sábado, 11 de outubro de 2014

Fareed Zakaria: Sejamos honestos; hoje, o Islão tem um problema

Excertos de um artigo de opinião de Fareed Zakaria no Washington Post (09/Outubro/2014).
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Conheço os argumentos contra as vozes que falam do Islão como sendo violento e reacionário. Tem 1.6 mil milhões de seguidores. Locais como a Indonésia ou a Índia têm centenas de milhões de muçulmanos que não encaixam nestas representações. É por isso que [Bill] Maher e [Sam] Harris erram ao fazer generalizações grosseiras. Mas sejamos honestos. Hoje, o Islão tem um problema. Os lugares que têm dificuldade em acomodar-se no mundo moderno são desproporcionalmente muçulmanos.

Em 2013, dos 10 principais grupos que realizaram ataques terroristas, 7 eram muçulmanos. Dos 10 principais países onde ocorreram ataques terroristas, 7 têm maioria muçulmana. O Pew Research Center classifica países de acordo com o nível de restrições que os governos impõem ao livre exercício da religião. Dos 24 países mais restritivos, 19 têm maioria muçulmana. Dos 21 países que têm leis contra apostasia, todos têm maioria muçulmana.

Existe um cancro de extremismo no Islão de hoje. Uma pequena minoria de muçulmanos festeja a violência e a intolerância, e acolhe atitudes profundamente reacionárias contra as mulheres e as minorias. Apesar de alguns confrontarem os extremistas, não são suficientes, e os protestos não são suficientemente sonoros. Quantas manifestações gigantescas se realizam hoje contra o Estado Islâmico (também conhecido como ISIS) no mundo Árabe?

A expressão “Islão de hoje” é importante. O problema central das análises de Maher e Harris é que pegam numa realidade - o extremismo no Islão - e descrevem-na de forma que sugere que é inerente ao Islão. Bill Maher afirma que “o Islão é a única religião que actua como a Mafia, que mata se alguém diz o contrário, se faz um desenho errado ou se escreve o livro errado”. Ele tem razão sobre o aspecto maligno, mas está errado quando o liga ao Islão - em vez de o ligar a “alguns muçulmanos”.

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Harris devia ler o livro de Zachary Karabell Peace Be Upon You: Fourteen Centuries of Muslim, Christian and Jewish Conflict and Cooperation. Ali descobriria que houve guerras mas também muitos séculos de paz. O Islão esteve por vezes na vanguarda da modernidade, mas tal como hoje, também já o grande retardatário. Como Karabel me disse: “Se excluirmos os últimos 70 anos, em geral o mundo islâmico foi mais tolerante com as minorias do que o mundo cristão. É por isso que viviam mais de um milhão de Judeus no mundo árabe até à década de 1950 - só no Iraque eram 200.000”

Se existiram períodos em que o mundo islâmico era aberto, moderno, tolerante e pacífico, isso pressupõe que o problema não está na essência da religião e que as coisas podem mudar mais uma vez. Então porque é que Maher faz estes comentários? Compreendo que como público intelectual ele sinta necessidade de falar daquilo que vê como uma verdade elementar (apesar da sua “verdade” estar simplificada e exagerada). Mas existe certamente outra tarefa para um público igualmente intelectual: tentar mudar o mundo para melhor.

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Texto original (em inglês): Fareed Zakaria: Let’s be honest, Islam has a problem right now

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