segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A Cruzada das Mulheres

Aqui fica a tradução de alguns excertos de um artigo publicado no New York Times, intitulado The Women's Crusade. Destaquei a amarelo algumas passagens que me pareceram mais relevantes. Recomendo a sua leitura integral.
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No século 19, o supremo desafio moral era a escravatura. No século 20, foi o totalitarismo. E neste século é a brutalidade infligida a tantas mulheres e meninas em todo o mundo: tráfico sexual, ataques com ácido, queima de noivas e violações em massa.

E se as injustiças sobre as mulheres em países pobres são de extrema importância, num sentido económico e geopolítico a oportunidade que representam é ainda maior. "As mulheres sustêm metade do céu", diz um provérbio chinês; mas isto ainda é, em grande parte uma aspiração. Numa larga porção do mundo, as meninas não recebem educação e as mulheres são marginalizadas; e não é por acaso que nesses mesmos países estão desproporcionadamente atolados em pobreza e despedaçados pelo fundamentalismo e pelo caos. Existe um cresceste reconhecimento em todas as pessoas – desde o Banco Mundial às chefias militares americanas e a organizações de auxílio como a CARE – que o foco nas mulheres e meninas e a forma mais eficiente para combater o extremismo e a pobreza global. É por esse motivo que a ajuda externa tem sido canalizada para mulheres. O mundo está a despertar para uma poderosa verdade: as mulheres e as meninas não são o problema; são parte da solução.

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Amartya Sen, o efervescente economista vencedor do Prémio Nobel, desenvolveu um indicador de desigualdade de género que é um lembrete chocando do que está em jogo. "Mais de 100 milhões de mulheres estão desaparecidas", escreveu Sen num ensaio clássico em 1990 na New York Review of Books, abrindo uma nova área de investigação. Sem notou que em circunstâncias normais as mulheres vivem mais do que os homens e por isso há mais homens do que mulheres no mundo. No entanto, em lugares onde as meninas têm um estatuto profundamente desigual, elas desaparecem. A China tem 107 homens para cada 100 mulheres em toda a sua população (e uma desproporção ainda maior entre recém-nascidos) e a Índia tem 108. Segundo Sen, a consequência destes rácios de género é que estão desaparecidas 107 milhões de mulheres em todo o globo. Estudos posteriores calcularam os valores de forma ligeiramente diferente e apresentaram números diferentes para as "mulheres desaparecidas" entre os 60 milhões e os 107 milhões.

As meninas desaparecem, parcialmente porque não recebem os mesmos cuidados de saúde e de educação que os rapazes. Na Índia, por exemplo, as meninas têm menos probabilidade de serem vacinadas do que os rapazes, e apenas vão ao hospital quando estão doentes. Além disso, as máquinas ultra-sons permitem que as mulheres grávidas saibam o sexo do feto – e fazem abortos se for feminino.

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Outro enorme fardo sobre as mulheres em países pobres é a mortalidade materna, com uma mulher a morrer no parto em cada minuto. No Níger, um país da África ocidental, uma mulher tem uma probabilidade de 1 em 7 de morrer no parto durante a sua vida (estas estatísticas são duvidosas porque a mortalidade materna não é considerada suficientemente significativa para que se recolham bons dados). Para a Índia no seu progresso brilhante, uma mulher ainda tem uma probabilidade de 1 em 70 de morrer no parto durante a vida. Nos Estados Unidos esse risco é de 1 em 4800 e na Irlanda é 1 em 47600. O motivo desta diferença não se deve ao facto de não sabermos salvar a vida das mulheres em países pobres. É apenas porque as mulheres pobres e sem educação em África e na Ásia nunca foram uma prioridade dos seus próprios países nem das nações dadoras.

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Porque é que as organizações micro-financeiras geralmente centram a sua assistência nas mulheres? E porque é que toda a gente beneficia quando as mulheres entram no mundo do trabalho e trazem para casa ordenados regulares? Uma das razões envolve o pequeno e nojento segredo da pobreza global: um dos mais miseráveis motivos da pobreza reside não apenas pelos baixos rendimentos, mas também por gastos incorrectos por parte dos pobres – especialmente os homens. De forma surpreendentemente frequente, deparamo-nos com uma mãe que chora a morte de uma criança que morreu de malária porque não tinha uma rede de mosquitos que custa 5 USD; a mãe diz que a família não tinha forma de comprar uma rede e é verdade; mas depois encontramos o pai num bar das redondezas. Ele vai ao bar três vezes por semana, e gasta mais de 5 USD em cada semana.

As nossas entrevistas e a análise dos dados existentes sugerem que as famílias mais pobres no mundo gastam 10 vezes mais (o que representa em média 20% do seu rendimento) no conjunto de álcool, prostituição, doces, bebidas açucaradas e festas caras do que na educação das suas crianças (2%). Se as famílias pobres gastassem tanto na educação dos seus filhos como gastam em cerveja e prostitutas, haveria um grande avanço nas perspectivas dos países pobres. As meninas, porque são as que ficam em casa e não vão à escola, seriam as maiores beneficiárias. Além disso, uma forma de redistribuir as despesas familiares é colocar mais dinheiro nas mãos das mulheres. Uma série de estudos mostrou que quando as mulheres controlam os bens e os rendimentos familiares, existe uma maior probabilidade do dinheiro da família ser gasto em alimentação, medicina, alojamento; consequentemente, as crianças tornam-se mais saudáveis.

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Ler o artigo na sua totalidade (em inglês) :
The Women’s Crusade

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