Aqui fica um excerto de um artigo intitulado Who are the Baha'is? e publicado hoje no Persian Journal. A comparação entre a situação dos Baha'is no Irão e a situação dos Xiitas no mundo islâmico sunita pareceu-me particularmente interessante. O autor parece querer dizer aos xiitas iranianos: "Não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti!"
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Fontes governamentais do regime islâmico do Irão, e membros de grupos anti-baha'i no Irão, há muito que acusam os Baha'is de distorcer a religião do Islão. Também afirmam que os Baha'is têm agido como instrumentos de potências estrangeiras no Irão. Claro que, no que toca à primeira acusação, os próprios xiitas são alvo da mesma acusação por parte da maioria dos muçulmanos que é sunita. Muitos sunitas nem sequer aceitam os xiitas como seguidores do Islão.
Sobre a segunda acusação, o aspecto interessante é que os Baha'is têm sido acusados de serem no Irão aliados dos britânicos, dos americanos e até dos russos. A vasta gama de acusações revela a sua inconsistência. A verdadeira razão da hostilidade dos governos islâmicos – especialmente o regime iraniano – contra os baha'is foi explicada por Bernard Lewis, o famoso filósofo, que disse : "... a piedade muçulmana e as autoridades islâmicas sempre tiveram grande dificuldade em acomodar religiões monoteístas pós-islâmicas como os Baha'is... a sua própria existência representa um desafio à doutrina islâmica da perfeição e término da revelação de Maomé".
Também no mesmo contexto, um relatório do departamento de Estado norte-americano de 2004 afirmava: "Os Baha'is são considerados apóstatas porque afirmam possuir uma revelação divina posterior à do Profeta Maomé. O Governo definiu a fé Baha'i como uma seita política ligada à monarquia Palevi e, consequentemente, contra-revolucionária. Historicamente em risco, os Baha'is têm cada vez maior opressão nos momentos de instabilidade política. Os Baha'is não ensinam nem praticam a sua fé, nem mantêm contactos com correligionários no exterior. O Governo continua a deter e encarcerar Baha'is devido às suas convicções religiosas. Um relatório de 2001 do Ministério da Justiça indicava que a política do governo se devia orientar para a eliminação dos Baha'is enquanto comunidade".
É interessante notar que os xiitas de uma forma geral têm a mesma situação no mundo islâmico que os Baha'is têm sob o regime islâmico do Irão. O regime ideológico islâmico está refém de certos princípios que considera ser a verdadeira interpretação do Islão. Esta interpretação é apenas uma de muitas interpretações do Islão (e estas, no espectro político, podem ir da extrema-esquerda até à extrema-direita) e existe uma grande número de apoiantes de outras interpretações que não aprovam - e até odeiam - os xiitas.
O regime islâmico do Irão tem um ódio especial pelos baha'is. Mas este não é um sentimento recente; pelo contrário, tem uma história maior do que o actual regime iraniano. Não são verdadeiramente importantes as afirmações dos Baha'is sobre a sua religião e sobre o rumo da história estar certo ou errado. A validade destas afirmações é igual à de outras afirmações de outras religiões e seus ramos. A resposta do regime iraniano e de todos aqueles que perseguem os Baha'is no Irão devido às suas convicções religiosas tem sido sempre uma violação de direitos humanos e deve ser condenada como tal. Aqueles iranianos sentem um tipo de hostilidade sem fundamento em relação aos Baha'is e aqueles que pensam que os Baha'is são uma desgraça para o Islão xiita deviam parar e pensar na situação dos xiitas no mundo islâmico. 90% dos Muçulmanos (sunitas) pensa exactamente a mesma coisa dos xiitas.
O povo do Irão deve saber que as "matanças de baha'is" (assassinato de homens, mulheres e crianças baha'is), sob a orientação e ordens dos Mullahs do Irão, enquanto um forma de genocídio silencioso, foi um dos mais negros capítulos da história iraniana. Os iranianos devem condenar esses crimes hediondos, expressar o seu pesar e preparar-se para pedir desculpa.
15 comentários:
Epá!
Eu ainda não percebi bem como funciona a repressão, a falta de liberdade de expressão, e coisas do género sob regimes totalitários, assim como nós tinhamos antes do 25 de Abril. É a falta de experiência... e ainda bem.
Como é que um jornalista escreve estas coisas e não sofre consequências? Ou se calhar sofre! De uma ou de outra forma é de louvar a coragem destes profissionais que não obstante sob o risco de represálias escrevem um artigo destes.
Ah espera, o Persian Journal não é editado no Irão?!
Essa do jornal ser ou não impresso no Irão também me intriga.
Mas voltando à persegição movida aos Bahá'ís.
Por ironia do destino, quando um ocidental de tradição cristã aceita a Fé Bahá'í reconhece Maomé como Mamifestante e Deus e a linha xiita como a legítima dentro do Islão.
Expliquem-me lá isso de um ocidental aceitar a linha xiita como legitima dentro do islão...é a primeira vez que oiço tal coisa!
João
Pede ao Marco para te explicar porque daqui a nada já ninguém me pode "ouvir".
Eu não tenho que justificar as afirmações do J. Moutinho.
Ele que se amanhe! :-)
Alem disso hoje estou cheio de trabalho.
Gente qual é a intriga? Um jornal que escreve: "King of Kings Mohammad Reza PAHLAVI I" terá sido impresso no Irão?! E ainda mais em inglês?!!! Vão lá ao site e certifiquem .
E acerca da pergunta do João devo dizer que não me parece haver algo complicado – olha que eu já estou virando perita neste assunto!!!
Para se tornar bahá'í tem que aceitar todas as outras religiões do passado como sendo verdadeiras, certo?
No entanto cada religião tem as suas divisões ou seitas, as quais nós chamamos erradamente por religião, e a fé baha'i aceita a seita xiita como sendo legítimo, a verdadeira no Islão, certo?
Foi simples. Não foi?
O que vale é a Daniela para salvar a situação.
Só mais uma achega. Para os Bahá'is os legítimos sucessores de Maomé eram os Seus descendentes, através de Fátima, e de Ali, seu genro e primo, o primeiro Imame.
Ora, os que reconhecem os Imames como seus legímos sucessores são os xiitas.
O grupo maioritário dentro Islão são os sunitas que apenas vêem Ali como o quarto califa e não reconhecem autoridade nos outros Imames.
Todos os Imames vieram a ser martirizados.
Para mais informações:
http://bahaieislao.blogspot.com/2006_10_01_bahaieislao_archive.html
Então a fé bahai não se limita a aceitar todas as religiões anteriores mas aceita também as seitas e divisões dentro dessas religiões?
Desculpa lá Marco, eu sei que tens muito que fazer mas este assunto tem que ser esclarecido...
João,
Eu sei que perguntaste ao Marco mas vou-te responder.
Aceitamos as Revelações anteriores como divinas mas reltivamente à sua posterior multiplicação de seitas não conheço a legitimação ou condenação de nenhuma delas, isto nas Religiões anteriores ao Islão.
Neste último caso é crença de os Bahá'ís que Maomé pretendia que Ali fosse o Seu sucessor. No entanto, não deixou nenhum documento escrito. A razão disso pode-se prender com o facto de aquela comunidade islâmica primitiva não estar preparada para tal mas é inequívoca a nossa crença nos "sagrados Imames".
É na Fé Bahá'í que se vai cumprir a profecia de Jesus relativa a "um sórebanho e um só pastor", tal deve-se à maturidade que a humanidade conseguiu alcançar no Presente.
Obrigado pela resposta João Moutinho, mas para melhor compreensão deixa-me pôr-te a questão noutros termos:
Para os bahais Ali é um mensageiro de Deus ou não? Se a resposta for não acho que não faz qualquer sentido um bahai aceitar ou deixar de aceitar a linha xiita. Se for sim é para mim uma grande surpresa!
Caros JM e Marco, se me tivessem dito que aquilo era mentira ou «photoshop» eu entenderia os vossos argumentos, mas dizerem que é circo e espectáculo só piora. Não percebo quem se possa divertir a ver um miúdo a ser garroteado para lhe passarem com um pneu de viatura por cima do braço! É intolerável que tratem assim as crianças… ou não tarda estão a dizer que a casa pia era um espectáculo português. O que eu vejo naquelas imagens é violência e maus-tratos a uma criança iraniana. Justiça ou espectáculo? Quero lá saber, para mim não é uma coisa nem outra. Só sei que é repugnante que crianças tenham uma infância assim. Fiquei espantado com o facto de negligenciarem isso nos vossos comentários.
Não, Ali não é um Mensageiro de Deus. Se assim fosse teria de fundar uma Nova Religião.
Escrevi que ele era o sucessor de Maomé mas isso de forma alguma lhe dá o estatuto de Mensageiro.
Ali é um Imame o que lhe dá um estatuto acima de um ser humano comum mas elevá-lo ao de Maomé seria blasfémia. Isso não impede que ele seja o sucessor do Apóstolo de Deus [Maomé] porque a sua autoridade é conferida mas a de Maomé, tal como a de Jesus, Buda ou bahá'u'lláh é da Sua Natureza.
Vejamos, presentemente o Corpo Máximo da Fé Bahá'í é constituído por nove pessoas mas não passa pela cabeça de ninguém dar-lhes um estatuto muito acima de um qualquer mortal.
Sobre o que é que o Sliver está a falar?
"...miúdo a ser garroteado..." ???? Onde? é notícia do jornal?
Silver,
Se naquelas fotos tu vês “violência e maus-tratos a uma criança”, então era isso que devia ser o tema do teu post. Se tens referido que era um caso de maus tratos a crianças eu não via qualquer motivo para contrapor qualquer argumento; quem se pode gostar de um espectáculo daqueles?
A verdade é que preferiste referir a justiça iraniana como responsável por aquilo.
Eu também já recebi um mail com aquelas fotos e um titulo que dizia que era a justiça iraniana; achei estranhas as fotos, e depois pude confirmar que se tratava de um espectáculo repugnante.
Continuo a pensar que tens tanta vontade em denunciar os crimes dos fanáticos islâmicos que acreditas em tudo. Não pode ser assim. Não se podem misturar as verdades com os boatos ou o “diz que disse”...
João,
Quando na religião bahá’í se afirma que Ali é o legítimo sucessor de Maomé ou que Pedro foi o legítimo sucessor de Cristo, isso não pode entendido como significando que hoje os xiitas estejam mais correctos que os sunitas ou que os católicos estejam mais próximos da verdade do que protestantes ou ortodoxos.
Para mim, entendo isso como um pormenor da história dessas religiões. Tratam-se de processos de sucessão de autoridade que não estão documentados de forma clara e inequívoca (ao contrário do que acontece entre os bahá’ís).
Pois, eu sempre pensei que isso fosse um problema dessas religiões, agora que a fé bahai tomasse posição sobre a legitimidade ou ilegitimidade quanto às divisões das outras religiões, sinceramente não compreendo que sentido isso faça!
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