Hoje em dia todo o mundo parece obcecado com o debate sobre a sexualidade humana.
Tenho testemunhado o debate em Lagos, na Nigéria, onde uma lei anti-gay foi aprovada, enquanto outra lei recente legalizou o casamento com meninas de menores de idade. Vivo na América, mas passo muito do meu tempo em África, e assim conheço dois mundos, e eu vejo a relatividade da cultura e da sociedade de forma muito clara.
Hoje na Nigéria, um acto sexual consentido praticado por dois adultos é criminalizado, enquanto no outro caso, os actos sexuais não consentidos praticados por um adulto sobre uma criança são legalizados. Isto levanta a questão: "Qual é o padrão?" E essa pergunta, por sua vez, suscita outra pergunta: "Deve existir um padrão?"
Penso que o papel desempenhado pelos padrões se encontra na criação das condições necessárias para o "cultivo". O cultivo, por sua vez, permite o surgimento da diversidade funcional e a diversidade funcional é a qualidade identitária que diferencia a vitalidade cultural do caos. Por outras palavras, os padrões permitem que a diversidade se expresse apenas em formas que não perturbem o desenvolvimento colectivo. Isto é, essencialmente, o método como um jardim é criado no meio do mato. De facto, no centro de qualquer ecossistema, encontramos um conjunto de normas orgânicas que, em última instância determinam como se expressa o impulso de desenvolvimento de todo esse ecossistema.
Assim, a pergunta que faço aos legisladores nigerianos é esta: "O que é que vocês estão, exactamente, a tentar cultivar?" Porque se olharmos para os aspectos comuns das duas leis recentemente aprovadas, percebemos que, no fundo, ambas definem o sexo como um acto violento - um acto usado principalmente para violar outros.
Esta mesma pergunta também se coloca hoje a nós, Bahá’ís, no debate aceso sobre a sexualidade. Os Bahá’ís tentam seguir os ensinamentos de Bahá'u'lláh, especialmente quando Ele fala sobre a Sua missão de trazer à existência uma "nova raça de homens". Ele dá cinco exemplos de como essa raça de homens seria, e o primeiro exemplo centra-se na relação entre a sexualidade humana, ganância material e violência. Ele descreve que essa nova raça de homens não se vai se comportar em relação às mulheres e ao dinheiro da forma como tem feito até agora, não porque sejam diferentes, mas porque eles dominarão o ego.
Neste respeito, o autocontrole começa por exigir sinceridade em vez de obediência. Na verdade, um outro excerto da mesma epístola, Bahá'u'lláh apresenta uma alegoria sobre a diferença fundamental entre sinceridade e obediência, afirmando, essencialmente, que o seu trabalho é com aqueles que estão sinceramente interessados na Sua missão. O padrão que Bahá'u'lláh estabelece para a sexualidade humana assenta no controle e na expressão do impulso sexual, focando essa expressão no âmbito do casamento. Mas muitos dos debates que actualmente grassas nas nossas sociedades, reduzem o valor de um ser humano, ou mesmo toda a sua identidade, a uma mera avaliação de um dos pequenos aspectos comportamentais da sua vida diária.
Para mim, a questão é menos aquilo que um indivíduo acredita, e mais a forma como ele/ela age de acordo com essas crenças. Qualquer Bahá’í que se debate com um dos ensinamentos de Bahá'u'lláh, já se deparou com o impulso único e dominante nos processos de transformação: a necessidade de trabalhar e crescer espiritualmente através de dificuldades. Na verdade, a dificuldade em colocar o estilo de vida em conformidade com os ensinamentos Bahá'ís pode ser usada como uma definição de trabalho da vida diária de todos os Bahá'ís - desde aqueles que vivem no Irão (para quem a vontade de não negar a sua fé os coloca num perigo imediato e persistente) aos Bahá’ís individuais noutras partes do mundo (que têm dificuldade em cumprir as vigorosas leis contra maledicência e calúnias).
Assim como Bahá'í, estou pouco interessado no que os outros pensam das minhas crenças; estou interessado exclusivamente na forma como manifesto as minhas convicções na minha vida, de modo a expressar plenamente quem eu sou e o papel que desempenho no cultivar de uma "nova raça de homens". Mas, para mim, reduzir esse papel apenas a um reflexo de um aspecto da minha realidade - a minha sexualidade e a sua expressão - é, de facto, cultivar activamente a sociedade actual e seus valores deslocados. Isso vai contra a essência da mensagem de Bahá'u'lláh, uma mensagem em que acredito, mas que não tenho desejo de 'forçar' mais ninguém a acreditar.
Devemos ver em cada ser humano apenas aquilo que é digno de louvor. Quando isto for feito, podemos ser um amigo de toda a raça humana. No entanto, se olhamos as pessoas do ponto de vista das suas falhas, então ser um amigo para eles é uma tarefa gigantesca...-----------------------------------------
Assim é nossa incumbência, quando dirigimos o nosso olhar para as outras pessoas, para ver onde eles se excedem, e não onde eles falham. ('Abdu'l-Bahá, Selecção dos Escritos de 'Abdu'l-Bahá, nº 144)
Texto original em inglês: On Human Sexuality and My Faith as a Baha’i (Baha’iTeaching.org)
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Akin Odulate, é um Baha'i nascido na Nigéria e residente nos Estados Unidos; é administrador da empresa de consultoria Dawning Systems, Inc. É pai de três filhos, tem mestrado em Gestão da Comunicação da Annenberg School, em Los Angeles e um bacharelato em Cinema e Televisão na George Lucas Film School at USC.
1 comentário:
"Não obstante quão belo e devotado o amor entre pessoas do mesmo sexo possa ser, permitir que ele se expresse através de atos sexuais é errado. Afirmar que esse amor é ideal não é desculpa. Bahá'u'lláh efetivamente proíbe toda a sorte de imoralidade, e Ele assim considera as relações homossexuais."
(Resposta de Shoghi Effendi para um indivíduo, 26 de março de 1950, citado em Lights of Guidance)
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