sábado, 14 de janeiro de 2017

Sou um Cidadão do Mundo



"Não sou nem ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo." (Diógenes)

Alguém se lembra de ter ouvido falar de Diógenes na escola? Geralmente, pensamos nele como aquele filósofo grego antigo que deambulava com uma lanterna e dizia às pessoas que estava "à procura de um homem honesto".

Mas essa pequena história, com que Diógenes provavelmente pretendeu fazer um comentário irónico sobre a sua sociedade, é apenas uma pequeníssima parte da vida desse homem fascinante.

Diógenes de Sinope (a cidade na actual Turquia onde ele nasceu) também ficou conhecido como Diógenes, o Cínico - e não é o tipo de cínico mais fácil de reconhecer.

A escola cínica da filosofia grega começou com Diógenes. Ele sentia que o objectivo da vida incluía adquirir virtudes humanas e viver em harmonia com a natureza - e sentia que a maneira de fazer essas coisas era rejeitar a sociedade e moralidade convencionais, expressando as suas ideias filosóficas através de actos e não de palavras. Diógenes acreditava que os seres humanos só poderiam alcançar a felicidade ao desprender-se dos desejos - por coisas como a fama, riqueza, sexo e poder - e levando uma existência simples, natural, e não possuindo bens materiais.

Provavelmente influenciado pelos ideais budistas e pelos primeiros ensinamentos cristãos, a filosofia do cinismo de Diógenes espalhou-se pelo Império Romano no primeiro século EC.

Diógenes fez da sua filosofia o seu estilo de vida. Criticava as convenções, rejeitava bens, não usava sapatos mesmo no inverno e dormia numa grande bilha de barro na praça da cidade. Hoje as pessoas podem pensar em alguém como Diógenes como um sem-abrigo ligeiramente perturbado; mas no seu tempo ele satirizou Platão, interrompeu os seus discursos, ridicularizou os valores sociais corruptos e as instituições da sociedade grega, e escarneceu publicamente Alexandre, o Grande. A famosa história sobre a lanterna? Provavelmente, Diógenes andou com ela em Atenas durante o dia, para satiricamente apontar o facto de não se poder encontrar nenhum homem honesto na Grécia, dia ou noite.

Quando encontrou Alexandre, o Grande - famoso conquistador e conhecido como "Rei dos Reis" - Diógenes contemplava uma pilha de ossos humanos. Ele disse ao Rei, que tinha escravizado populações inteiras: "Estou à procura dos ossos de seu pai, mas não posso distingui-los dos de um escravo".

Quando Diógenes disse "Não sou nem ateniense nem grego, mas sim um cidadão do mundo", começou um movimento de massas. De repente, as pessoas intitulavam-se "cosmopolitas" - cosmos significando todo o mundo conhecido e polis significando cidade. Essa afirmação radical de cidadania mundial continha uma crítica acentuada ao sistema de cidades-estado que se guerreavam, e afectou todo o mundo civilizado à medida que se espalhava. Ajudou a iniciar a escola filosófica do estoicismo, que sustentava que cada pessoa pertence a duas comunidades: a comunidade local do seu nascimento e toda a comunidade humana. Em última análise, influenciou fortemente filósofos e pensadores Immanuel Kant, Jacques Derrida, Thich Nhat Hanh e muitos outros; e por fim, inspirou a formação do crescente movimento de Cidadãos Globais.

Os ensinamentos Bahá’ís incluem a perspectiva da cidadania mundial - tal como Diógenes e os cosmopolitas - mas os Bahá’ís trabalham activamente para tornar a cidadania mundial uma realidade, em vez de apenas um conceito filosófico. Bahá'u'lláh afirmou: "A terra não é senão um país e a humanidade seus cidadãos." 'Abdu'l-Bahá exortou todas as pessoas a considerarem-se cidadãos do planeta:

Os povos do futuro não dirão, "eu pertenço à nação de Inglaterra, de França ou da Pérsia"; pois todos eles serão cidadãos de uma nacionalidade universal - a família única, o país único, o mundo único da humanidade - e então essas guerras, ódios e lutas terminarão. ('Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 18)

Acima de tudo, a Fé Bahá'í ensina, formula e exemplifica o ideal da unidade. Exorta-nos a derrubar as barreiras entre as pessoas e as nações. Encoraja-nos a expandir os nossos horizontes e ampliar a nossa visão, passando de uma identidade estritamente local, regional, étnica, racial ou nacional a uma cidadania global que podemos afirmar como nosso direito de nascimento espiritual.

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.


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