quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Sobre o conflito na Geórgia

Muitos analistas, comentadores e outra intelectualidade "bem-pensante" que nunca ouviram falar da Geórgia olham para o conflito militar naquele país como um simples confronto entre David e Golias. Não obstante essa confessada ignorância, não hesitam em expressar a sua solidariedade para com a pequena Geórgia, agora destruída pela poderosa máquina de guerra russa (este post de Fernanda Câncio é um excelente exemplo disso).

Claro que qualquer pessoa minimamente informada conhece os tiques imperialistas do actual regime russo: os abusos dos direitos humanos, os ataques à liberdade de imprensa, as nunca esclarecidas relações entre grupos políticos e grandes empresam, os massacres na Tchetchénia…

Mas será isso suficiente para expressar solidariedade com a Geórgia? Veja-se o que afirma o Relatório do Departamento de Estado Norte-Americano sobre os Direitos Humanos na Geórgia (2007). Veja-se o que afirma uma organização como a Human Rights Watch sobre os Direitos Humanos naquele país! Vejam como o Fórum 18 descreveu a situação da liberdade religiosa sob aquele regime.

Afinal, quando dois malfeitores lutam entre si, fará sentido expressar solidariedade por algum deles? Pela minha parte, a solidariedade vai apenas para os civis inocentes apanhados no meio do conflito.

8 comentários:

Anónimo disse...

Marco, certamente que há culpados de um lado e outro e ninguém é inocente nesta guerra (tirando os civis apanhados no meio dela , claro!), mas quando a Russia deixa as fronteiras da Ossétia e entra pela Georgia dentro, isso é uma agressão de tal forma clara que tem que ser condenada sem qualquer margem de hesitação. Pasmo quando vejo alguns comentadores dizerem que aquela àrea está na zona de influência da Russia, como se fosse normal eles porem e disporem de tudo que aí se encontra! Mais uma machadada no direito internacional a juntar àquelas que os USA deram de forma tão flagrante nestes ultimos tempos e que lhes retira qualquer credibilide das suas palavras serem levadas a sério por alguém neste momento!

Marco Oliveira disse...

João,
Estas sucessivas violações do direito internacional são um sinal de que esta Ordem Mundial já não serve os interesses da humanidade. A ONU é um mero palco de debate (e troca de acusações) sem qualquer poder real. O que se impõe é apenas o interesse egoísta das nações mais poderosas.

Palavras para quê? Precisamos é de uma Nova Ordem Mundial, porque esta já deu o que tinha a dar!

Orlando Braga disse...

Meu caro: Vc pensa com o coração. O que está em causa é do Direito Internacional, e não a carta dos Direitos Humanos. Confundir as duas coisas é pensar com o coração. é claro que os direitos humanos devem ser totalmente aplicados na Geórgia. Mas isso não pode justificar uma invasão russa ao arrepio não só da comunidade internacional, como do próprio direito internacional.

Anónimo disse...

Observação:

É curioso que a Russia não dá ouvidos aos Estados Unidos, nem aceita qualquer critica destes argumentando que é inaceitável vindo de um pais que invadiu o Iraque. Por outro lado, a Russia dá ouvidos à união europeia, o "high ground" moral parece ser agora ocupado pela europa, que sem recorrer ao uso da força acaba por fazer mais pela paz e democracia no mundo do quem o tenta fazer pela força.

Orlando Braga disse...

Errata: Iuri

O Iraque foi invadido pelos EUA, Reino Unido e Espanha. Mais tarde, juntara-se forças da Polónia, Geórgia, e de outros países de que não me lembro agora. É preciso dizer a verdade, embora a verdade chateie a malta.

Marco Oliveira disse...

Orlando,
O que eu critico é a “beatificação política” do regime georgiano. E afirmo que é tão quanto o regime russo. E não percebo tanto comentário desinformado nos media a este respeito. Foi por isso que coloquei aqui os links.


Iuri:
Eu não compararia este caso com o Iraque, mas sim com o da Sérvia-Kosovo.

A Sérvia perseguiu e hostilizou uma minoria étnica/religiosa numa província do seu território. A Geórgia fez o mesmo. Os povos dessas províncias reclamam autonomia/independência.

A intervenção russa na Geórgia difere da intervenção Ocidental no Kosovo, pois neste último caso houve uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que a aprovou.

Anónimo disse...

Eu não estava a comparar a Georgia do iraque, só estava a fazer uma observação: que os estados unidos perderam a credibilidade no mundo e que o "high ground" moral parece ser agora ocupado pela europa

Anónimo disse...

Deixem-me lá ser mauzinho, só desta vez.
Então enquanto Pequim ensinava ao resto do mundo como é que se abriam uns Jogos Olímpicos, com aquele espectáculo de luz, som e cor, os russos aproveitaram o barulho das luzes e e despejaram também umas bombitas sobre uns alvos estratégicos que estavam mesmo a "pedi-las"... e o mundo a olhar para Pequim. só Pedro o Grande tinha usado esta estratégia antes..., mas que resultou, resultou. Mas então a Geórgia não foi levada ao colo pelos USA ? Chatice, a Rússia parece que ainda mexe, parece que o sr Sarkosy tem o apoio da Europa e a Europa..., esperem lá, mas então a Europa não engloba a Rússia, ou é impressão minha? Bom parece que está a despontar um novo equilíbrio geo-estratégico no globo, que nem é melhor nem pior, é apenas e só, diferente.
***NOVA ORDEM MUNDIAL*** ! Já não é sem tempo.
Já agora, como é que se separam os civis dos militares? Será quando despem a farda?
Às vezes parece que somos todos ingénuos... eu pelo menos sinto-me assim quando parece que me querem comer as papas na cabeça.
E, ó João aproveita para começares a desenhar o novo mapa político da Europa, segundo o modelo de Mercator. Vamos todos ficar agradecidos.