Há quatro dias atrás, a minha mãe faleceu de forma repentina e inesperada. Há cinco coisas que eu gostava de ter sabido antes de ela ter morrido:
1. Tentar viver sem mágoas
Senti, e ainda sinto, uma dor profunda após a morte da minha mãe - o que me surpreende. Afinal, eu e ela conversámos, muitas vezes ao longo dos anos, sobre a ida dela para o outro mundo. Ambas pensávamos que estávamos preparadas. Como Bahá’í, eu não temia a morte para mim ou para ela:
Fiz a morte de um mensageiro de alegria para ti. Porque te lamentas? Fiz a luz derramar sobre ti o seu esplendor. Porque que tu ocultas disso? (Bahá'u'lláh, As Palavras Ocultas, do Árabe, #32)Então, porque é que eu não consegui libertá-la para Deus com um coração radiante, como sempre esperei? Quando reflecti sobre a fonte da minha dor, percebi que esta não era a minha mãe. Estou completamente confiante que ela encontrou a felicidade ilimitada num lugar de paz e amor sem dimensão. A minha dificuldade em continuar agora vem dos meus remorsos por não lhe ter dado mais do meu tempo, da minha atenção e do meu amor. Embora me digam que isso é normal, ainda dói:
Diz, ó Meu povo! Mostrar grande respeito pelos vossos pais e prestai-lhes homenagem. Isso fará com que bênçãos desçam sobre vós das nuvens das dádivas do vosso Senhor, o Excelso, o Grande. (Bahá'u'lláh, excerto de uma epístola a um crente individual)
2. Perdoe, mesmo que apenas para si próprio
O meu coração tinha recordações, algumas inconscientes, de mágoas do passado. Quando tive os meus próprios filhos, essas memórias surgiram novamente. Falei com a minha mãe sobre isso e pensei que tinha deixado passar a maior parte. Tornámo-nos mais próximas e à medida que ela envelhecia, visitei-a todos os dias e tentei tratar bem dela. Apesar de me esforçar por perdoar, ainda lhe negava uma pequena parte do meu coração que sentia que ela não merecia. O que eu fiz foi magoar-me a mim própria, pois impedi que o amor dentro de mim fluísse livremente:
Temos que nos lembrar, quando perdoamos não estamos a fazer isso apenas pela outra pessoa; nós estamos fazendo isso para nosso próprio bem. Quando insistimos em não perdoar e vivemos com rancor nos nossos corações, tudo o que estamos a fazer é construindo muros de separação. (Joel Osteen)
O perdão é a forma final do amor. (Reinhold Niebuhr)
3. Libertar-se de ressentimentos
Sem nos livrarmos de ressentimentos profundamente enraizados, não conseguiremos encontrar plenamente o nosso caminho para o perdão. A verdade é que todos nós cometemos erros e fazemos o melhor que podemos, pois em qualquer nível de desenvolvimento espiritual encontramo-nos nessa situação. Ninguém é perfeito, e a verdade, na maioria das vezes, é que a forma como as pessoas nos tratam tem muito mais ver com aquilo que elas são, do que aquilo que nós somos. O ressentimento também ocupa um espaço valioso nos nossos corações; um espaço que poderia ser preenchido com coisas mais felizes:
O coração é como um jardim. Ele pode cultivar compaixão ou medo, ressentimento ou amor. Que sementes vais ali plantar? (Buddha Gautama)
4. Fale a sua verdade
Agora que a minha mãe partiu, já não terei a oportunidade de lhe dizer o que estava escondido no meu coração. Acredito que poderia ter partilhado amorosamente os meus sentimentos e ressentimentos mais profundos, e que ela teria tentado compreender. Sei que um dia teremos esta oportunidade, mas eu gostaria que isso tivesse acontecido neste mundo. Por não querer agitar as águas, provocar confrontos ou dor, recusei a oportunidade de nos tornarmos ainda mais próximas. A honestidade que é bondosa e amorosa não tem de ser dolorosa, mas pode tapar as lacunas criadas por anos de mal-entendidos:
Embelezai as vossas línguas, ó povo, com a veracidade, e adornai as vossas almas com o ornamento da honestidade. (Bahá'u'lláh, SEB, CXXXVI)
A veracidade é a base de todas as virtudes do mundo humano. Sem a veracidade, o progresso e o sucesso em todos os mundos de Deus são impossíveis para uma alma. ('Abdu'l-Bahá, Star of the West, Volume 4, p. 183)
5. Amar agora com todo o coração
Ame agora, com todo o teu coração, sem pensar se é merecido ou que valor isso tem. Faça isso para o seu próprio bem, porque pode vir o dia em que você não poderá mais fazê-lo.
No momento em que minha mãe faleceu, todas as ofensas, grandes e pequenas, desapareceram completamente. Isto foi uma libertação maravilhosa, mas ao mesmo tempo um remorso doloroso. Perguntava-me: porque é que não tinha feito isso mais cedo? Agora eu tinha o coração completamente aberto e pronto para amar com todo o coração, mas ela tinha partido. Ao retrair-me e ao não perdoar completamente com todo o meu ser, eu tinha sufocado o amor dentro de mim.
Se um de vocês tiver sido ferido no coração pelas palavras ou acções de outro, durante o ano passado, perdoai-o agora; que, na pureza de coração e de perdão amoroso, possais celebrar em alegria, e erguer-vos, renovados no espírito. ('Abdu'l-Bahá, Vignettes from the Life of Abdu’l-Baha, p. 49)Assim, esta noite, reflicto em lágrimas. Agora sou eu quem está a pedir perdão; lamentando todo o momento em que não fui generosa com todo o meu coração. Com grande misericórdia de Deus, sou lembrada do Seu perdão infalível. A minha mente inunda-se com pensamentos sobre as muitas vezes que mostrei amor de todo o coração à minha mãe, e esses pensamentos confortam-me.
Então decidi que não voltará a haver tempo perdido com ressentimentos ou julgamentos. De agora em diante vou tentar que o meu amor seja incondicional para os outros, independentemente de como sou tratada. O amor puro é para dar sem medida ou merecimento. É assim que Deus nos ama.
Ao concluir este texto uma grande calma apoderou-se de minha alma. Sei que minha mãe ouviu o que está no meu coração. A partir deste momento só haverá amor e alegria entre nós, até nos reunirmos mais uma vez.
Para lá das ideias de certo e errado, existe um campo. Vou encontrar-te lá. Quando a alma se deita sobre aquela relva, o mundo fica cheio demais para que falemos dele. (Rumi)
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Texto original: 5 Things I Wish I’d Known before My Mother Died (www.bahaiteachings.org)
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Kathy Roman é educadora reformada, aspirante a escritora, esposa e mãe de dois filhos que vive em Elk Grove, California (EUA), onde serve como responsável de Informação Pública Bahá’í.
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