Por David Langness.
"Não sou nem ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo." (Diógenes)
Alguém se
lembra de ter ouvido falar de Diógenes na escola? Geralmente, pensamos nele
como aquele filósofo grego antigo que deambulava com uma lanterna e dizia às
pessoas que estava "à procura de um homem honesto".
Mas essa
pequena história, com que Diógenes provavelmente pretendeu fazer um comentário
irónico sobre a sua sociedade, é apenas uma pequeníssima parte da vida desse
homem fascinante.
Diógenes de
Sinope (a cidade na actual Turquia onde ele nasceu) também ficou conhecido como
Diógenes, o Cínico - e não é o tipo de cínico mais fácil de reconhecer.
A escola
cínica da filosofia grega começou com Diógenes. Ele sentia que o objectivo da
vida incluía adquirir virtudes humanas e viver em harmonia com a natureza - e sentia
que a maneira de fazer essas coisas era rejeitar a sociedade e moralidade
convencionais, expressando as suas ideias filosóficas através de actos e não de
palavras. Diógenes acreditava que os seres humanos só poderiam alcançar a
felicidade ao desprender-se dos desejos - por coisas como a fama, riqueza, sexo
e poder - e levando uma existência simples, natural, e não possuindo bens
materiais.
Provavelmente
influenciado pelos ideais budistas e pelos primeiros ensinamentos cristãos, a
filosofia do cinismo de Diógenes espalhou-se pelo Império Romano no primeiro
século EC.
Diógenes fez
da sua filosofia o seu estilo de vida. Criticava as convenções, rejeitava bens,
não usava sapatos mesmo no inverno e dormia numa grande bilha de barro na praça
da cidade. Hoje as pessoas podem pensar em alguém como Diógenes como um
sem-abrigo ligeiramente perturbado; mas no seu tempo ele satirizou Platão,
interrompeu os seus discursos, ridicularizou os valores sociais corruptos e as
instituições da sociedade grega, e escarneceu publicamente Alexandre, o Grande.
A famosa história sobre a lanterna? Provavelmente, Diógenes andou com ela em
Atenas durante o dia, para satiricamente apontar o facto de não se poder
encontrar nenhum homem honesto na Grécia, dia ou noite.
Quando encontrou
Alexandre, o Grande - famoso conquistador e conhecido como "Rei dos
Reis" - Diógenes contemplava uma pilha de ossos humanos. Ele disse ao Rei,
que tinha escravizado populações inteiras: "Estou à procura dos ossos de
seu pai, mas não posso distingui-los dos de um escravo".
Quando
Diógenes disse "Não sou nem ateniense nem grego, mas sim um cidadão do
mundo", começou um movimento de massas. De repente, as pessoas intitulavam-se
"cosmopolitas" - cosmos
significando todo o mundo conhecido e polis significando cidade. Essa afirmação
radical de cidadania mundial continha uma crítica acentuada ao sistema de
cidades-estado que se guerreavam, e afectou todo o mundo civilizado à medida
que se espalhava. Ajudou a iniciar a escola filosófica do estoicismo, que
sustentava que cada pessoa pertence a duas comunidades: a comunidade local do
seu nascimento e toda a comunidade humana. Em última análise, influenciou
fortemente filósofos e pensadores Immanuel Kant, Jacques Derrida, Thich Nhat
Hanh e muitos outros; e por fim, inspirou a formação do crescente movimento de
Cidadãos Globais.
Os
ensinamentos Bahá’ís incluem a perspectiva da cidadania mundial - tal como
Diógenes e os cosmopolitas - mas os Bahá’ís trabalham activamente para tornar
a cidadania mundial uma realidade, em vez de apenas um conceito filosófico.
Bahá'u'lláh afirmou: "A terra não é senão um país e a humanidade seus
cidadãos." 'Abdu'l-Bahá exortou todas as pessoas a considerarem-se
cidadãos do planeta:
Os povos do futuro não dirão,
"eu pertenço à nação de Inglaterra, de França ou da Pérsia"; pois
todos eles serão cidadãos de uma nacionalidade universal - a família única, o país
único, o mundo único da humanidade - e então essas guerras, ódios e lutas terminarão. ('Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 18)
Acima de
tudo, a Fé Bahá'í ensina, formula e exemplifica o ideal da unidade. Exorta-nos
a derrubar as barreiras entre as pessoas e as nações. Encoraja-nos a expandir os
nossos horizontes e ampliar a nossa visão, passando de uma identidade
estritamente local, regional, étnica, racial ou nacional a uma cidadania global
que podemos afirmar como nosso direito de nascimento espiritual.
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Texto original: I Am a Citizen ofthe World (www.bahaiteachings.org)
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David
Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor
e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
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