sábado, 3 de agosto de 2019

Como a Fé Bahá’í redefine a Religião

Por Ali Helmy.


A palavra “religião” possui diversas conotações e leva-nos a distintos níveis de entendimento de acordo com os seus múltiplos conceitos. Curiosamente, em vez de abolir a palavra religião, a Fé Bahá’í reformula-a completamente.

De facto, à luz das escrituras Bahá'ís – e aos olhos de milhões de Bahá'ís em todo o mundo que praticam a sua Fé – a própria religião está a ser sujeita a uma tremenda mudança de paradigma.

Para os Bahá’ís, a religião não é um sistema filosófico mecânico institucionalizado que dita um código de leis absolutas que devem ser seguidas arbitrariamente, ou um modo de pensamento antigo, rotinizado e limitado, que hoje se infiltra na nossa era moderna/pós-moderna.

Pelo contrário, os Bahá'ís entendem a religião como uma palavra que deve ser revista e revitalizada. Por isso, os ensinamentos Bahá'ís apresentam uma nova definição e um ponto de vista diferente. 'Abdu'l-Bahá definiu a religião como “a mais verdadeira filosofia” que constrói “a única civilização duradoura”:
…a menos que o carácter moral de uma nação seja educado, tal como o seu cérebro e talentos, a civilização não terá uma base sólida.

Porque a religião inculca a moralidade, ela é a mais verdadeira filosofia, e sobre ela se constrói a única civilização duradoura. ('Abdu'l-Bahá, Paris Talks, p. 31)
Claro que nenhum governo pode legislar sobre a moralidade. A autoridade civil apenas pode criar leis e controlar vícios externos e comportamentos criminosos. No entanto, as pessoas sempre encontram lacunas ou formas de contornar a lei, a menos que os seus valores morais interiores as impeçam de o fazer. A religião, ao contrário da mera governação, incute nas pessoas um sentido de moralidade - sobre o que está certo e o que está errado - e elimina as diferenças entre comportamento exterior e interior. Assim, os Bahá'ís acreditam que a religião é essencial para o desenvolvimento humano:
… entre os ensinamentos de Bahá'u'lláh está o de que a religião é um poderoso baluarte. Se o edifício da religião estremecer e vacilar, seguir-se-ão o tumulto e o caos, e a ordem das coisas será profundamente perturbada, pois no mundo da humanidade existem duas salvaguardas que protegem o homem da perversão. Uma é a lei que pune o criminoso; mas a lei apenas impede o crime manifesto e não o pecado oculto; mas a salvaguarda ideal, nomeadamente, a religião de Deus, impede tanto o crime manifesto como o oculto, forma o homem, ensina a conduta moral, encoraja a adopção de virtudes e é o poder que abrange tudo e assegura a felicidade do mundo da humanidade. Mas por religião pretende-se significar aquilo que é determinado pela investigação e não aquilo que se baseia na mera imitação, a base das Religiões divinas e não as imitações humanas. ('Abdu'l-Bahá, Selections from the Writings of 'Abdu'l-Bahá, pp. 302-303)
Sim, os ensinamentos Bahá'ís dizem que as forças da religião - as forças da religião corrupta - têm dividido os povos e provocado guerras:
É verdade que existem indivíduos insensatos que nunca estudaram correctamente os fundamentos das religiões Divinas, que assumem como critério o comportamento de alguns religiosos hipócritas e medem todas as pessoas religiosas com essa bitola, e sobre isto concluíram que as religiões são um obstáculo ao progresso, um factor divisivo e causa da maldade e inimizade entre os povos. Nem sequer notaram que os princípios das religiões divinas dificilmente podem ser avaliados pelos actos daqueles que afirmam segui-las. Porque todas as coisas excelentes, por incomparáveis que sejam, podem ser desviadas para fins incorrectos. Uma lamparina acesa nas mãos de uma criança ignorante ou de um cego não dissipa a escuridão, nem ilumina a casa; pode incendiar a casa e o seu portador. Poderemos, num caso desses, culpar a lamparina? Não, pelo Senhor Deus! ('Abdu'l-Bahá, The Secret of Divine Civilization, p. 71)
No entanto, os ensinamentos Bahá'ís também dizem que o declínio gradual da religião, que acontece em todas as Fés quando o seu poder espiritual começa a desvanecer, gera a posterior libertação de uma nova e revitalizadora Fé, no seu lugar:
Desde os dias de Adão até hoje, as religiões de Deus tornaram-se manifestas, uma após outra, e cada uma cumpriu a sua devida função, revivificou a humanidade e proporcionou educação e iluminação. Libertaram os povos das trevas do mundo da natureza e levaram-nos ao esplendor do Reino. À medida que cada sucessiva Fé e Lei era revelada, tornava-se uma árvore cheia de frutos e empenhava-se na felicidade da humanidade. No entanto, à medida que os anos passavam, envelhecia e deixava de florescer e gerar frutos; por isso, tinha de rejuvenescer novamente.

A religião de Deus é uma única religião, mas deve ser sempre renovada. Moisés, por exemplo, foi enviado à humanidade e estabeleceu a Lei, e os Filhos de Israel, através da Lei Mosaica, libertaram-se da ignorância e foram iluminados; foram resgatados da sua degradação e alcançaram uma glória que não desvanece. No entanto, com o passar dos anos, esse brilho foi desaparecendo, esse esplendor desfez-se, aquele dia luminoso tornou-se noite; e quando essa noite era três vezes mais escura, surgiu a estrela do Messias, para que a glória iluminasse novamente o mundo.

O que queremos dizer é isto: a religião de Deus é apenas uma, e ela é a educadora da humanidade, mas, mesmo assim, tem de ser renovada. ('Abdu'l-Bahá, Selections from the Writings of 'Abdu'l-Bahá, pp. 51-52)

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Texto Original: How the Baha’i Faith Reframes Religion (www.bahaiteachings.org)

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Ali Helmy é um Baha’i residente na Jordânia. É estudante de arquitectura e tem uma enorme paixão pela arte e design.

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