Por Maya Bohnhoff.
O meu amigo neo-ateu,
"Maynard", colocou várias questões sobre Deus aos crentes em geral. A
questão nº 3 era: Deus é um ser
senciente como nós, com pensamentos e sentimentos?
As
escrituras (e aqui, refiro-me à totalidade dos textos de todas as grandes
religiões, e não apenas à Bíblia ou às escrituras Bahá'ís) dizem-nos que somos
criados à imagem de Deus. Ou isto reflecte a nossa realidade física (o que é
improvável por variadíssimas razões) ou a nossa realidade espiritual. Isso significa
que o nosso intelecto - a que Bahá'u'lláh chama a alma racional - reflecte o
intelecto divino. Assim, considerando que nós somos sencientes, é lógico que se
o nosso intelecto é um reflexo de Deus, então Ele também seja senciente.
S. Tomás de Aquino |
Tal como
disse S. Tomás de Aquino, “Deus é senciente numa forma super-eminente”.
O meu filho,
que estudava física, também tinha algumas ideias sobre este assunto. Ele
postulou uma dimensão adicional na qual Deus opera (ele designou-a como "a
dimensão Deus", naturalmente), que é uma dimensão de perspectiva. Apesar
de nós termos apenas uma perspectiva, Deus "vê" as coisas
simultaneamente de todas as perspectivas. O mais próximo a que consigo chegar
para apreciar isso é olhar para a génese do livro que estou a escrever. Faço a
narração de uma história na perspectiva de meia dúzia de personagens diferentes
e tenho que me colocar na pele de cada uma para fazer o meu trabalho.
Para mim, e
em mim, isto significa que os nossos pensamentos e sentimentos são
simultaneamente iguais e diferentes dos de Deus, da mesma forma que o reflexo
de uma imagem num espelho é simultaneamente igual e diferente da imagem
original. O objecto original tem pelo menos três dimensões; o espelho tem
apenas duas. Deus (o Objecto Original) tem – como o meu filho gosta de dizer – outras
dimensões que as Suas criações (incluindo nós) não têm.
É evidente
que também devem existir outras diferenças. Muitos dos nossos pensamentos e
sentimentos são resultado de interacções entre a nossas realidades material/física
e espiritual/intelectual. Deus, não tendo componente material/física, não pode
existir entre estas duas realidades tal como nós. As escrituras indicam que
possuímos uma natureza material e também espiritual, e que o rumo das nossas
vidas e a nossa educação leva-nos a fortalecer a parte espiritual, que é a que
prevalece. Acredito que é a existência deste “espírito de Deus no homem” a que
Bahá’u’lláh se refere quando afirma “Quem se conheceu a si próprio, conheceu
Deus”
Por isso,
quando recentemente alguém me perguntou “Porque é que Deus nos criou?”,
respondi com umas palavras de Bahá’u’lláh:
Ó Filho do Homem! Velado no Meu ser
imemorial e na eternidade antiga da Minha Essência, conheci o Meu amor por ti;
por isso, criei-te, gravei em ti a Minha imagem e revelei-te a Minha beleza
(Palavras Ocultas, Árabe #3)
A próxima
pergunta, naturalmente, é “O que é que isso significa?” Se eu olhar para os
meus próprios impulsos criativos quando escrevo ficção, compreendo – de forma
parcial – a ideia de gostar de alguma coisa antes de ela existir. Antes de
escrever uma palavra nos meus romances sobre as minhas personagens favoritas,
eu amo-as, e esse amor por essas criaturas bidimensionais torna-se o impulso
gerador que me leva a criar mundos para elas e a escrever sobre elas nesses
mundos.
Assim, a
minha resposta breve ao Maynard é: “Sim, Deus é senciente. E sim, Ele tem
pensamentos e sentimentos que são simultaneamente iguais e diferentes dos
nossos”
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Texto original: Is God like us? (www.bahaiteachings.org)
Artigo Anterior: Onde está Deus?
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Maya
Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção
científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora
(juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View
Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na
www.commongroundgroup.net.
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