sábado, 20 de julho de 2019

A morte aproxima-se, mas não tenho medo

Por David Langness.


Vários estudos de investigação têm mostrado que as pessoas que acreditam na vida depois da morte tendem a ser mais felizes do que as que não acreditam.

No fundo isso tem a sua justificação. Quando se acredita que a vida continua depois da morte do corpo físico, então há algo mais no nosso horizonte e não apenas algo a temer.

Os ensinamentos Bahá’ís dizem que devemos ver a morte como um mensageiro de alegria e não com medo:
Ó Filho do Supremo! Fiz a morte um mensageiro de alegria para ti. Porque te lamentas? Fiz a luz derramar sobre ti o seu esplendor. Porque te escondes dela? (Baha’u’llah, The Hidden Words, p. 11)
Esta é uma ideia notável – de que não devemos ter medo da morte – está de acordo com a relativamente nova premissa psicológica da Teoria da Gestão do Terror (TGT). A TGT foca-se no principal conflito básico comum a todos nós: todos temos um enorme desejo de viver, mas sabemos que vamos morrer. Todos os nossos instintos físicos nos dizem que a auto-preservação é essencial, mas este conflito fundamental entre vida e morte produz um terror nos nossos corações e almas.

Curiosamente a TGT apenas existe nos humanos. Tanto quanto sabemos, nenhum outro ser vivo consegue reconhecer a sua morte iminente em algum momento futuro, e reflectir no que virá a seguir. Só os seres humanos têm essa capacidade única. Os especialistas chamam a isto a saliência da mortalidade, uma ansiedade existencial que surge com o medo da nossa própria extinção.

A TGT descreve o principal dilema humano: a nossa auto-consciência diz-nos que a nossa auto-consciência pode um dia desaparecer.

Ernest Becker
A vida apresenta-nos um dilema fundamental: como gerimos a perspectiva da nossa própria morte, tão cheia de terror? Segundo cientistas, escritores e antropólogos como Ernest Becker, autor do livro A Negação da Morte (vencedor do prémio Pulitzer), gerimos a nossa TGT criando uma cultura. As nossas culturas – sistemas simbólicos que dão um significado à vida através da participação em algo maior e mais duradouro que qualquer individuo - ajudam-nos a gerir simbolicamente o terror da morte iminente ao permitirem-nos que façamos parte de algo que irá perdurar.

Construímos as nossas civilizações culturas como “projectos imortais”, escreveu Becker, como tentativas de transcender a morte criando permanência, deixando para trás algo que durará eternamente. A maioria das acções humanas, conclui Becker, tenta contornar, ignorar ou evitar as nossas ansiedades mais profundas sobre a morte.

Claro que em última análise, a forma de lidar com a TGT exige uma forte crença na vida depois da morte. Este é um princípio religioso básico (apesar das sondagens mostrarem que pelo menos um terço de todos os ateus e agnósticos também acreditam na vida depois da morte) que tem mostrado ser capaz de tornar as pessoas mais felizes, menos ansiosas ou perturbadas. Todas as sondagens revelam o seguinte: independentemente da religião, quem tem um sentido de certeza sobre a sua imortalidade tende a viver uma vida mais feliz do que quem não tem qualquer crença na vida após esta existência física.

Os ensinamentos Bahá’ís reafirmam a imortalidade humana, e garantem que esta vida física precede uma vida eterna:
Sabei que a alma do homem está enaltecida acima e é independente de todas as enfermidades do corpo ou da alma… Quando abandona o corpo, porém, evidenciará um tal ascendente e revelará uma tamanha influência que nenhuma força na terra pode igualar. Toda a alma pura, refinada e santificada estará dotada com um enorme poder e regozijar-se-á com uma imensa alegria (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, LXXX)
Ó Filho do Homem! Tu és o Meu domínio e o Meu domínio não perece; assim, porque temes o teu fim? És a Minha luz e a Minha luz nunca se extinguirá; porque receias a extinção? És a Minha glória e a Minha glória não desvanece; és a Minha túnica e a Minha túnica nunca se desgastará. Permanece, pois, no teu amor por Mim, para que possas encontrar-Me no reino da glória. (Bahá’u’lláh, As Palavras Ocultas, do persa, #14)
Não vos aflijais, não vos desconsoleis, nãos vos entristeçais e não vos lamenteis, porque este mundo é uma morada mortal e todos seremos levados deste mundo para outro. (‘Abdu’l-Bahá, Star of the West, Volume 6, p. 342)
Esta forte crença Bahá’í numa vida após a morte diminui e, por fim, elimina o terror da morte física. Dá-nos esperança, fé e um sentido de futuro interminável sem morte:
Nunca percas a tua confiança em Deus. Tem sempre esperança, pois as dádivas de Deus nunca deixam de fluir até ao homem. Se vistas de uma perspectiva parecem diminuir, mas de outra são abundantes e completas. O homem, sob todas as condições, está imerso no mar das bênçãos de Deus. Por isso, não desesperes em qualquer circunstância, mas, pelo contrário, sê firme na tua esperança. (Selections from the Writings of Abdu’l-Baha, #178)
Desenvolver uma consciência clara sobre a continuidade da vida torna esta existência física não apenas suportável, mas também aceitável. Permite-nos amar livremente sem receio. Dá-nos a liberdade de viver vidas frutíferas, com sentido e felicidade. Oferece-nos alegria, em vez de terror:
Não te lamentes se, nestes dias e neste plano terreno, coisas contrárias aos teus desejos forem decretadas e manifestadas por Deus, pois os dias de alegria abençoada e encanto celestial estão seguramente reservados para ti. Mundos santificados e espiritualmente gloriosos serão revelados aos teus olhos. Estás destinado por Ele, neste mundo e no vindouro, a tomar parte dos seus benefícios, a partilhar as suas alegrias e a obter uma porção da sua graça sustentadora. Cada uma destas tu irás certamente alcançar. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, CLIII)

Sabe que todo o ouvido atento, se mantido puro e imaculado, deve em todos os momentos e de todos os lados, escutar a voz que profere estas palavras sagradas: “Em verdade, somos de Deus e a Ele retornaremos.” Os mistérios da morte física do homem e do seu retorno não foram divulgados e permanecem por ler. Pela rectidão de Deus! Se fossem revelados, provocariam tamanho medo e consternação que alguns pereceriam, enquanto que outros ficariam tão repletos de alegria que desejariam morrer, e suplicariam com desejo incessante ao Deus uno e verdadeiro – exaltada seja a Sua glória – que apressasse o seu fim.

A morte oferece a todo o crente confiante um cálice que, certamente, é vida. Concede júbilo e é portadora de alegria. Concede o dom da vida eterna.

Para aqueles que provaram o fruto da existência terrena do homem, que é o reconhecimento do Deus uno e verdadeiro – exaltada seja a Sua glória – a sua vida no além é algo que Somos incapazes de descrever. O seu conhecimento está apenas com Deus, o Senhor de todos os mundos. (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, CLXV)

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Texto original: Death is Coming, but You Have Nothing to Fear (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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