Quando S. Tomás de Aquino escreveu as “Cinco Vias” para provar que Deus existe, muitas pessoas acreditaram que ele provara de forma definitiva a existência de um Criador; outros, porém, argumentavam que as “Cinco Vias” eram circulares e não nada provavam.
S. Tomás de Aquino |
A prova de Deus mais conhecida de S. Tomás - a ideia de causa e efeito - ainda persiste, mil anos depois de ele a ter apresentado. É óbvio que S. Tomás não a inventou - os autores foram Platão e Aristóteles - mas a maioria dos pensadores e filósofos atribuem a S. Tomás o mérito de a ter afirmado de forma tão clara e económica. Na sua expressão mais simples, este argumento segue este caminho lógico:
- Todos os seres finitos e contingentes têm uma causa.
- Nada que seja finito e contingente pode ser a causa de si próprio.
- Uma cadeia causal não pode ter comprimento infinito.
- Portanto, a Primeira Causa (ou algo que não é um efeito) tem que existir.
Se pensarmos nos antigos gregos, que perceberam este conceito coerente muito antes de os cientistas começarem a compreender o Universo tal como o conhecemos hoje, o argumento é ainda mais impressionante. Agora aceite por muitos, a ciência designa essa teoria de causa-efeito "o Big Bang" quando aplicada à criação do universo. A versão científica é assim:
- Tudo o que tem um início tem uma causa.
- A existência do Universo teve um início.
- Portanto, o Universo teve uma causa.
Esta lógica sustenta grande parte do nosso entendimento científico actual. Claro, ninguém pôde ainda provar que o universo teve uma "Primeira Causa", embora esta teoria seja, de longe, a história de criação prevalecente na ciência de hoje.
No entanto, muitos dos crentes e teóricos do Big Bang, que constituem a maioria dos cientistas de hoje, também percebem o erro nessa lógica aparentemente clara: o chamado problema de regressão infinita. A regressão infinita, basicamente, argumenta que se o universo tivesse uma primeira causa, o que causou essa primeira causa? Por outras palavras, se a causa e o efeito estiverem sempre em vigor, então, como poderia existir uma "primeira" causa?
Os ensinamentos Bahá’ís abordam esta profunda questão filosófica e científica de uma forma inovadora e completamente única, que alguns físicos teóricos e astrofísicos que estudam buracos negros também começaram a postular. Este entendimento científico e espiritual suporta a questão da causa-efeito sem o problema da regressão infinita. É o chamado “universo não criado”, que combina a ideia de causa-efeito com um conceito muito mais compreensível da Primeira Causa:
Sabe, com toda a certeza, que todas as coisas visíveis têm uma causa. Por exemplo, esta mesa é feita por um carpinteiro; o seu criador é o carpinteiro. Portanto, como estes objectos não se criaram a si próprios, eles não estão na natureza das coisas eternas; mas precisam de uma força auxiliar transformadora, embora na sua essência sejam muito antigas no tempo; mas a sua existência antiga e eterna não se deve à forma temporária.Aqui e em muitos outros textos das escrituras Bahá'ís, ‘Abdu'l-Bahá apresenta um argumento extremamente importante que combina a ciência mais avançada com o vasto e ilimitado entendimento de Deus:
Por exemplo, o mundo dos elementos não pode ser aniquilado, porque a existência pura não pode ser aniquilada; e o que observamos são modificações transformadoras na composição da essência. A combinação de diferentes elementos formou o homem físico; quando a composição é destruída, os elementos regressarão para as suas partes componentes. A aniquilação completa não pode acontecer.
O universo nunca teve um início. Do ponto de vista da essência, ele transforma-se. Deus é eterno na essência e no tempo. Ele é a sua própria existência e causa. É por isso que o mundo material é eterno em essência, pois o poder de Deus é eterno. (‘Abdu’l-Bahá, Divine Philosophy, pp. 106-107)
Assim, se houvesse um momento em que Deus não manifestasse as Suas qualidades, então não havia Deus, porque os atributos de Deus pressupõem a criação dos fenómenos. Por exemplo, por consideração, dizemos que Deus é o criador. Então, deve existir uma criação - uma vez que o atributo criador não se pode limitar ao momento em que algum homem ou homens percebem esse atributo. Os atributos que descobrimos um a um - esses atributos existem antes de os descobrirmos. Portanto, Deus não tem início nem fim; nem a Sua criação está limitada em grau. As limitações de tempo e grau pertencem às coisas criadas, nunca à criação como um todo. (‘Abdu’l-Bahá, Foundations of World Unity, p. 52)Aristóteles e S. Tomás levaram-nos à vanguarda da ciência contemporânea. (…)
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Texto original: God - Cause and Effect (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA
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