Alguma vez sonhou ser famoso(a)? Quase todas as pessoas têm esse sonho num momento ou outro - é um desejo surpreendentemente generalizado.
Sim, é uma fantasia comum: toda a gente conheceria o seu nome, a sua cara e aquilo que o torna tão famoso. Quando nos sentimos desrespeitados, desprezados e ignorados, é difícil resistir à emanação de prazer que vem de fantasiar sobre a fama.
Normalmente, esse desejo de excelência foca-se em algo específico. Queremos ser grandes artistas, engenheiros, industriais, líderes ou qualquer outra coisa que nos interesse. A maioria de nós não procura ser "famoso por ser famoso", a forma seguida por algumas quase-celebridades. A questão é que se fossemos óptimos em alguma, seria melhor que também fôssemos reconhecidos por isso.
É bom mantermos esse desejo de excelência. Mas é importante que consigamos separá-lo, tanto quanto possível, do desejo de fama. O caminho para a excelência encoraja-nos a desenvolver as nossas capacidades e a colocá-las em prática. O caminho para a fama pode cair rapidamente num remoinho de ego, vaidade e ilusão. Segundo as escrituras de muitas religiões, um destes caminhos agrada a Deus; mas o outro cega a nossa percepção espiritual.
Segundo o Evangelho de Mateus, Jesus disse:
Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles: aliás não tereis galardão junto do vosso Pai que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita; Para que a tua esmola seja dada ocultamente: e teu Pai, que vê em segredo, te recompensará publicamente. (Mateus 6: 1-4)Este é o segredo da fama: o mais importante não é o que outras pessoas pensam de nós. É o que Deus - que é o autor da própria bondade - pensa em nós. Quando as nossas acções são orientadas em função da aprovação de Deus, em vez da aprovação humana, tentamos harmonizar-nos com o trabalho da providência divina. Não é importante se somos lembrados, ou não, por fazer isso.
Bahá’u’lláh, o fundador da Fé Bahá’í, escreveu:
Ser-vos-ia proveitoso se, como ingenuamente imaginais, os vossos nomes perdurassem? … Se os vossos nomes desaparecerem de toda mente mortal, e ainda assim Deus estivesse agradado convosco, serieis, de facto, contados entre os tesouros do Seu nome, o Mais Oculto. (Summons of the Lord of Hosts, p. 46)Estas duas citações apresentam imensa sabedoria, porque não são apenas sobre desprendimento deste mundo, mas também como nos envolvermos eficientemente com ele. Ao separar a excelência espiritual da fama, as citações ilustram a sabedoria espiritual que também inclui sabedoria prática.
O progresso do mundo é impulsionado por uma vasta rede de contributos de multidões de pessoas que nunca poderiam ser comemoradas individualmente. Nenhum génio recordado pela história faz uma descoberta inovadora sem os muitos avanços modestos daqueles que vieram antes dele. Nenhum conquistador histórico pode capturar uma simples aldeia sem soldados, cujos nomes são mal conhecidos até mesmo pelos seus comandantes. Nenhum empresário "constrói uma empresa" sem a ajuda de funcionários e outros parceiros. Mesmo quando somos muito competitivos, a cooperação é um modo de fazer coisas, à qual é tão difícil fugir; é como se estivesse virtualmente registada na nossa essência como seres humanos.
Elevar uma pessoa à custa de todos as outras pode ser uma táctica de liderança útil em alguns casos. A fama e a celebridade podem vender programas de televisão, filmes e revistas. Mas também comportam o risco de distorcer a percepção de como realmente evolui qualquer esforço colectivo. A realidade é esta: as nossas contribuições para o progresso e o bem-estar da humanidade podem durar mais do que a memória de qualquer pessoa. Prestar atenção excessiva a quem é proeminente e famoso distorce essa realidade.
O mundo está cheio de heróis desconhecidos. A maneira como comemoramos as realizações do passado e nos encorajamos uns aos outros para o futuro deve levar isso em conta. Só porque alguém é esquecido isso não significa que o que eles fizeram não é valioso. A realização em si é desejável - mas a fama efémera que cerca a realização não dura para sempre.
Assim, na próxima vez em que pensarmos ingenuamente na fama, talvez devêssemos pensar em honrar as massas anónimas em cujos ombros nos encontramos agora, e a cujas incontáveis fileiras poderemos um dia ter a sorte de nos juntar.
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Texto original: The Illusions of Fame and the Pursuit of True Greatness (www.bahaiteachings.org)
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Greg Hodges é um apaixonado pela combinação da mudança social com a renovação espiritual. Vive com a sua esposa no Maine (EUA).
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