quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Epicuro
«O prazer é o começo e o termo de uma vida feliz. Com efeito, é ele que nós podemos reconhecer como o maior dos bens, conforme com a nossa natureza, é dele que partimos para determinar aquilo que é preciso escolher e o que devemos evitar, é a ele que, finalmente, recorremos quando nos servimos das sensações como uma das formas de apreciar todo o bem que se nos pode oferecer.
Ora, precisamente porque é o prazer o nosso principal bem inato, jamais deveremos procurar usufrui-lo na totalidade. Assim, existem casos nos quais nós renunciamos aos grandes prazeres se, para nós, deles resultarem o tédio e a preocupação. E poderemos mesmo considerar certas dores preferíveis aos prazeres sempre que, a partir dos sofrimentos que nos foram endurecendo ao longo dos anos, delas para nós puder resultar um prazer mais elevado.
Todo o prazer é assim, pela sua própria natureza, um bem. Mas prazer algum deverá ser procurado só por si. Paralelamente, a nossa dor é um mal, mas não deve ser evitada a qualquer preço.
Em qualquer caso, convém decidir sobre tudo isto comparando e examinando com atenção o que é útil ou nocivo, uma vez que, muitas vezes, agimos diante de um bem como se ele fosse um mal, e diante de um mal como se ele fosse um bem.»
Epicuro de Samos, 341–270 a.n.e. (Carta a Meneceu sobre a Moral)
(Tradução de Rui Bebiano)
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4 comentários:
Mas este Epicuro não é o "Pai" do ateísmo.
É bem mais do que isso!
Eu sou um grande fã do Séneca, e por conseguinte da corrente estóica, a qual era rival do epicurismo por ser algo antagónica. Séneca era um crítico acérrimo de Epicuro, nomeadamente no tocante à questão de ambicionar o prazer como defendido pelos epicuristas, embora no livro Cartas a Lucilio, (que eu recomendo vivamente a ler e que se pode comprar na Gulbenkian, edição Gulbenkian) Séneca recorra frequentemente a citações de Epicuro para demonstrar ao seu discípulo Lucílio conceitos filosóficos.
Este livro, 'Cartas a Lucilio' foi durante muito tempo o livro da minha vida, aconselho-o vivamente a ler.
Boa escolha Marco - e não está relacionado com as opiniões religiosas do autor.
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