sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Meng Zhu



«Todo o homem possui um coração que reage ao intolerável. Suponham que algumas pessoas vêem uma criança prestes a afogar-se num poço: elas terão todas uma reacção de medo e de empatia que não será motivada apenas pelo desejo de se manterem de boas relações com os pais dessa criança, pela vontade de adquirirem uma boa reputação junto dos seus vizinhos e amigos ou pelo incómodo que lhes possam causar os gritos que ela solta.

Parece pois que, sem um coração que se compadeça dos outros, não se é humano; da mesma forma, sem um coração capaz de determinar a vergonha de uma má acção, não se é humano; sem um coração marcado pela humildade e pelo respeito, não se é humano; sem um coração que distinga o verdadeiro do falso, não se é humano.

Um coração que se compadece é o germe do sentido do humano; um coração que reconhece a vergonha é o germe do sentido do justo; um coração capaz da humildade e do respeito é o germe do sentido do religioso; um coração que distingue o verdadeiro do falso é o germen do discernimento. O homem possui nele estes quatro germes, da mesma forma que possui os seus quatro membros.

Porém, possuir estes quatro germes e dizer-se incapaz de os desenvolver é fazer mal a si mesmo. E todo aquele que seja capaz de os desenvolver ao máximo será como o fogo que abrasa ou como a fonte que jorra. Seja ele capaz de os desenvolver e poderá ver-lhe confiados os destinos do mundo; mas se for incapaz, nem mesmo os nomes do seu pai e da sua mãe poderá honrar.»

Meng Zhu, latinizado como Mencius, c.372-c.289 a.n.e. (Livro dos Livros)

(Tradução de Rui Bebiano)

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