quinta-feira, 14 de maio de 2009

Um futuro sombrio para os Bahá'ís

A pressão internacional pode ter libertado Roxana Saberi, mas a situação dos Bahá'ís detidos em Teerão há um ano passou quase despercebida

No início desta semana, EUA, a jornalista iraniana Roxana Saberi foi libertada da prisão no Irão depois da sua acusação de "espionagem" ter sido reduzida. A acusação, que ela negou veementemente, suscitou a atenção internacional e apelos à sua libertação, que foram agora amplamente saudadas.

Mas a Sra. Saberi deixa para atrás dela muitos outros detidos na notória prisão Evin em Teerão cujos "crimes" contra o Estado Iraniano também são questionáveis.

No interior da Prisão de Evin

Na Quinta-feira (14 de Maio) assinala-se o primeiro aniversário da detenção e prisão de sete membros proeminentes da fé Bahá'í, a maior das minorias religiosas não muçulmanas do Irão.

Os cinco homens e duas mulheres formaram um comité nacional informal, que respondia às necessidades dos 300.000 membros da comunidade Bahá'í do país, na ausência de instituições Bahá'ís formais, que estão proibidas. Este comité - que funcionava com pleno conhecimento das autoridades - juntamente com todas as administrações Baha'is locais ad hoc - foi dissolvido em Março deste ano, num gesto de boa vontade por parte de Bahá'ís pacíficos e respeitadores da lei do seu país.

Passado um ano após a sua detenção, os sete detidos não enfrentaram qualquer qualquer acusação nem lghes foi permitido ter acesso à sua advogada, o Prémio Nobel da Paz Drª Shirin Ebadi. Enfrentaram falsas acusações de "espionagem para Israel", e "insulto santidades religiosos".

O Procurador-geral do Irão, Ayatollah Dorri-Najafabadi, afirmou que há provas de que os sete estejam envolvidos na "recolha de informações" e "infiltração", declarando assim, mais ou menos, a sua culpa antes de qualquer julgamento ter sido anunciado. As provas que a que ele se refere ainda tem de ser divulgadas ao público ou apresentadas num tribunal.

Nos últimos dias, porém, um relatório do Escritório Bahá'í nas Nações Unidas indicava que outra acusação está a ser formulada contra os sete detidos: "espalhar a corrupção na terra."

Para o leitor ocidental, essa acusação pode parecer confuso ou até mesmo uma base nebulosa para acusações criminais. Mas no Irão teocrático esta acusação tem um fundamento no Código Penal e deixa o acusado numa posição extremamente vulnerável.


O termo, que se encontra no Alcorão, tem sido cada vez mais utilizado dentro prática jurídica Islâmica para marcar qualquer "infractor" indesejável: os muçulmanos considerados demasiado laxistas nas suas práticas; aqueles que são considerados socialmente perversos, como traficantes de drogas e prostitutas; ou aqueles com quem as autoridades tenham um desacordo teológico fundamental, tais como os Baha'is.

As acusações tão vagas como esta têm o poder de levar os acusados para o carrasco.

As acusações contra os Baha'is são tão disparatadas quanto injustas. As acusações jogam com os receios de certos grupos da população iraniana, sobre inimigos - internos e externos - que conspiram para minar o país.

O Irão continua a ser um Estado com um grande sentido da sua própria herança histórica e com um claro objectivo de alcançar um estatuto de liderança regional - de dimensão simultaneamente política e moral.

Para os sete Bahá'ís detidos nas austeras celas de Evin, a sua melhor esperança para a liberação pode estar num protesto público tão vasto como o que levou à libertação de Roxana Saberi.

Um tal clamor pode ajudar os dirigente iranianos que deter e perseguir inocentes não faz parte dos seus interesses nacionais.

----------------------------------------
Moojan Momen é um autor e académico iraniano, membro da Royal Asiatic Society

Sem comentários: