Que papel pode uma religião desempenhar na abordagem aos principais temas sociais da actualidade – incluindo os desafios ambientais globais das alterações climáticas?
Algumas pessoas diriam que a religião e as políticas sociais e governamentais não têm qualquer relação entre si – mas a religião ensina verdades morais e espirituais, e todos os crentes têm a obrigação de agir de acordo com essas verdades. Os ensinamentos Bahá'ís deixam esses princípios bem claro:
Felizes aqueles que agem; felizes aqueles que compreendem; feliz o homem que se agarrou à verdade, se desprendeu de tudo o que está nos céus e tudo o que está na terra. (Bahá'u'lláh, Epistle to the Son of the Wolf, p. 138)Na verdade, há muito tempo que a religião tem um importante papel na mudança social. Ao abordar temas como a guerra, a pobreza e os direitos humanos, praticamente todas as religiões mostraram a sua influência, levando os crentes a seguir os ensinamentos dos seus fundadores e a aplicar os princípios espirituais às preocupações políticas correntes.
Ó bem-amados! O tabernáculo da unidade for erguido; não vos considereis uns aos outros como estranhos. Sois frutos de uma só árvore e folhas de um só ramo. Nutrimos a esperança de que a luz da justiça possa brilhar sobre o mundo e santificá-lo da tirania. (Bahá'u'lláh, Gleanings from the Writings of Baha'u'llah, p. 218)
Cristo, por exemplo, pediu aos Seus seguidores que dessem uma atenção especial aos pobres e aos necessitados – e o Cristianismo dá um ênfase especial exactamente a isso, com milhares de igrejas e crentes a trabalhar para aliviar o sofrimento de inúmeros pobres e sem-abrigo, e também a atacar as raízes da pobreza.
No entanto, as preocupações com a pobreza, a guerra e a liberdade existem há séculos. Sabemos, através de qualquer religião, que temos uma responsabilidade, não só para com as outras pessoas, mas também perante Deus para fazer o nosso melhor para aliviar essas preocupações. Todas as verdadeiras religiões advogam a generosidade, a preocupação com os outros, a compaixão para com outros seres humanos; por isso, parece natural e certo responder de forma positiva a esses problemas.
Então e os novos problemas, aqueles que nos surgiram durante o período mais recente da história? O que dizer sobre as lutas laborais, a clonagem ou os direitos reprodutivos? E o que dizer sobre temas ambientais, em especial as alterações climáticas?
Alguns grupos religiosos decidiram abordar o tema das alterações climáticas aplicando de forma geral os ensinamentos antigos e básicos da sua fé – amor ao próximo, preocupação com o bem-estar da humanidade como um todo, e cuidando da natureza que nos foi confiada por Deus. Por outro lado, alguns grupos religiosos opõem-se veementemente à ciência usada no estudo das alterações climáticas, considerando-a um embuste e pressionado os seus representantes eleitos em diversos países para que a ignorem.
Esta resposta dividida e drasticamente polarizada, frequentemente mais motivada por interesses políticos do que religiosos, tem dividido famílias e religiões.
A Fé Bahá'í, pelo seu lado, possui um mecanismo próprio para lidar de forma construtiva e espiritual com este tipo de assuntos recentes. Esta estrutura com origem divina impede cismas e divisões, defende a unidade a que os ensinamentos Bahá'ís apelam em todos esforços humanos e religiosos, e enfatiza os princípios profundamente espirituais que Bahá'u'lláh trouxe. Três desses importantes princípios estão directamente relacionados com o tema das alterações climáticas.
Primeiro, os ensinamentos Bahá'ís apelam à concordância entre ciência e religião:
Toda a religião que não esteja de acordo com a ciência estabelecida é superstição. A religião deve ser racional. Se não está de acordo com a razão, é superstição e não tem fundamentos. É como uma miragem que engana o homem ao guiá-lo para o que ele pensa ser um lençol de água. ('Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 63)Segundo, os ensinamentos Bahá'ís enaltecem os cientistas e elogiam o seu importante trabalho:
O mais alto louvor é devido aos homens que dedicam as suas energias à ciência, e o mais nobre centro é um meio onde se ensinam e estudam ciências e artes. A ciência tende sempre para iluminação do mundo da humanidade. É a causa da honra eterna do homem, e a sua soberania é muito maior que a soberania dos Reis. O domínio dos Reis tem um fim; o próprio rei pode ser destronado; mas a soberania da ciência é eterna e não tem fim. (Idem, p. 348)Terceiro, a Fé Bahá'í possui um sistema administrativo que proporciona orientação contínua e actual sobre assuntos emergentes: um corpo eleito democraticamente a nível global, chamado Casa Universal de Justiça. Quando assunto que não é abordado nas Escrituras Bahá'ís – os textos do fundador da Fé, Bahá'u'lláh; do Centro da Aliança, 'Abdu'l-Bahá; e do Guardião, Shoghi Effendi – a Casa Universal de Justiça consultar sobre o mesmo, legislando e aplicando a lei entre os Bahá'ís.
Recentemente, em Novembro de 2017, a Casa Universal de Justiça, através do seu Secretariado, escreveu uma longa de pormenorizada carta sobre o tema das alterações climáticas. Nesta série de artigos vamos ver essa carta, ponto por ponto, explorar as suas ramificações, especialmente no que toca à questão do papel das religiões na redução das alterações climáticas.
Utilizado a guia da Casa Universal de Justiça e aplicando os ensinamentos Bahá'ís, podemos conceber uma nova abordagem aos problemas ambientais mundiais.
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Texto original: 3 Ways Baha'is Deal with Global Warming (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
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