sábado, 7 de janeiro de 2017

E se as mulheres governassem o mundo?



Será que faria diferença nos esforços de paz se existissem mais mulheres a participar na governação do nosso mundo, em todos os níveis?

No passado, o mundo viu mulheres a chefiar governos, e de acordo com as Nações Unidas, temos hoje 18, num total de quase 200 países no mundo. Ainda não parece ter feito uma grande diferença na política global, mas talvez o número de mulheres em posições de liderança internacional ainda seja demasiado pequeno para ver novas tendências emergir nesse mar de masculinidade.

Então, como podemos escapar da gravidade dos sistemas que herdámos e construir modelos de governação mais equilibrados, que reflictam o futuro equilibrado e pacífico que realmente pretendemos?

A história mostra que os mais poderosos e os mais agressivos entre nós costumam governar. Mas esse domínio começou gradualmente a mudar para uma era mais pacífica que enfatiza os direitos humanos e as soluções diplomáticas; trata-se de uma tendência que foi analisada por pensadores como Steven Pinker e Mary-WynneAshford. Ambos acompanharam o nosso progresso regular em direcção a menos violência e menos guerras, apesar das impressões generalizadas em sentido oposto.

É interessante notar que esta mudança a longo prazo foi prevista como muito frutuosa no futuro pelos ensinamentos Bahá’ís:

O mundo no passado foi governado pela força e o homem tem dominado a mulher devido às suas qualidades de maior força e agressividade, tanto do corpo como da mente. Mas o equilíbrio já está a mudar; a força está a perder o seu domínio, e o estado de alerta mental, a intuição e as qualidades espirituais de amor e serviço, em que a mulher é forte, estão a ganhar ascendência. Consequentemente, a nova era será uma época menos masculina e mais permeada com os ideais femininos, ou, para falar mais precisamente, será uma época em que os elementos masculinos e femininos da civilização estarão mais equilibrados. ('Abdu'l-Bahá, de uma entrevista a um jornal em 1912, Star of the West, Volume 2, p. 4)

É claro que associar as mulheres com a paz suscitará muitas vezes a resposta de que as mulheres não são inerentemente mais pacíficas do que os homens. É bem verdade que não devemos fazer juízos antecipados com base no género, raça ou etnia. Mas colectivamente, em todos estes casos, há um
motivo para querer que os números reflictam a mistura social. Isto implica superar expectativas e padrões de pensamento tão enraizados que até parecem invisíveis.

Lembro-me de ser encorajada, quando era jovem na década de 1970, a "entrar no mundo dos homens" e a "competir em pé de igualdade". Esta terminologia era inquestionável nessa época, mesmo entre as feministas. Desde então, já percorremos um longo caminho. O próximo passo parece óbvio: apreciar e respeitar igualmente as diferenças de género. Os ensinamentos Bahá’ís dizem que quando as mulheres possuírem orgulhosamente as qualidades tradicionalmente consideradas femininas e os homens desejarem essas qualidades, estaremos no caminho para uma idade de ouro:

A emancipação das mulheres, a realização da plena igualdade entre os sexos, é um dos pré-requisitos mais importantes, embora menos reconhecidos, para a paz. A negação dessa igualdade é uma injustiça contra metade da população mundial e promove nos homens atitudes e hábitos prejudiciais que são levados da família para o local de trabalho, para a vida política e, finalmente, para as relações internacionais. Não há motivos morais, práticos ou biológicos, sobre os quais essa negação possa ser justificada. Somente quando as mulheres forem recebidas como parceiras plenas em todos os campos dos empreendimentos humanos, será criado o clima moral e psicológico no qual a paz internacional pode emergir. (A Casa Universal de Justiça, A Promessa da Paz Mundial, p. 3)

É encorajador saber que ensinamentos Bahá’ís como estes já foram considerados radicais, em todos os locais do mundo. Desde o seu surgimento em 1844 no Irão, a igualdade dos sexos tem sido um dos ensinamentos fundamentais da Fé Bahá'í. Sempre considerei esta visão a longo prazo como inspiradora e como um bom antídoto para qualquer mal-estar político passageiro.

No Dia Internacional da Mulher em 1993 - há quase 25 anos atrás - a declaração publicada pelas Nações Unidas expressou uma verdade que continua a ser importante:

A luta pelos direitos das mulheres e a tarefa de criar uma nova Organização das Nações Unidas capaz de promover a paz e os valores que a alimentam e sustentam são uma e a mesma coisa. Hoje - mais do que nunca - a causa das mulheres é a causa de toda a humanidade.

Apesar do progresso constante mas desigual, esse momento decisivo para escolher colectivamente a paz mundial ainda nos tem escapado. Exigirá um enorme esforço e uma ampla mudança filosófica para construir conscientemente sistemas de governação comprometidos com a colaboração mútua, com a não-violência, e com a consolidação do espírito humano. Intuitivamente, é lógico que um maior envolvimento das mulheres aceleraria esta evolução cultural, e que será necessário um número suficiente para conseguirmos o equilíbrio. Mais cedo ou mais tarde, chegaremos lá.

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Sheila Flood vive com o marido na British Columbia (Canadá) onde participa activamente em actividades Bahá’ís. É também colaboradora do blog Spiritually Speaking.

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