A questão nº2 do meu amigo ateu era: Deus existe no espaço?
Vejamos o que dizem alguns fundadores das grandes religiões:
Deus habita no coração de todos os seres, Arjuna. O vosso Deus habita no vosso coração. E o Seu poder maravilhoso move todas as coisas… (Krishna, Bhagavad Gita 18:61)As Escrituras destas religiões (Hinduísmo, Cristianismo e Fé Bahá’í) apesar de separadas por milhares de anos, falam do “lugar” de Deus como sendo o coração humano. Nas Escrituras Bahá’ís, Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá usam uma linguagem mais directa e atribuem este “reino” àquilo que Bahá’u’lláh refere como a “alma racional”, a faculdade de raciocínio que nos distingue dos animais. É assim que eu entendo o conceito (que surgiu nas Escrituras há milhares de anos) que a humanidade foi criada à imagem de Deus.
Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada (Cristo, João 14:23)
Ó Filho do Pó! Tudo o que está no céu e na terra eu ordenei para ti, excepto o coração humano, que Eu fiz habitação da Minha beleza e glória… (Bahá’u’lláh, Palavras Ocultas, #27)
Sempre apreciei a forma como Krishna o descreve:
Brahman é o Supremo, o Eterno. Atman é o Seu Espírito no homem. Karma é a força da criação, da qual todas as coisas recebem a sua vida. (Bhagavad Gita, 8:3)De que forma é que Deus habita nos nossos corações? Baseado na observação e no registo das Escrituras, diria que Ele habita ali quando vivemos segundo os princípios e práticas espirituais que podem transformar a vida e o carácter humano.
Quão literalmente podemos entender isto? No fundo, o coração físico não é o centro das nossas emoções, independentemente da forma como este e outros órgãos reagem quando um ser humano fica alegre, triste, com medo ou desmaia. Assim, diria que uma resposta à pergunta original é que Deus existe dentro de nós de uma forma que experimentamos, mas apenas podemos usar metáforas para descrever isso.
Haverá mais do que isso? Certamente, mas, tal como referi na resposta à primeira pergunta, Deus está de alguma forma inter-ligado à Sua criação e existe para além dela. Tal como Krishna disse:
Sabei que com uma única fracção do meu Ser, penetro e suporto todo o universo e sabe que eu SOU. (Bhagavad Gita 10:42)Krishna atribui a Deus a existência absoluta (um conceito repetido em fontes tão distintas como as escrituras Hebraicas, Budistas e Bahá’ís) assim como a capacidade para penetrar e suportar todo o universo sem ficar dentro dele. E Buda refere-Se a este Ser absoluto nestes termos:
Existe, ó monges, um Não-Nascido, Não-Originado, Não-Criado, Não-Formado. Não fosse, ó monges, este Não-Nascido, Não-Originado, Não-Criado, Não-Formado, não haveria saída do mundo do nascido, do originado, do formado. (Udana 80-81)Dei por mim a pensar o seguinte: o intelecto humano, entre tudo o que existe na criação, tem a capacidade para sair do mundo “do nascido, do originado, do formado”. Por outras palavras, pode escapar à condição animal e às limitações impostas pela natureza, não apenas através do pensamento abstracto, mas também observando, articulando e manipulando a realidade.
Se, como as Escrituras sugerem, somos “descendentes de um Bloco Divino”, porque é tão difícil para alguns de nós aceitar a ideia de um Ser sem lugar e ainda mais poderoso que o nosso intelecto, e ainda mais capaz de criar e manipular a realidade?
Parece-me que quando negamos a possibilidade da existência de Deus, também estamos a pôr em dúvida a realidade da nossa própria existência.
Mas já me afastei do meu assunto. Para resumir, Deus não está num “local” físico do céu - especialmente se com isso nos referimos ao espaço. Na verdade, Bahá’u’lláh refere-Se a Deus como o Sem Lugar. Claramente, quando as escrituras falam dos “céus”, não se referem aos céus físicos em torno do nosso planeta ou o cosmos, mas algo completamente diferente. Bahá’u’lláh refere repetidamente “o céu da vontade de Deus”, o que é algo que podemos encontrar através de uma busca intelectual em vez de uma busca física.
Ao apresentar provas da existência de Deus, Bahá’u’lláh cita Maomé:
“E também em vós próprios: não vedes aí os sinais de Deus?”E depois acrescenta:
“Quem se conheceu a si próprio, conheceu Deus” (Kitab-i-Iqan, p. 102)
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Texto original: What’s God’s Address? (www.bahaiteachings.org)
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Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.
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