Certamente já ouviram esta pergunta: “Será que Deus consegue criar uma pedra tão pesada que Ele próprio não consiga levantar?”. O objectivo é refutar o argumento de um Deus omnipotente.
Aqui a linha de raciocínio é a seguinte: “Se Deus é todo-poderoso, então deve ser capaz de criar de criar uma pedra que Ele próprio não consegue levantar. Se Ele não consegue criar essa pedra, então não é todo-poderoso. Se Ele não consegue levantá-la, então não é todo-poderoso. Portanto, não existe um Deus omnipotente.”
Este raciocínio baseia-se em suposições sobre Deus e os seres humanos. Primeiro temos a suposição de que Deus é uma criatura como nós, para quem a actividade física de levantar objectos é aplicável e tem significado. E depois temos a suposição de que os humanos podem compreender o conceito de omnipotência tal como se aplica a Deus.
Fui criada com uma noção claramente Cristã sobre Deus, moldada pela insistência dos meus pais de que devia olhar para a vida e palavras de Cristo para compreender este Grande Conceito. Consequentemente, cheguei à conclusão que Cristo era um reflexo da glória de Deus num espelho, tal como dizia a metáfora usada pelo Apóstolo Paulo. No entanto, eu percebia que alguma doutrina Cristã conceptualizava Deus como uma espécie de super-humano – um ser que podia ser material ou espiritual conforme desejasse.
Recentemente, quando fiz uma apresentação sobre a natureza progressiva da revelação divina, um amigo da China expressou as suas dificuldades com a questão “Quem é Deus?”. Vindo de uma sociedade completamente secular onde é a estranha a noção de um ser supremo que se pode referir como “alguém”, a sua questão era “o que é Deus?”
A sua questão fez-me reflectir: o que dizem, verdadeiramente, as escrituras sagradas sobre a natureza de Deus?
Uma das mais antigas escrituras existentes que descobrimos é conhecido como O Livro Egípcio dos Mortos (e cuja tradução literal do título em egípcio é O Livro dos que Emergem para a Luz). Os textos das epístolas que constituem o livro remontam ao século XIV a.C. O seguinte texto data, aproximadamente, de 1250 a.C.:
Deus é um e único, e nenhum outro existe com Ele – Deus é o Uno, Aquele que fez todas as coisas – Deus é um espírito, um espírito oculto, o espírito dos espíritos, o grande espírito dos Egípcios, o espírito divino. Deus é desde o início…Ele existe desde a antiguidade, quando nada mais existia. Ele é o Pai dos princípios – Deus é o Eterno, Ele é perpétuo e infinito e perdura indefinidamente para sempre – Deus está oculto e nenhum homem conhece a Sua forma… O Seu nome é um mistério para os Seus filhos. Os Seus nomes são incontáveis, são múltiplos e ninguém sabe quantos são. (Papiro de Ani)Além da noção de que os seres humanos não podem “ver” ou compreender Deus directamente, o Papiro de Ani mostra um aparente paradoxo: o “nome” de Deus é desconhecido, mas múltiplo. Segundo as escrituras – antigas e recentes – os nomes de Deus são as Suas qualidade, atributos e virtudes. Exemplos desses nomes são o Misericordioso, o Generoso, o Omnipotente, o Omnisciente, etc.
Um ensinamento essencial de Bahá’u’lláh – e de outros mensageiros divinos – é que Deus (ou o quer que queiramos chamar ao Criador) é incognoscível na sua essência. Deus é incognoscível pela simples razão que não é um ser como nós. O nosso intelecto é um reflexo do intelecto do Criador, mas apenas um reflexo. Deus é absoluto e independente; nós somos dependentes:
Mas para lá da Minha natureza visível, está o Meu espírito invisível. Este é a fonte da vida com a qual o universo começou. Todas as coisas têm vida nesta Vida, e Eu sou o princípio e o fim. Em todo este vasto universo não existe nada superior a Mim. (Krishna, Bhagavad Gita 7:5-7.)O Buda referiu-se a este Espírito como o Absoluto e o Adorável, e descreveu a sua natureza da seguinte forma:
Existe, ó monges, o Não-nascido, o Não-formado, o Não-criado, o Não-composto; se não existisse, ó monges, este Não-nascido, este Não-formado, este Não-criado, este Não-composto, não haveria saída do mundo do nascido, do criado e do formado. (Udana 80-81.)Cristo afirmou: “Deus é espírito e os seus adoradores devem adorar em espírito e em verdade” (João 4:24)
Isto levanta a questão: Como podemos conhecer Deus? A resposta é dada nas citações apresentadas anteriormente, mas Bahá’u’lláh responde directamente nas Suas escrituras:
... e porque não pode haver laço ou relação directa que ligue o Deus uno e verdadeiro com a Sua criação, e nenhuma semelhança pode existir entre o efémero e o Eterno, o contingente e o Absoluto, Ele ordenou que em todas as eras e dispensações uma Alma pura e imaculada se manifestasse nos reinos da terra e do céu. A este Ser subtil, misterioso e etéreo, Ele atribuiu uma dupla natureza: a física, pertencendo ao mundo da matéria, e a espiritual, que nasce da substância do Próprio Deus… Estas Essências do Desprendimento, estas Realidades resplandecentes, são canais da graça universal de Deus… Eles têm poder para usar a inspiração das Suas palavras, as efusões da Sua graça infalível e brisa santificadora da Sua revelação para purificar todo o coração ansioso e espírito receptivo das impureza e poeira das inquietações e limitações terrenas. Então, e apenas então, emergirá a Confiança de Deus, latente na realidade do homem… (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, XXVII)
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Texto original: Who—or What—is God? (www.bahaiteachings.org)
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Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.
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