, pelo o que percebi, as mulheres que usam abaya usam mais por moda do que outra coisa, embora as xiitas normalmente usam de forma a nao "modelar" as formas do corpo (as sunitas nem por isso).
Apesar disto ha alguns problemas como no caso do divorcio, nao ´e facil para uma mulher conseguir divorciar-se. ha um tempo atras o governo do bahrain tentou introduzir reformas que dava as mulheres direito de se divorciar e serem totalmente indepedentes aos 18 anos, porem devido a protestos , principalmente da populacao xiita , dizendo que era contra a sharia, o governo acabou por adiar as reformas.
o pais em si e´ bastante rico, nao ha impostos, a populacao vive geralmente bastante bem, a lingua oficial e' o ingles e cerca de um terco da populacao sao estrageiros, na maior parte indianos e filipinos (para mao de obra barata) mas tambem muitos europeus que normalmente trabalham em cargos de gestao.
A grande diferença que notei foi entre sunitas e xiitas, os primeiros parecem mais abertos e seguem o corao, os segundos parecem seguir mais o que os mullas lhes dizem, e nao sao tao instruidos, alias o "horrivel" ashura sao apenas os xiitas que o fazem.

O islao e´ uma religiao divina, nunca devemos confudir a religiao com os loucos terroristas que dizem pratica-la.