sábado, 12 de novembro de 2016

Deus é igual a nós?



O meu amigo neo-ateu, "Maynard", colocou várias questões sobre Deus aos crentes em geral. A questão nº 3 era: Deus é um ser senciente como nós, com pensamentos e sentimentos?

As escrituras (e aqui, refiro-me à totalidade dos textos de todas as grandes religiões, e não apenas à Bíblia ou às escrituras Bahá'ís) dizem-nos que somos criados à imagem de Deus. Ou isto reflecte a nossa realidade física (o que é improvável por variadíssimas razões) ou a nossa realidade espiritual. Isso significa que o nosso intelecto - a que Bahá'u'lláh chama a alma racional - reflecte o intelecto divino. Assim, considerando que nós somos sencientes, é lógico que se o nosso intelecto é um reflexo de Deus, então Ele também seja senciente.

S. Tomás de Aquino
Tal como disse S. Tomás de Aquino, “Deus é senciente numa forma super-eminente”.

O meu filho, que estudava física, também tinha algumas ideias sobre este assunto. Ele postulou uma dimensão adicional na qual Deus opera (ele designou-a como "a dimensão Deus", naturalmente), que é uma dimensão de perspectiva. Apesar de nós termos apenas uma perspectiva, Deus "vê" as coisas simultaneamente de todas as perspectivas. O mais próximo a que consigo chegar para apreciar isso é olhar para a génese do livro que estou a escrever. Faço a narração de uma história na perspectiva de meia dúzia de personagens diferentes e tenho que me colocar na pele de cada uma para fazer o meu trabalho.

Para mim, e em mim, isto significa que os nossos pensamentos e sentimentos são simultaneamente iguais e diferentes dos de Deus, da mesma forma que o reflexo de uma imagem num espelho é simultaneamente igual e diferente da imagem original. O objecto original tem pelo menos três dimensões; o espelho tem apenas duas. Deus (o Objecto Original) tem – como o meu filho gosta de dizer – outras dimensões que as Suas criações (incluindo nós) não têm.

É evidente que também devem existir outras diferenças. Muitos dos nossos pensamentos e sentimentos são resultado de interacções entre a nossas realidades material/física e espiritual/intelectual. Deus, não tendo componente material/física, não pode existir entre estas duas realidades tal como nós. As escrituras indicam que possuímos uma natureza material e também espiritual, e que o rumo das nossas vidas e a nossa educação leva-nos a fortalecer a parte espiritual, que é a que prevalece. Acredito que é a existência deste “espírito de Deus no homem” a que Bahá’u’lláh se refere quando afirma “Quem se conheceu a si próprio, conheceu Deus”

Por isso, quando recentemente alguém me perguntou “Porque é que Deus nos criou?”, respondi com umas palavras de Bahá’u’lláh:

Ó Filho do Homem! Velado no Meu ser imemorial e na eternidade antiga da Minha Essência, conheci o Meu amor por ti; por isso, criei-te, gravei em ti a Minha imagem e revelei-te a Minha beleza (Palavras Ocultas, Árabe #3)

A próxima pergunta, naturalmente, é “O que é que isso significa?” Se eu olhar para os meus próprios impulsos criativos quando escrevo ficção, compreendo – de forma parcial – a ideia de gostar de alguma coisa antes de ela existir. Antes de escrever uma palavra nos meus romances sobre as minhas personagens favoritas, eu amo-as, e esse amor por essas criaturas bidimensionais torna-se o impulso gerador que me leva a criar mundos para elas e a escrever sobre elas nesses mundos.

Assim, a minha resposta breve ao Maynard é: “Sim, Deus é senciente. E sim, Ele tem pensamentos e sentimentos que são simultaneamente iguais e diferentes dos nossos”

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Artigo Anterior: Onde está Deus?

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Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

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