sábado, 12 de outubro de 2019

A Influência do Báb nas Devoções Bahá’ís

Por Christopher Buck.


Muitas das crenças, práticas e leis espirituais da Fé Bahá’í de hoje tiveram origem no Báb, o precursor e arauto de Bahá'u'lláh.

O carácter único da Fé Bahá'í – com os seus co-fundadores, o Báb e Bahá'u'lláh, os profetas gémeos que apareceram tão próximo um do outro – significa que podemos falar justamente em “herança viva” do Báb.

A mais importante missão do Báb foi, evidentemente, anunciar Bahá’u’lláh. Conforme escrevi no artigo anterior, tanto o Báb como Bahá'u'lláh são co-fundadores da Fé Bahá’í. E isto acontece não apenas por motivos históricos (pois o Báb anunciou advento iminente Bahá'u'lláh) mas também por motivos contemporâneos. Veja-se por exemplo, a influência do Báb nas devoções Bahá'ís.

O coração da vida devocional na comunidade Bahá’í é a Festa de 19 Dias, em que os Bahá'ís, nas suas comunidades locais, se reúnem para orar, consultar e socializar. No Livro Mais Sagrado, o repositório Bahá’í de leis religiosas, Bahá'u'lláh instituiu a Festa como uma prática devocional:
Em verdade, é-vos ordenado que ofereceis uma festa, uma vez por mês, mesmo que seja servida apenas água; pois Deus pretendeu unir os corações ainda que por meios terrenos e celestiais. (¶57)
“A Festa de 19 Dias é uma instituição da Causa”, segundo Shoghi Effendi, e foi “primeiramente estabelecida pelo Báb, e posteriormente confirmada por Bahá'u'lláh, e agora feita uma parte proeminente da ordem administrativa Fé”. (The Light of Divine Guidance, Volume. 1, p. 212.)
“No Bayan árabe, o Báb apelou aos Seus seguidores que se reunissem uma vez por mês para mostrar hospitalidade e amizade,” escreveu a Casa Universal de Justiça, “e Bahá'u'lláh aqui [no Livro Mais Sagrado] confirma isto e salienta o papel unificador destas ocasiões.” (The Most Holy Book, p. 202). Além disso, 'Abdu'l-Bahá explicou a importância desta actividade comunitária essencial no centro da vida devocional Bahá’í: Esta Festa foi instaurada por Sua Santidade o Báb, para acontecer uma vez em cada dezanove dias. De igual modo, [Bahá'u'lláh] ordenou-a, encorajou-a e reiterou-a. Portanto, tem a maior importância. Indubitavelmente, deveis dar a maior atenção ao seu estabelecimento e elevá-la ao ponto de máxima importância, para que possa ser contínua e constante. Os crentes em Deus devem reunir-se e associar-se com o maior amor, alergia e fragrância. Devem comportar-se (nestas Festas) com a maior dignidade e consideração, entoar os versículos divinos, ler textos instrutivos, ler Epístolas de 'Abdu'l-Bahá, encorajar e inspirar-se mutuamente com amor por toda a raça humana, invocar Deus com alegria e fragrância perfeitas, entoar versículos, glorificações e louvores ao Senhor que Subsiste por Si Próprio e proferir discursos eloquentes. O dono da casa deve servir pessoalmente os bem-amados. Ele deve tratar do conforto de todos e com a maior humildade deve mostrar bondade para com todos. Se a Festa for organizada deste modo e na forma mencionada, essa ceia será a “Ceia do Senhor”, pois o resultado é o mesmo e o efeito é o mesmo. ('Abdu'l-Bahá, Tablets of Abdul-Baha, Volume 2, pp. 468–469)
Apesar do Báb ter criado e instituído a Festa de 19 Dias, esta instituição divina e espiritual evoluiu ao longo do tempo. Hoje, a Festa Bahá'i contém funções devocionais, consultivas e sociais, distribuídas por um programa com três partes distintas. A parte consultiva da Festa funciona como o equivalente Bahá’í da “reunião dos cidadãos”, em que os Bahá'ís consultam sobre os assuntos da comunidade local, e fazem sugestões e recomendação par ao conselho Bahá’í local, conhecido como Assembleia Espiritual Local. A Assembleia poderá enviar para a Festa seguinte informações para a comunidade local com a sua resposta relativa a recomendações apresentadas em Festas anteriores.

A prática Bahá’í actual de realizar “reuniões devocionais” pode ser vista como um prolongamento do carácter devocional das Festas de 19 Dias. As reuniões devocionais, que se podem realizar a qualquer hora e em qualquer lugar, permitem que os participantes experimentem essa vertente devocional. Assim, a “herança viva” do Báb torna-se mais extensa, imediata e vibrante por toda a comunidade Bahá’í.

Tal como noutras religiões, os Bahá’ís usam livros de orações. Nestes encontram-se algumas que foram reveladas pelo Báb. A edição americana do livro de Orações Bahá’ís, por exemplo, tem 39 orações reveladas pelo Báb; o livro tem um total de 185 orações. Isto significa que um quinto das orações frequentemente entoadas pelos Bahá’ís tem origem no Báb; é a “herança viva” que continua connosco, todos os dias. Aqui fica um exemplo de uma oração inspiradora e fortalecedora revelada pelo Báb:
Decreta para mim, ó meu Senhor, e para aqueles que acreditaram em Ti, aquilo que, quanto a Ti, for considerado mais próprio para nós, conforme estabelecido no Livro-Mãe, pois nas Tuas mãos seguras a medida definida de todas as coisas.

As Tuas dádivas bondosas chovem incessantemente sobre aqueles que prezam o Teu amor, e os sinais maravilhosos das Tuas bênçãos celestiais são concedidos àqueles que reconhecem a Tua Unidade divina. Entregamo-nos ao Teu cuidado, seja o que for que tenhas destinado para nós, e imploramos-Te que nos concedas o bem que o Teu conhecimento abrange.

Protege-me, ó meu Senhor, de todo o mal que a Tua omnisciência percebe, pois não há força ou poder senão em Ti, nenhum triunfo vem salvo da Tua presença, e só Tu tens o domínio. O que quer que Deus desejou, tem sido; e aquilo que Ele não desejou, não será.

Não há poder ou força excepto em Deus, o Mais Exaltado, o Mais Poderoso. (The Bab, Baha’i Prayers, pp. 130–131)
E aqui temos! O Báb foi mais do que o Arauto, ou o anunciador, do advento iminente de Bahá’u’lláh. O Báb revelou um vasto leque de ensinamentos, doutrinas, orações leis religiosas e práticas devocionais. Depois de cumprir as profecias do Báb, Bahá'u'lláh adoptou algumas leis religiosas estabelecidas pelo Báb. Claro que Bahá'u'lláh fez isso de forma selectiva, e ao adoptar uma determinada lei, adaptava-a de acordo com as necessidades do tempo.

Os ensinamentos profundos do Báb, as suas belas orações, as suas poderosas leis espirituais, adoptadas e adaptadas por Bahá'u'lláh, e praticadas pelos Bahá'ís, constituem uma herança preciosa legada pelo Báb. Essa herança, parte integrante da vida e experiência Bahá’ís de hoje, é um testemunho contemporâneo da herança viva do Báb.

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Texto original: The Bab’s Influence on Baha’i Devotions (www.bahaiteachings.org)

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Christopher Buck (PhD, JD), advogado e investigador independente, é autor de vários livros, incluindo God & Apple Pie (2015), Religious Myths and Visions of America (2009), Alain Locke: Faith and Philosophy (2005), Paradise e Paradigm (1999), Symbol and Secret (1995/2004), Religious Celebrations (co-autor, 2011), e também contribuíu para diversos capítulos de livros como ‘Abdu’l-Bahá’s Journey West: The Course of Human Solidarity (2013), American Writers (2010 e 2004), The Islamic World (2008), The Blackwell Companion to the Qur’an (2006). Ver christopherbuck.com e bahai-library.com/Buck.

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