sábado, 1 de junho de 2019

Pelo fim da violência doméstica



Quem nasceu e cresceu numa família unida e amorosa? E quem sabe como é crescer numa família onde a violência é uma realidade permanente? Os Bahá’ís acreditam firmemente na unidade familiar; mas também sabem que ela não existe em todas as famílias:

A primeira e mais importante ligação é a ligação familiar, mas esta nem sempre prevalece, pois quantas vezes acontece haver divergências e diferenças nas famílias. (‘Abdu’l-Bahá, Baha’i Scriptures, p. 279)

A violência doméstica está no topo da lista dos crimes violentos na maioria dos países do mundo. A violência doméstica contra adultos ou crianças - dizem os especialistas - prejudica as economias nacionais, porque funciona como base para praticamente todos os problemas sociais: crime violento, pessoas a viver nas ruas, e uma geração futura de alcoólicos e viciados em drogas.

Os ensinamentos Bahá’ís abominam e proíbem todas as formas de violência familiar, e insistem na protecção dos direitos humanos, na santidade e protecção de todos os membros da família:

Segundo os ensinamentos de Bahá’u’lláh, a família, sendo uma unidade humana, deve ser educada segundo as regras da santidade. Todas as virtudes devem ser ensinadas na família. A integridade da ligação familiar deve ser constantemente considerada, e os direitos dos membros individuais não devem ser violados. Os direitos do filho, do pai, da mãe – nenhum destes deve ser restringido, nenhum deve ser irrestrito. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 168)

Os Bahá’ís consideram a violência na família como um assunto de direitos humanos, e acreditam que cada elemento da família tem direito absoluto a uma existência pacífica e não-violenta.

No entanto, algumas sociedades patriarcais apoiam (e aceitam) há muito tempo a violência doméstica, o que por vezes dá origem a sistemas sociais e legais que permitem aos homens controlar completamente as mulheres e as crianças, atribuindo aos homens um poder ilimitado para dominar, oprimir e até “ser proprietário” dos outros. Nessas culturas, a violência na família tornou-se parte integrante da vivência diária, e é aceite por todos como algo “normal” ou “aceitável”.

Muitos países ignoram ou desculpam a violência na família, em nome da religião ou da cultura, e insistem que a soberania absoluta dos homens que controlam a família é mais importante que a segurança ou sanidade dos seus membros individuais. E quando se elabora legislação, algumas culturas consideram a violência na família como um assunto privado e nunca uma ofensa punível. Em alguns países, a lei proíbe que um membro da família acuse ou denuncie outro, mesmo no caso dos actos mais graves e violentos. E nos países onde existem leis que proíbem a violência na família, é frequente ver autoridades que pouco fazem para aplicar essas leis; na verdade, a lei serve como último recurso para a vítima de abusos.

Os Bahá’ís - a nível individual e institucional – trabalham há muito tempo para construir um modelo eficiente de direitos humanos que permita criar famílias livres de violência. Trata-se de tentar conseguir uma grande mudança cultural e exigir a aplicação de convenções internacionais como a Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Mulheres e a Convenção dos Direitos da Criança. Isto também exigirá intervenções dos Estados para proteger mulheres e crianças contra abusos e impedir que esses crimes aconteçam. Dirigentes políticos e religiosos, educadores e agentes da lei devem ser sensibilizados e mobilizados para apoiar novos valores culturais de respeito mútuo em vez do domínio de um género sobre o outro.

Mas esta enorme crise global requer mais do que novas leis e a sua aplicação - requer o desenvolvimento de paz e unidade no mundo. Sabemos que uma sociedade violenta produz famílias violentas. Tal como uma família violenta afecta a sociedade em geral, uma sociedade violenta reforça e consolida o ambiente de violência familiar:

Considerai os efeitos nefastos da discórdia e dissensão numa família; depois pensem nos favores e bênçãos que descem sobre uma família quando existe unidade entre os seus vários membros. Que benefícios e bênçãos incalculáveis descerão sobre a grande família humana se a unidade e a fraternidade forem estabelecidas! Neste século em que os benefícios resultantes da unidade e os efeitos nefastos da discórdia são tão visíveis, os meios para contruir e alcançar a comunhão humana surgiram no mundo. Bahá’u’lláh proclamou e proporcionou a forma pela qual a hostilidade e a agressividade podem ser eliminadas do mundo humano. (‘Abdu’l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 229)


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Texto original: Baha’isCall for Violence-Free Families (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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