sábado, 19 de outubro de 2019

Como o novo Calendário do Bab transforma o tempo

Por Christopher Buck.


O tempo, ou a maior parte do tempo, dá ordem à vida. Pelos menos, assim parece. Quantas vezes olhamos para o relógio, marcamos eventos no calendário ou planeamos as nossas actividades? Quase constantemente. O tempo é importante; e tudo é uma questão de tempo.

Mas, à sua maneira, a alma também mede o progresso e o tempo espiritual conserva ambos.

Para os Bahá’ís, as Festas de 19 Dias transformam o tempo. O tempo é mundano e está associado à realidade material. O Báb criou um novo calendário. Este “Calendário Maravilhoso (Badi)” – conhecido hoje como calendário Bahá’í – transforma o tempo, convertendo o tempo comum em “tempo sagrado”.

A noção de tempo sagrado é muito importante no estudo da religião. Os estudiosos dedicaram muito tempo e energia ao tema do tempo sagrado. O tempo sagrado adiciona uma dimensão espiritual ao tempo comum, pois o tempo é físico e o tempo sagrado é metafísico. O tempo sagrado é, em última análise, um “tempo de qualidade”. O tempo sagrado dá um propósito ao tempo comum. O tempo permite-nos progredir, crescendo espiritualmente ao amadurecer, ao servir e ao sermos transformados durante esse processo. A Fé Bahá’í foca-se, essencialmente, na transformação individual e social.

O novo calendário do Báb transforma o tempo numa experiência supramundana e espiritual. O dicionário define “supramundano” como: “que transcende a esfera mundana ou material; sublime”. O primeiro sentido aplica-se aqui e agora. Sacralizar o tempo significa torná-lo divino na sua natureza e propósito. Então como é que o Báb faz isto? O professor Nader Saiedi explica:
O Báb torna todo o conceito de tempo num processo de espiritualização. O tempo torna-se literalmente pleno de Deus. Este processo é bem evidente no novo calendário apresentado no Bayan Persa. No primeiro parágrafo do capítulo sobre calendário, o Báb explica o significado simbólico da Sua nova organização do tempo. (Nader Saiedi, Gate of the Heart, p. 327)
Em lado algum é a noção de tempo sagrado mais evidente do que nos calendários sagrados. A maioria das religiões mundiais adoptou alguma forma de calendário sagrado. Reconhecendo este fenómeno religioso, a Casa Universal de Justiça, salientou:
A adopção de um novo calendário em cada dispensação é um símbolo do poder da Revelação Divina dando uma nova forma à percepção humana da realidade material, social e espiritual. Através dele, os momentos sagrados distinguem-se, o lugar da humanidade no tempo e no espaço é re-pensado e o ritmo da vida alterado. (The Universal House of Justice, To the Bahá’ís of the World, 10 July 2014)
Ao adoptar o calendário que o Báb criou, Bahá’u’lláh pretendeu não só estruturar o próprio calendário a ser implementado de forma prática para acompanhamento e documentação tempo, mas também para cumprir um objectivo espiritual:
Falando de “este Nome que ofuscou toda a criação” (¶ 127), Ele [Bahá’u’lláh] aprovou o calendário Babi, que foi concebido para tornar o fluxo do tempo num símbolo de nomes divinos, com os seus dezanove meses começando e terminando em “Bahá”. Assim, a vida e a passagem do tempo tornam-se uma lembrança constante da revelação universal de Deus, um reflexo da Beleza divina, e uma manifestação da viagem espiritual. (Nader Saiedi, Logos and Civilization: Spirit, History, and Order in the Writings of Baha’u’llah, pp. 287–288)
O calendário Bahá’í atribui nomes a cada dia, mês e ano, e esses nomes - Grandeza, Glória, Beleza, Luz, etc – reflectem os atributos espirituais do Criador. Actualmente, a maioria dos Bahá’ís não usa habitualmente os nomes Bahá’ís para os dias da semana, dias do mês e nomes dos anos. Os nomes dos 19 meses Bahá’ís em cada ano, porém, têm um papel importante na vida devocional Bahá’í. Frequentemente, o anfitrião de uma Festa Bahá’í escolhe para o período devocional leituras e orações de acordo com o nome, ou atributo, de um mês Bahá’í específico. Por exemplo, as leituras para a Festa do mês Bahá’í “Honra” podem incluir um conjunto de Escrituras Bahá'ís que se focam no conceito de “honra” com característica distintiva.

Não é obrigatório que assim seja, nem existem regras que indiquem que é assim que as leituras para uma determinada festa sejam escolhidas. Mas mesmo assim, esta é uma prática comum entre os Bahá’ís. O resultado é que cada comunidade Bahá’í que segue esta prática medita sobre o atributo divino “Honra” durante a festa da Honra, uma vez por ano. Desta forma, os nomes de cada um dos dezanove meses Bahá’ís recebe uma atenção considerável durante as partes devocionais das Festas Bahá’ís. E assim, a herança espiritual do Báb continua a inspirar-nos e edificar-nos.

Os nomes dos meses Bahá’ís são atributos espirituais de Deus, apesar de Deus transcender todos os nomes e atributos. Mas essas mesmas qualidades podem manifestar-se – numa escala bem menor, evidentemente - em cada um de nós. Para explicar como isto é possível, sugiro a leitura deste conjunto de artigos “Transforming Time: Turning Godly Perfections Into Goodly Actions”.

Porque o calendário do Báb funciona como parte da Sua herança viva na vida devocional Bahá’í de hoje, vamos terminar com um excerto das Escrituras Bahá’ís sobre o significado da honra, enquanto virtude espiritual, o que inclui um vasto leque de qualidades e actos nobres que cada um de nós pode potencialmente manifestar.
Então é claro que a honra e enaltecimento do homem não pode assentar apenas em coisas materiais e em benefícios mundanos. Esta felicidade material é totalmente secundária, pois a exaltação do homem assenta primeiramente em virtudes e realizações que são o adorno da realidade humana. Estas consistem em bênçãos divinas, dádivas celestiais, emoções sinceras, em amor e o conhecimento de Deus, na educação das pessoas, na percepção da mente e nas descobertas da ciência. Elas consistem na justiça e na equidade, veracidade e benevolência, coragem interior e humanidade inata, protecção dos direitos dos outros, e preservação da santidade das alianças e acordos. Elas consistem na rectidão de conduta sob todas as circunstâncias, amor à verdade sob todas a condições, espírito de sacrifício para o bem de todas as pessoas, gentileza e bondade para com todas as nações, obediência aos ensinamentos de Deus, serviço ao Reino celestial, conselhos para a humanidade, e educação para todas as raças e nações. Esta é a felicidade do mundo humano! Esta é a exaltação do homem no mundo contingente! Esta é a vida eterna e honra celestial!...

Porque o Senhor compassivo coroou a cabeça do homem com um diadema resplandecente, devemos esforçar-nos para que as suas joias possam lançar a sua luz sobre todo o mundo. (Abdu’l-Baha, Some Answered Questions, newly revised edition, pp. 89–90)

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Texto original: How the Bab’s New Calendar Transforms Time (www.bahaiteachings.org)

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Christopher Buck (PhD, JD), advogado e investigador independente, é autor de vários livros, incluindo God & Apple Pie (2015), Religious Myths and Visions of America (2009), Alain Locke: Faith and Philosophy (2005), Paradise e Paradigm (1999), Symbol and Secret (1995/2004), Religious Celebrations (co-autor, 2011), e também contribuíu para diversos capítulos de livros como ‘Abdu’l-Bahá’s Journey West: The Course of Human Solidarity (2013), American Writers (2010 e 2004), The Islamic World (2008), The Blackwell Companion to the Qur’an (2006). Ver christopherbuck.com e bahai-library.com/Buck.

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