Para a maior minoria religiosa do Irão, os Bahá'ís, a repressão não é novidade; pode-se dizer que tem estado sempre presente desde que a religião Bahá’í surgiu naquele país em 1844. Nos últimos 30 anos, as perseguições assumiram um carácter metódico: vários dirigentes desapareceram ou foram fuzilados; centenas de crentes Bahá'ís foram demitidos dos seus empregos na Administração Pública; milhares de idosos ficaram sem direito às suas pensões de reforma pelo simples facto de serem Bahá’ís; milhares de jovens viram ser-lhes vedado o acesso ao ensino superior, e não faltam casos de crianças humilhadas nas escolas por professores muçulmanos. A isto pode-se ainda acrescentar ataques a residências particulares ou estabelecimentos comerciais, e também detenções arbitrárias.
Em Maio do ano passado, sete dirigentes da Comunidade Bahá’í foram detidos, tendo sido levados para a prisão de Evin. Durante vários meses, foi-lhe vedado o contacto com os seus advogados. No início deste ano, as autoridades formularam a acusação: "espionagem para Israel, insultos a santidades religiosas, e propaganda contra a República Islâmica". A estas acusações juntou-se outra mais nebulosa, mas não menos ameaçadora: "espalhar a corrupção na terra". Para um europeu, esta última acusação pode parecer particularmente estranha; mas no Irão teocrático tem um fundamento no Código Penal e deixa o acusado numa posição extremamente vulnerável, podendo mesmo levar à pena de morte.
Nas últimas semanas, os familiares destes sete detidos foram informados que o julgamento iria ter lugar no dia 11 de Julho. Esta informação foi transmitida oralmente e deve ser encarada com alguma reserva; a experiência dos Bahá’ís iranianos mostra que é elevada a probabilidade do julgamento se realizar inesperadamente noutra data.
Ao contrário da jornalista Roxana Saberi, ou dos funcionários da Embaixada britânica recentemente detidos, não existe um lobby internacional que funcione a favor dos Bahá’ís iranianos. Resta-lhes esperar que os protestos diplomáticos da União Europeia, Estados Unidos e outros países, assim como a atenção dos media, possam actuar como factor de dissuasão sobre as autoridades iranianas.
Para perceber o quão injustas e infundadas são as acusações feitas contra estes sete dirigentes Bahá’ís, podemos acrescentar o seguinte:
- A acusação de espionagem é artificial e tem sido usada desde 1930 como um pretexto para perseguir os Bahá’ís. Basta olhar para a história recente do Irão, para vermos como os Bahá’ís têm sido acusados de serem agentes do imperialismo russo, do colonialismo britânico, do expansionismo americano e, mais recentemente, do sionismo. Que provas existem desta acusação? Quem poderá acreditar que os 300.000 Bahá’ís iranianos são 300.000 espiões? Não deixa de ser caricato que o Irão seja o único país do mundo onde os espiões deixam de ser espiões se negarem a sua religião, e passam a ser considerados "salvos".
- A sede da Comunidade Internacional Bahá’í está situada em Haifa, em Israel. Isto é assim apenas porque, durante o século XIX, persas e otomanos exilaram Baha’u’llah (o fundador da religião Bahá’í) para Akka (perto de Haifa), cidade onde veio a falecer. Isso aconteceu algumas décadas antes da criação do Estado de Israel.
- Acusar Bahá’ís de "insultar santidades religiosas" ou promover "propaganda contra o regime islâmico" é algo sem qualquer fundamento; os Bahá’ís respeitam todas as religiões, incluindo o Islão, e não se envolvem em actividades subversivas contra nenhum governo (por muito repressivo que ele seja).
Sem comentários:
Enviar um comentário