sábado, 26 de setembro de 2015

Progressistas, Conservadores e a Paciência

Por David Langness.


O/A leitor(a) gostaria de ver mudanças significativas na nossa sociedade, ou sente-se geralmente satisfeito com a forma como as coisas estão? Pensa em si próprio como uma pessoa que favorece a mudança ou como alguém que prefere preservar o status quo?

Esta típica questão diferenciadora permite separar progressistas de conservadores. De uma forma simplista diríamos que uma pessoa que pensa de forma progressista considera que o estado actual das coisas deve progredir ou mudar. E de forma igualmente simplista, uma pessoa que pensa de forma conservadora olha para o estado actual das coisas e quer "conservá-las”, de modo que elas continuem tal como estão.

Isto não tem nada a ver com política partidária. Infelizmente, os sistemas políticos de muitos países apropriaram-se e distorceram estas definições tradicionais e usam-nas para os seus próprios fins: dividir e conquistar. As organizações políticas partidárias gostam de nos identificar com um desses rótulos ideológicos, e alinhar-nos nas suas agendas. Mas quando pensamos no propósito original daquelas palavras, e tentamos separar os seus significados reais do conteúdo que acumularam através da política partidária, estas revelam uma dicotomia gritante. Uma pessoa conservadora é, de acordo com o dicionário Webster, alguém "disposto a preservar as condições e instituições existentes", enquanto uma pessoa progressista é alguém que "favorece ou advoga o progresso, a mudança, a melhoria ou a reforma, ao contrário dos que desejam manter as coisas como elas estão."

De acordo com estas definições, os Bahá'ís encaixam-se, claramente, na descrição progressista. Os ensinamentos Bahá'ís apelam à mudança e à reforma em praticamente todos os sectores da actividade humana, dizendo que vivemos:
... um tempo de reforma universal. As leis e estatutos dos governos civis e federais estão em processo de mudança e transformação. As ciências e artes estão a ser novamente moldadas. Os pensamentos são transformados. As fundações da sociedade humana estão a mudar e a fortalecerem-se. Hoje, as ciências do passado são inúteis. O sistema ptolomaico de astronomia, incontáveis outros sistemas, teorias científicas e explicações filosóficas são descartados, e tornam-se conhecidos como falsos e inúteis. Antecedentes e princípios éticos não podem ser aplicados às necessidades do mundo moderno. Pensamentos e teorias de tempos passados são agora infrutíferos. Tronos e governos desintegram-se e caem. Todas as condições e requisitos do passado, inaptos e inadequados para o tempo presente, estão a passar por uma reforma radical. (‘Abdu’l-Bahá, Baha’i World Faith, pp. 228-229)
Num mundo onde vemos guerras constantes, os ensinamentos Bahá'ís defendem a paz. Onde vemos grandes diferenças entre riqueza e pobreza, os ensinamentos Bahá'ís incentivam um movimento progressivo em direcção à eliminação desses extremos. Onde vemos enormes disparidades entre os educados e os iletrados, os ensinamentos Bahá'ís apelam para o ensino obrigatório universal em todo o planeta. Onde experimentamos o ódio, o preconceito e a intolerância, os ensinamentos Bahá'ís exigem a todos nós que trabalhemos para a unificação e harmonia de toda a raça humana. Onde vemos enormes desigualdades e injustiças para com as mulheres, os ensinamentos Bahá'ís defendem a igualdade absoluta entre homens e mulheres.

Os Baha'is querem reformar o mundo. Bahá'u'lláh pediu que todos trabalhassem para o objectivo de um mundo sem violência, injustiça, opressão e ódio. Apelou a todos nós para que encontrássemos formas de aplicar os princípios Bahá'ís a um padrão consistente de reforma mundial, para construir uma nova civilização global, para desenvolvermos (e conservarmos) o progresso que fizemos no reino material das ciências e aplicá-lo com a mesma energia e cuidado no reino espiritual.

Como é que vamos lá chegar?

Paciência. As Escrituras Bahá'ís afirmam que toda a mudança duradoura leva tempo:
É certo que os empreendimentos monumentais não podem ser apressadamente concluídos com sucesso; nesses casos, a pressa só causaria estragos.
O mundo da política é como o mundo do homem; primeiramente ele é uma semente, e depois, passa gradualmente à condição de embrião e feto, adquirindo uma estrutura óssea, revestindo-se com carne, assumindo a sua própria forma especial, até que finalmente atinge a condição em que pode adequadamente cumprir as palavras: "o mais excelente dos Criadores". Tal como isto é um requisito da criação e baseia-se na Sabedoria Universal, o mundo político, da mesma forma, não pode evoluir instantaneamente do ponto mais baixo da imperfeição para o cume da rectidão e da perfeição. Em vez disso, as pessoas competentes devem esforçar-se de dia e de noite, e usar todos os meios que conduzem ao progresso, até que o governo e o povo se desenvolvam ao longo de cada vertente, de dia para dia e até mesmo de momento para momento. (‘Abdu'l-Bahá, The Secret of Divine Civilization, pp. 105-106)
No entanto, para os Bahá'ís a paciência não significa esperar eternamente:
Se, porém, com atrasos e adiamento isso significa, que em cada geração apenas se realiza uma fracção das reformas necessárias, isso não é senão letargia e inércia, e nenhum resultado se conseguirá com esse procedimento, excepto a interminável repetição de palavras inúteis. Se a pressa é prejudicial, a inércia e a indolência são mil vezes pior. (‘Abdu'l-Bahá, The Secret of Divine Civilization, p. 106)
Activistas sociais, agentes de mudança e trabalhadores para a evolução social progressista, tenham coragem: os ensinamentos Bahá'ís homenageiam e incentivam a vossa devoção e as vossas acções. Simultaneamente, também apelam a uma abordagem paciente e humilde para reformar a sociedade.

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Texto original: Progressives, Conservatives and Patience (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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