quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Richard Dawkins e A Desilusão de Deus (5)

RELIGIÃO: PLACEBO OU MEDICAMENTO?

No livro "A Desilusão de Deus" ("Deus, um delírio", na edição brasileira) o Prof Richard Dawkins defende que "o poder que a religião tem de consolar não a torna verdade" (p. 415) e estabelece uma curiosa comparação entre a religião e os placebos.
Parte do que um médico pode dar a um paciente é consolo e confiança. Ora isto e algo que não deve ser posto de parte sem mais nem menos. O meu médico não pratica literalmente a cura pela fé, através da imposição das mãos, mas muitas foram as vezes em que me senti instantaneamente «curado» de pequenos males por uma voz tranquilizadora que vinha de um rosto ladeado por um estetoscópio. (...)

Será a religião um placebo que prolonga a vida ao reduzir o stresse? Talvez, embora a teoria tenha de se submeter ao severo crivo dos cépticos que chamam a atenção para as muitas circunstâncias em que a religião provoca mais stresse do que aquele que liberta. (p.206-207)
Esta comparação, só por si, é redutora pois ignora outras características da religião, nomeadamente o seu poder transformador a nível individual e social. Certamente que o Prof. Dawkins não ignora que os ensinamentos possuem esse potencial; é interminável a lista de pessoas que inspiradas por ideais religiosos deram um contributo positivo para a humanidade.

Mas o curioso desta comparação feita pelo biólogo britânico reside no facto de Bahá’u’lláh descrever os Mensageiros de Deus com médicos divinos:
Os Profetas de Deus devem ser considerados como médicos cuja tarefa consiste em promover o bem-estar do mundo e dos seus povos, para que, através do espírito da unidade, possam curar a doença de uma humanidade dividida. (SEB, XXXIV)

O Médico Omnisciente tem o Seu dedo no pulso da humanidade. Ele compreende a doença e receita, com a sua infalível sabedoria, o remédio. Cada era tem o seu próprio problema e cada alma a sua especial aspiração. O remédio que o mundo necessita nas suas aflições actuais não pode ser, jamais, o mesmo que foi necessário para uma era anterior. (SEB, CVI)

Considerai o mundo como o corpo humano, o qual, apesar de na sua criação ter sido total e perfeito, tem sido afligido, por várias motivos, com graves perturbações e doenças. Nem por um só dia obteve sossego; pelo contrário, a sua doença tornou-se mais grave, pois foi sujeito ao tratamento de médicos ignorantes, que se entregaram plenamente aos seus desejos pessoais e erraram de um modo lastimável. E se, numa ocasião, através do cuidado de um médico competente, um membro desse corpo foi curado, os outros continuavam aflitos como antes. (SEB, CXX)
Assim, diria que cada Mensageiro tem os medicamentos adequados à época em que aparece. Os "medicamentos" receitados para épocas anteriores não dão os necessários aos dias de hoje; os seus efeitos poderão ser parciais, nulos ou até indesejáveis. Em alguns casos poderão ter apenas o efeito de um placebo.

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