domingo, 27 de novembro de 2016

As duas questões que mudaram a minha vida



A minha cidade natal, uma comunidade agrícola, tinha cerca de 3.000 almas, cinco igrejas e cinco tabernas. Em 1954, a minha mãe inscreveu-me na catequese na nossa igreja local. Todas as boas mães querem que os seus filhos passem nos exames de entrada no paraíso.

Os sacerdotes faziam-nos perguntas sobre a doutrina da igreja e nós, jovens esperançosos, éramos obrigados a ler em voz alta a resposta padrão. No entanto, eu já tinha, há muito tempo duas perguntas que queria colocar. Levantei a mão, e interrompi a leitura do pastor. "O que é?" perguntou ele. "Deus sabe tudo o que aconteceu e tudo o que vai acontecer. Certo?" "Correcto! Ele é Omnisciente." "Então porque é que Ele me criou se Ele soubesse que eu ia para o inferno?"

Aquilo perturbou o pastor. Mais uma vez, levantei a minha mão e interrompi as leituras. "O que foi agora?", perguntou o pastor. "Todas as pessoas que acreditam em Jesus são salvas, certo?" Finalmente, ele tinha uma resposta fácil. "É isso mesmo, meu filho." Eu continuei: "Então todas as pessoas nascidas antes de Jesus não foram salvo por ele." "Sim." Quase em sussurro, disse-lhe: "Eu não acredito nisso."

"Está dispensado da aula, jovem! Quero que vás para casa e digas à tua mãe como interrompeste a aula com as tuas perguntas disparatadas."

A minha mãe não gostou. "Não podes ir lá como uma pessoa normal e fazer apenas o que todos fazem? Não! Tu tens de ser o chico-esperto que se exibe à frente de todos!" Eu nunca tinha visto minha mãe tão zangada. Na verdade, ela até perdeu a voz e ficou exausta.

Mas para mim, eu estava secretamente feliz. Deixava de ir a uma aula incrivelmente chata e podia ficar em casa a ver o meu programa favorito: "Superman", que era emitido na mesma noite em que se realizava aquela aula semanal.

Por outro lado, aprendi uma lição importante: questionar sempre as coisas que não parecem verdadeiras.

Para tranquilidade da minha mãe continuei a cantar no coro e a ir à igreja ao domingo com o meu irmão mais velho. Mas só me tornei membro muito mais tarde, e de uma maneira invulgar, que vou explicar.

Deixei a universidade no meu segundo ano e alistei-me na Marinha num contrato de quatro anos. Nessa altura nada me ligava à religião, organizada ou não. Embora de ainda acreditasse num Ser Supremo, eu procurava o significado da vida na natureza e na literatura.

A vida num porta-aviões da Marinha no oceano Pacífico cria o seu próprio isolamento especial. Sempre que tínhamos licença para ir a terra no Hawai, China, Filipinas, Japão ou Okinawa, saía com os meus companheiros de copos e comportávamo-nos frequentemente como jovens idiotas. Comecei a ficar envergonhado de mim próprio e do meu comportamento.

Com o fim da nossa missão de seis meses no Pacífico, o meu navio foi colocado numa doca seca para manutenção e eu fui para casa durante as férias de Natal. Mas quando o meu navio voltou ao mar na primavera seguinte, eu ainda me sentia em baixo. Em desespero, comprei uma Bíblia. Os meus ex-amigos de copos viram-se com ela e começaram a chamar-me "Padre".

Tentei ler a Bíblia, mas parecia uma mistura confusa de histórias moralistas. Então abri aleatoriamente a Bíblia e apontei o meu dedo para ver se isso me guiaria. Por duas vezes consecutivas, encontrei versículos como "procurai e encontrareis" ou "batei, e hão-de abrir-vos". Decidi experimentar.

Uma noite fui ao convés do navio e olhei para a lua cheia. Então, proferi em voz alta a minha oração de poucas palavras: "Estou a bater." Nada. Olhei para a lua e nada aconteceu. Eu não sei o que esperava. O que me veio à ideia foram todas as experiências mágicas da Bíblia - como transformar a água em vinho ou andar sobre a água - que aconteceram há mais de 2000 anos atrás. Nada semelhante a isso estava a acontecer agora.

Só uns anos mais tarde é que percebi a relação entre essa pequena oração e o que aconteceu depois. Quando o navio atracou em Pearl Harbor, o Oficial Superior que era meu "chefe" perguntou-me: "Gostava de terminar o seu contrato de serviço no Hawai? Você tem uma autorização superior e eles precisam de um escrivão administrativo na sede da Frota. Tem duas horas para abandonar o navio antes que zarpe hoje."

Abandonei o navio a tempo. Depois de uma semana no novo emprego, um dos meus colegas de trabalho perguntou-me se eu gostaria de ir a uma reunião Bahá'í. Eu disse: "É uma espécie de religião, certo?" Ele disse que sim e eu disse-lhe que não queria ter nada a ver com a religião organizada. Ele retorquiu: "A Miss Hawai vai lá estar." "A Miss Hawai é membro?” “Sim, ela também é amiga. Eu apresento-te."Aquilo soou como uma ideia maravilhosa.

Mas aconteceu que a Miss Hawai não veio a essa reunião. Eu tive um debate com o orador, que tinha afirmado a certo momento que "Deus não precisava de nós para nada." No meu modo usual de chico-esperto, respondi que era óbvio que nós éramos o produto de uma necessidade ou então Deus não nos teria criado.

Então, ele desafiou-me. "Hoje à noite, quando você voltar para o seu quartel, ore sobre isso e pergunte a Deus se isto é a verdade. Não se limite a fechar os olhos e a dizer algo rapidamente. Entre num estado profundo de oração e depois pergunte." Mas uma vez, o chico-espeto dentro de mim disse para mim próprio: "Sim, vou fazer isso e voltarei para dizer a todos que nada aconteceu!"

Bem… eu estava errado. Segui o conselho a sério e quando cheguei à pergunta, tive uma experiência que mudou a minha vida! Fui levado através de véus de luz. Uma agitação poderosa, semelhante a ondas atingiam o meu corpo dos pés à cabeça. Cada átomo do meu ser parecia vibrar com um êxtase indescritível! Eu era AMADO! Esta era a Verdade de Deus!

Na Bíblia diz:

Qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? (Lucas 11:11)

Mas se foi Deus nos criou, temos o direito de Lhe perguntar qual é o caminho verdadeiro. Certo? Se pedirmos sinceramente, Ele responderá sinceramente. Isto mudou aminha vida para sempre:

O Espírito tem uma influência; a oração tem um efeito espiritual. Portanto, oramos: "Ó Deus! Cura este doente!" Possivelmente Deus responderá. Importa quem reza? Deus responderá à oração de cada servo se essa oração for urgente. A Sua misericórdia é vasta, ilimitada. Ele responde às orações de todos os Seus servos... Portanto, é natural que Deus nos dê quando Lhe pedimos. A Sua misericórdia abrange tudo. ('Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, pp. 246-247)

E a propósito… a Miss Hawai acabou por ser uma das Damas de Honor no meu casamento.

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Duane Troxel aceitou a Fé Bahá’í há cerca de 50 anos em Honolulu. Desde então viveu na Nigéria e na Polónia, onde serviu nas respectivas Assembleias Espirituais Nacionais e ensinou em várias universidades. Actualmente vive em Evanston, Illinois (EUA) com a sua esposa.

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