domingo, 9 de dezembro de 2007
Não houve tabus!
Na Cimeira UE-África, os direitos humanos no Zimbabwe e conflito no Darfur foram frequentemente referidos nas intervenções públicas ou nas sessões plenárias e tratados como exemplos do que deve ser urgentemente resolvido no continente africano. José Sócrates foi inequívoco e afirmou que os Direitos Humanos "não são património de nenhum continente mas de toda a humanidade", têm de estar "no centro da nossa estratégia comum".
Também Angela Merkel referiu que os Direitos Humanos têm um carácter universal, não os há europeus ou africanos, simplesmente têm que ser respeitados. Segundo a chanceler alemã, “Não podemos olhar para o lado quando os direitos humanos são pisados seja onde for”; acrescentou ainda que “Direitos humanos e boa governação são fundamentais para o sucesso económico e para o desenvolvimento. Isto é o mais importante tanto na Europa como em África”.
Fiquei satisfeito com a intervenção destes dois governantes europeus. Não rodearam as questões, nem estiveram com floreados. Estivem bem melhor do que o primeiro ministro britânico, Gordon Brown, que se recusou estar na presença de Robert Mugabe, apesar de há algumas semanas atrás ter recebido em Londres o Rei Abdullah da Arábia Saudita.
Ainda bem na cimeira de Lisboa que não houve temas tabu. É bom que as coisas se digam com frontalidade, mesmo que isso incomode alguns ditadores. E é importante que todos os ditadores sejam confrontados com a dura realidade que vivem os seus povos. Aos que argumentam que isto foram apenas palavras, pergunto: "Preferiam que estes temas não tivessem sido mencionados?"
É que para resolver qualquer problema temos de começar por falar.
Talvez a única crítica que se possa fazer é o facto do Zimbabwe e do Darfur concentrarem a atenção dos governantes e dos media quando se fala de Africa. Muitas outras situações (entre as quais a situação dos direitos do baha'is no Egipto, é um pequeno exemplo) poderiam ter sido abordadas.
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4 comentários:
Olá, só queria comentar a parte da comparação (embora indirecta) do Mugabe com o rei Abdullah, penso que é uma comparação injusta, pois o Robert Mugabe é sem duvida o grande responsável pela situação actual no Zimbabwe. O caso do rei Abdullah já não é tão simples, ele não causou a situação actual na Arábia Saudita, já estava assim antes de tomar o poder.
Podemos perguntar-nos porque ele não faz reformas para ,por exemplo, aumentar a liberdade e os direitos da mulher? será assim tão fácil? Com o enorme poder que o clero tem na arábia saudita? Com a enorme facilidade que a população é manipulada? Veja-se no caso no Bahrain , que sei por experiência que é um pais bastante aberto apesar da maioria xiita, O Rei do Bahrain tentou passar uma nova lei para igualar os direitos da mulher em matérias como casamento, divorcio, etc.. o resultado? protestos em larga escala que obrigaram o governo a retirar a lei...
Pelo menos as mulheres lá podem votar (apesar de na altura que esse direito foi dado, 60% das mulheres era contra)
As coisas não são assim tão preto e branco, penso que se este rei pudesse, ele mudaria a situação, mas não é assim tão simples, mas isso naõ faz dele nenhum Robert Mugabe
Não houve tabus, mas houve prioridades.
Achei engraçado a resposta do Sr. Primeiro-Ministro Sócrates, quando, na conferência de imprensa fala no Darfur.
Não sei... talvez haja coisas que eles nem sequer saibam. Enquanto não houver secretários de Estado (no mínimo) responsáveis exclusivamente pela questão dos Direitos Humanos, as informações e relatórios publicados sistematicamente pelo HRW, AI, MSF, e afins não chegarão aos ouvidos dos líderes decisores.
Era a Somália, o Egipto, o Chad, o Zimbabue, a lista não termina...
Realmente é pena que não se fale de tudo e olhem que a questão religiosa é a ponta do iceberg... Mas noutra nota mais próxima de casa... agora já não tenho presente a documento mas penso que li há uns tempos o registo das violações portuguesas dos direitos humanos registado pela amnistia internacional e olhem que não era motivo de orgulho para ninguém.
Pedro,
Em Portugal também há violação de Direitos Humanos. Sabemos disso. Ninguém se orgulha disso, ninguém fica indiferente a essas acusações.
A grande diferença é que essas violações de Direitos Humanos não são encorajadas pelo Estado e dirigidas a um grupo social específico.
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