segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Quanto vale uma confissão obtida na sinistra prisão de Evin?



Agências noticiosas com a Reuters e AFP deram ontem a conhecer que segundo o jornal iraniano Resalat, o grupo de sete bahá'ís detidos pelas autoridades iranianas tinham confessado ter estabelecido uma organização ilegal com ligações a Israel e a outros países, cujo objectivo era minar o sistema Islâmico. O jornal citava uma fonte de um Tribunal Revolucionário (que geralmente tratam de assuntos de segurança nacional) dizendo que os sete detidos tinham confessado, facto que justificava a sua detenção. Não houve qualquer comentário oficial por parte das autoridades iranianas.

A Comunidade Internacional Bahá'í reagiu de imediato a estas notícias negando veementemente qualquer sugestão de que os Baha’is iranianos estejam envolvidos em qualquer actividade subversiva. "A comunidade Baha’i não se envolve em actividades políticas; o seu único «crime» é praticarem a sua religião. A gravidade das acusações faz-nos temer pela vida destes sete indivíduos."

Bani Dugal, a porta-voz da Comunidade Internacional Baha’i, voltou a esclarecer que os sete Baha’is detidos eram membros de uma Comissão que supervisiona as necessidades dos 300.000 Baha’is no Irão. "As sugestões de conluio com o Estado de Israel é categoricamente falsa e enganadora. As autoridades iranianas jogam com o facto do centro administrativo mundial baha’i estar situado no norte de Israel", afirmou.

"O governo iraniano ignora completamente o facto histórico bem conhecido da Fé Baha’i ter estado centrada no Irão até 1853, altura em que as autoridades expulsaram o profeta fundador da religião Bahá'í, forçando-o a um exílio e posterior encarceramento em Akká (Acre), nas costa oriental do Mediterrâneo, sob domínio do regime turco Otomano. Essa região hoje é parte do Estado de Israel", acrescentou a Srª Dugal.

COMENTÁRIO: Mais do que a crueldade da situação, espanta-me a ingenuidade com que as autoridades iranianas têm tratado todo este caso. Primeiro insinuaram que os baha’is estavam envolvidos num atentado bombista em Shiraz; acabaram por esquecer essa acusação quando um grupo sunita reivindicou o ataque. Depois, afirmaram que os sete bahá'ís detidos constituíam uma ameaça à segurança nacional; mas nunca apresentaram em público qualquer prova, ou evidência (nem se deram ao trabalho de falsificar provas ou criar sites anónimos na Internet que sustentassem as acusações). Agora cria-se uma fuga de informação, onde uma acusação se baseia em supostas confissões obtidas na prisão de Evin.

Mas quanto vale uma confissão obtida na sinistra prisão de Evin? E que isenção se pode esperar do sistema judicial de um país cuja constituição priva, explicitamente, de quaisquer direitos civis os membros da maior minoria religiosa?

É evidente que a situação deste sete detidos é muito grave. E a prova disso é que outras notícias vindas do Irão dão conta da execução de uma mulher acusada de ter ligações a Israel. Uma acusação semelhante à que é feita agora contra estes sete baha’is detidos.

----------------------------------------------------
Sobre este assunto:
Report says Iran accuses arrested Baha'is of Israel links (IHT)
Report says Iran accuses arrested Baha'is of Israel links (Reuters)
Baha’is reject allegations of subversive activity in Iran (BWNS)
Baha'i believers set up organisation connected with Israel in Iran - report (GulfNews)
Iran alleges Israeli-Baha’i link (MNBR)
Iran claims Baha’i confession (The National)
Iran: Baha'is confessed to taking orders from Israel (Haaretz)
Irán: acusan a Bahais de vínculos con Israel (Aurora)
La Comunidad Bahai internacional negó las acusaciones en su contra sobre complotar contra el régimen iraní (AJN)

5 comentários:

Anónimo disse...

Caro amigo li o seu post e li também alguns artigos sobre este assunto nas outras línguas e tenho conhecimento de alguns casos destas "confissões", o mundo sabe que os bahá'ís não participam em politica e estar seguro deste facto nem as organizações mundiais, nem os próprios iranianos e nem qualquer pessoa que tenha o mínimo conhecimento sobre bahá'í acredita nesta confissão por tanto o facto é que estes sete pessoas tiveram sempre ligação com o mundo de fora seja a nível familiar ou religiosa e podem até ter confessado que tiveram contactos com o Centro Mundial Bahá'í, o que de facto é uma evidencia.
Eis o factor muito preocupante: num país onde os activistas políticos são condenados a morte sob acusação de tráfico de drogas e vandalismo, os religiosos da minoria, as mulheres, os estudantes e activistas dos direitos humanos são condenados como sendo ameaças à segurança nacional e terroristas...
É comum, absolutamente comum acontecer este tipo de atrocidades…infelizmente!!!
Maria

Anónimo disse...

Quando penso que regimes ditatoriais como Cuba ou o Vietname aceitam os baha'is (e percebem perfeitamente que eles não se envolvem em política!), concluo que o que acontece aos Baha'is em países islâmicos é algo que se pode resumir a duas palavras: perseguição religiosa.

Carlos Esperança disse...

Quero manifestar a todos, em especial ao Marco Oliveira cuja carta li hoje no DN, o testemunho da minha solidariedade.

Já dei público testemunho do meu repúdio, no Diário Ateísta e no Ponte Europa, por mais um acto de criminosa intolerância.

Carlos Esperança

Anónimo disse...

É tão certo terem confessado como renegarem a sua religião!!!
Que Deus os proteja.

Marco Oliveira disse...

Muito obrigado a todos.
Gostava que os media portugueses dessem alguma atenção a este facto... mas enfim.