quinta-feira, 6 de março de 2008

A qualidade da Comunicação Social



A qualidade da Comunicação Social é frequentemente posta em causa. O fenómeno não é recente, nem exclusivamente português. Provavelmente é tão antigo quanto a própria Comunicação Social. Há cerca de cem anos atrás Gandhi percebeu este problema; e também compreendeu que teremos de viver com ele:
A imprensa é uma grande força, mas, assim como um torrente descontrolada de água submerge paisagens inteiras e devasta plantações, assim também uma pena descontrolada só serve para destruir. Se o controlo for externo, torna-se mais venenoso do que a falta de controlo. Só pode ser vantajoso se exercido internamente. Se esta linha de raciocínio for correcta, quantos jornais do mundo passariam pelo teste? Mas quem poria fim aos inúteis? E quem deveria ser o juiz? Os úteis e os inúteis, assim como o bem e o mal de forma geral, têm de continua a existir juntos, e o ser humano tem de fazer a sua escolha.[1]
No sec. XIX, Bahá'u'lláh , o fundador da religião bahá’í também percebeu o potencial da imprensa. Ao referir-se a um jornal turco que O caluniava, escreveu:
As páginas de jornais que surgem subitamente são, em verdade, o espelho do mundo. Reflectem os feitos e as preocupações dos diversos povos e raças - reflectem e também os dão a conhecer. São um espelho dotado de audição, visão e expressão oral. É este um fenómeno poderoso e espantoso. Cumpre a seus redactores, porém, purificarem-se dos impulsos das paixões e desejos malignas e adornarem-se com as vestes da justiça e equidade. Devem investigar as situações, tanto quanto lhes seja possível, certificando-se dos factos, e então registrá-los por escrito. [2]
Não conheço nenhum jornalista que goste de fazer um mau trabalho. Mas conheço jornalistas cujos patrões não se regem por valores éticos, mas apenas pelo lucro; muitas vezes são esses patrões os principais responsáveis pela qualidade do trabalho que os jornalistas produzem. Neste aspecto as palavras de Gandhi parecem actuais. E as palavras de Bahá'u'lláh bem poderiam ser o mote para um código de ética da comunicação social.

--------------------------------------------------
NOTAS
[1] – Mahatma Gandhi, A Minha Vida e as Minhas Experiências com a Verdade, p.264
[2] – Epístolas de Bahá'u'lláh, Tarazat

2 comentários:

Anónimo disse...

É assustador e preocupante o diário bombardear de notícias feitas por supostos jornalistas. Estes têm (ou deveriam ter!) a responsabilidade de se cingir ao tema publicado com total imparcialidade e só após meticulosa investigação e apurada a sua veracidade. Confundindo este papel, tornam-se meros “fazedores de opinião” (de qualidade duvidosa).
Neste grupo também se enquadram (alguns) “pivots”, que transmitem as notícias de forma muito “pessoal” (um franzir de sobrolho, um apontar do indicador, uma modulação de voz, consoante a circunstância) e entrevistadores que quase batem nos entrevistados.
Responsabilidade exclusiva das chefias? Hummm…
Sede de protagonismo? Hipótese não descartável!
Falta de ética e princípios que deviam estar na primeira linha? Muita, sem dúvida!
Este novo “poder” tem uma excelente oportunidade de “elevar” o público, tornando-o mais positivamente informado, mais construtivo, mais são. Deve contrariar o fomentar de mesquinhices e pequenezas, a custo de sensacionalismos estéreis. Tem um espaço privilegiado para contribuir para a evolução de uma sociedade, tornando-nos a todos melhores.

Marco Oliveira disse...

entãoéassim,

Sabes quanto ganha um jornalista estagiário na TSF (onde vai estar essencialmente a fazer "noites")?

250 Euros! É pegar ou largar. O que não faltam aí são jornalistas desempregados.

Isto apenas para exemplificar como muitas vezes os jornalistas têm de se sujeitar a fazer o que as chefias exigem. São raros os que têm espaço para protagonismo.