sábado, 5 de maio de 2018

O Significado Espiritual das Rosas

Por Maya Mansour.


A irmã do meu pai gosta de cultivar coisas. Em todas as casas onde viveu, tinham na frente um jardim de rosas.

Ela passa o tempo a tratar cuidadosamente das suas rosas, e isso não passa despercebido. Até hoje, não consigo pensar em rosas sem pensar também nela.

As rosas são uma das flores mais facilmente reconhecíveis, mesmo na sua diversidade. Existem pelo menos 100 espécies diferentes de rosas e milhares rosas híbridas. Esta flor antiga simboliza várias coisas: do amor à guerra, de diferentes lugares a uma série de emoções. As suas cores variadas têm diferentes conotações: as rosas amarelas simbolizam amizade, as rosas cor-de-pêssego representam admiração ou apreço e, mais as conhecidas, as rosas vermelhas transmitem uma sensação de amor romântico.

O mais antigo vestígio de uma rosa remonta a um fóssil com 35 milhões de anos; a flor foi usada no Iraque desde 2000 aC para fins ornamentais e para produzir água de rosas e perfumes. As rosas podem ser encontradas em todo o mundo e têm sido usadas ao longo da história como moeda, em demonstrações de beleza, para fins medicinais e pelo seu aroma encantador.

As rosas são mencionadas mais do que qualquer outra flor nas escrituras Bahá’ís. A forma como Bahá’u’lláh descreve as rosas é como se elas fossem uma fonte de inspiração divina. O seu uso frequente da rosa como uma metáfora encoraja-nos a absorver e interiorizar o que as rosas têm a oferecer: beleza, fragrância e energia pura.

Uma maneira pela qual podemos explorar o seu poder espiritual é imitar o seu processo de crescimento na forma como nos aprofundamos e construímos a comunidade. Apesar das rosas terem capacidade para crescer livremente, um jardim de rosas que seja saudável e bonito requer imenso cuidado. Um jardim cheio de rosas personifica os ensinamentos Bahá’ís sobre unidade, unidade na diversidade e o amor de Deus:
Associai-vos uns aos outros, pensai uns nos outros e sejam como um jardim de rosas. Qualquer pessoa que entrar num jardim de rosas verá várias rosas, brancas, rosadas, amarelas, vermelhas, todas crescendo juntas e repletas de beleza. Cada um acentua a beleza da outra. Se todas fossem da mesma cor, o jardim seria monótono para os olhos. Se fossem todas brancas, ou amarelas ou vermelhas, o jardim não teria variedade e encanto; mas quando as cores são variadas, branco, rosa, amarelo, vermelho, existe a maior beleza. Portanto, espero que sejam como um jardim de rosas. Apesar de diferentes nas cores, no entanto - louvado seja Deus! - recebem raios do mesmo sol. ('Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 427)

Se os corações forem tocados com o calor do amor de Deus, esse território tornar-se-á um jardim de rosas divinas e um paraíso celestial, e as almas, tal como árvores frutíferas, terão a maior frescura e beleza. (‘Abdu'l-Bahá, Tablets of the Divine Plan, p. 28)
Tal como os ensinamentos Bahá’ís usam um jardim de rosas para descrever uma comunidade ideal e carinhosa, também o comparam ao coração humano. Somos encorajados a segurar-nos firmemente à “rosa do amor” dentro deste jardim do nosso coração. Esse amor não se refere ao amor romântico, mas ao tipo de amor espiritual que caracteriza as relações dotadas de qualidades virtuosas:
Ó Amigo! No jardim do teu coração, nada plantes salvo a rosa do amor e não te desprendas do rouxinol do afecto e do desejo. Estima a companhia dos justos e evita toda a associação com os ímpios. (Bahá’u’lláh, As Palavras Ocultas, do persa, #3)
Observar como a minha tia trata carinhosamente do seu jardim de rosas permitiu-me ver uma bela metáfora sobre como eu deveria cultivar as minhas relações com os outros e desenvolver as minhas qualidades espirituais por amor. Esta metáfora permite-me explorar as intenções por detrás das escolhas que faço diariamente: começo a pensar no que faço em termos de ajudar ou prejudicar o crescimento do jardim no meu coração.

Bahá’u’lláh escreveu:
No Jardim de Rosas do esplendor imutável, começou a surgir uma Flor, comparada com a qual todas as outras flores são apenas um espinho, e perante o brilho da Sua glória, a própria essência da beleza fica pálida e murcha. Levantai-vos, pois, e - com todo o entusiasmo dos vossos corações, com toda a avidez das vossas almas, o pleno fervor da vossa vontade e os esforços concentrados de todo o vosso ser - esforçai-vos para alcançar o paraíso da Sua presença e esforçai-vos para inalar a fragrância da Flor incorruptível, para respirar os doces aromas da santidade e para obter uma porção deste perfume de glória celestial. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, sec. CVLI)
Uma pessoa ser comparada a uma rosa - como todos nós estamos nas escrituras Bahá’ís - é algo incrivelmente poderoso, considerando o peso espiritual dessa flor.

Isto lembra-me uma situação em que ‘Abdu'l-Bahá distinguiu intensamente uma pessoa como uma rosa. Quando ‘Abdu'l-Bahá estava em Nova Iorque, em 1912, caminhando perto da Missão Bowery com alguns dos seus companheiros; alguns eram americanos e outros eram estrangeiros. Esse grupo de pessoas destacava-se de todos os outros no bairro. Os transeuntes nas ruas olhavam para eles e algumas crianças começaram a fazer troça de ‘Abdu'l-Bahá e dos Bahá’ís que O acompanhavam.

Uma pessoas - a Sra. Kinney - era uma das anfitriãs de ‘Abdu’l-Bahá durante a Sua viagem nos Estados Unidos. Ela parou e explicou aos rapazes que ‘Abdu'l-Bahá era um homem santo que sofrera muito para partilhar a Sua mensagem com pessoas de todo mundo. Seguidamente convidou as crianças a visitar a sua casa onde ‘Abdu'l-Bahá estava hospedado para que pudessem encontrar-se com Ele.

Para sua surpresa, no dia e hora marcadas, as crianças apareceram em sua casa, onde ‘Abdu'l-Bahá as recebeu com sorrisos. A última criança a entrar em casa da Sra. Kinney era um jovem negro. Quando ‘Abdu’l-Bahá viu aquele rapaz, o Seu rosto iluminou-se e disse em voz alta: “Aqui está uma rosa negra!” É desnecessário dizer que aquelas simples palavras tiveram um efeito profundo:
Os outros rapazes olharam para ele com outros olhos. Arrisco-me a dizer que já lhe tinham chamado “preto-muita-coisa”, mas nunca “rosa negra”. Este incidente relevante deu uma nova aparência ao momento. A atmosfera da sala parecia agora carregada de vibrações subtis sentidas por todas as almas. Os rapazes, embora não perdessem nada da sua descontracção e simplicidade, estavam mais sérios e mais atentos a ‘Abdu'l-Bahá, e eu notei que olhavam insistentemente para o menino de cor com olhar muito pensativo. Para os poucos amigos presentes na sala, a cena apresentava visões de um novo mundo no qual toda a alma seria reconhecida e tratada como um filho de Deus. Pensei: o que aconteceria a Nova Iorque se esses rapazes pudessem levar uma recordação profunda dessa experiência de maneira que, ao longo das suas vidas, sempre que encontrassem representantes das muitas raças e cores que se encontravam naquela grande cidade, pensariam neles e tratá-los-iam como “flores de diferentes cores no Jardim de Deus”. - Howard Colby Ives, Portals to Freedom, p. 64-65.
Ao longo de toda a Sua vida, ‘Abdu'l-Bahá escolheu continuamente ser um exemplo de como podemos celebrar a diversidade. Dos Seus escritos sobre jardins de rosas e pelo entusiasmo que mostrou ao ver uma criança que era diferente das outras, acredito que Ele estava a encorajar-nos a vermo-nos uns aos outros como rosas de amor.

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Texto Original: The Spiritual Significance of Roses (www.bahaiteachings.org)

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Maya Mansour estudou artes no The Evergreen State College e os seus trabalhos têm sido publicados em várias plataformas, incluindo Ebony, SoulPancake, and the Journal of Critical Scholarship on Higher Education and Student Affairs.

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