Num artigo de opinião divulgado hoje no jornal Público (link não disponível), o Embaixador Iraniano em Portugal declara que a revolução iraniana foi "liderada por um homem simples e espiritual". E acrescenta que o Ayatollah Khomeini "orientou uma revolução pacífica no Irão que, sem qualquer tiroteio, pôs fim a 2500 anos de dinastias no nosso vasto país e instaurou um novo sistema baseado nos votos do povo".
Temos de reconhecer que o Sr. Embaixador do Irão é um bom representante do seu país. As suas afirmações são um reflexo perfeito da face cínica e hipócrita de um regime brutal, governado por uma classe política esquizofrénica, que sistematicamente recorre às detenções arbitrárias, à tortura e aos maus tratos, assim como a aplicação de pena de morte.
Para chamar este diplomata à realidade, poderíamos lembrar os milhares de vítimas provocadas pelos conflitos armados que sucederam entre os diferentes grupos que participaram na revolução: liberais, marxistas, seculares e islâmicos. Poderia lembrar os muitos milhares de vítimas da repressão política que se seguiu à tomada de poder por parte dos Mullahs...
Mas limitar-me-ei a lembrar os 200 baha’is mortos pelo regime que em 1979 prometia liberdade e democracia, e que nestes últimos 30 anos apenas criou um sistema de apartheid religioso que discrimina, hostiliza e persegue todos os membros da maior minoria religiosa não-muçulmana: a Comunidade Bahá'í.
A este propósito, não posso deixar de referir uma notícia divulgada hoje pela agência AFP (citando a agência iraniana semi-oficial ISNA), que afirma que o Irão vai julgar os sete dirigentes bahá’ís detidos em Março e Maio do ano passado, acusando-os de “espionagem a favor de Israel”, insulto às santidades religiosas e propaganda contra a República islâmica.
Segundo o procurador Hassan Haddad, "as acusações contra os sete detidos no caso da grupo Bahá'í ilegal foram examinadas... e o caso vai ser enviado para o tribunal revolucionário na próxima semana". Recorde-se que em Janeiro, um porta-voz do judiciário tinha referido estas mesmas acusações contra estes sete baha’is detidos. E no passado mês de Janeiro a agência FARS referiu que uma antiga secretária da prémio Nobel Shirin Ebadi tinha sido detida por ligações à Fé Bahá'í.
A acusação de espionagem a favor de Israel é típica da propaganda fundamentalista contra os Bahá'ís. Mas se pensarmos que o actual presidente Ahmadinejad apelou diversas vezes para que Israel fosse riscado do mapa, que os Bahá'ís iranianos não usufruem de qualquer protecção legal ao abrigo da Constituição, que o sistema judicial iraniano se rege por valores medievais inspirados numa interpretação retrógrada do Alcorão, então percebemos que não podemos ter boas expectativas quando ao resultados deste julgamento.
São estes os frutos amargos da Revolução Iraniana!
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A ler:
Iran to try Bahais for spying for Israel (AFP)
Iran to try seven Baha’is for “spying” for Israel (IranVNC)
Iran charges 7 members of Baha'i faith with spying for Israel (Haaretz)
Iran: 7 Bahais to Face Trial (New York Times)
Son of detained leader asserts charges are “just one big lie”(MNBR)
Trial of Seven Baha'i Leaders in Tehran (IPW)
Iran Announces Trial of Baha’i Leadership (Bahai.us)
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