sábado, 7 de dezembro de 2019

Como a Objectificação leva à Violência contra as Mulheres

Por Radiance Talley.


O dia 25 de Novembro assinalou o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres.

Segundo a UNICEF, “em todo o mundo, há aproximadamente 15 milhões de meninas adolescentes, entre os 15 e os 19 anos, que em determinado momento das suas vidas, foram forçadas a ter relações sexuais”.

Os Bahá'ís condenam estes abusos e todas as formas de opressão sexual:
O uso de força pelos fisicamente fortes… como meio de impor a vontade de uma pessoa e realizar os seus desejos, é uma transgressão flagrante dos Ensinamentos Bahá'ís. Não há qualquer justificação para obrigar outra pessoa, através do uso da força ou da ameaça da violência, a fazer aquilo que ela não quer…

A ausência de valores espirituais na sociedade leva à degradação das atitudes que devem reger uma relação entre sexos, sendo a mulher tratada como pouco mais do que objecto para gratificação sexual e sendo-lhes negado o respeito e a cortesia a que todos os seres humanos têm direito. (A Casa Universal de Justiça, Violence and Sexual Abuse of Women and Children, 24 January 1993)
Há alguns meses, escrevi um artigo sobre como a objectificação da mulher; nesse texto abordava os efeitos negativos da auto-objectificação da mulher na sua própria saúde. No entanto, a objectificação da mulher nos media e na indústria de entretenimento tem um impacto maior do que a pressão que nós mulheres possamos interiorizar.

Quando somos constantemente retratadas de forma sexual, que percepção é que a sociedade tem do nosso valor? Quando os media e a indústria de entretenimento destacam os nossos corpos como pouco mais que objectos decorativos, como é que isso influencia a forma como os homens nos vêem e nos tratam? Poderemos ser tratadas como seres humanos se nos vêem como objectos?

As Escrituras Bahá'ís salientam a necessidade de sermos justos e tratar as pessoas com a máxima compaixão:
O Reino de Deus baseia-se na equidade e na justiça, e também na misericórdia, compaixão e gentileza para com todas as almas viventes. Esforçai-vos pois, com todo o vosso coração para tratar compassivamente toda a humanidade… ('Abdu'l-Bahá, Selections from the Writings of 'Abdu'l-Bahá, p. 158)
Então, porque é que todos os membros da família humana não sentem empatia pelo sofrimento feminino e ajudam a parar a pandemia global de violência contra as mulheres?

Especialistas em psicologia social descobriram que quanto mais as mulheres são objectificadas, menos são percebidas como seres humanos; e isso reduz a empatia para com elas. Segundo um estudo recente publicado na Cortex, dirigido por Giorgia Silani e uma equipa internacional de investigadores da Universidade de Viena, tanto homens como mulheres sentem uma diminuição da sua capacidade de sentir e reconhecer as emoções de uma mulher objectificada sexualmente.

Isto é assustador! Um estudo da Universidade Wesleyan descobriu que quando as mulheres surgem nos anúncios das revistas masculinas, elas são objectificadas em 76% das vezes. Os media muitas vezes tornam a mulher alvo de comentários e comportamentos sexistas, facto que encoraja os homens a agir desta forma na vida real. Numa série de estudos publicados no Journal of Social Issues, os investigadores descreveram que 94% das estudantes universitárias foram tratadas como objectos sexuais através de comentários e comportamentos, pelo menos uma vez durante um semestre. Eu, e a maioria das mulheres, podemos contar sobre piropos e comentários degradantes feitos de homens.

A objectificação sexual é, infelizmente, uma ocorrência normal para muitas mulheres e trouxe-nos a um mundo onde uma em cada cinco mulheres será violada em algum momento da sua vida.

Na universidade, nunca me senti confortável quando andava sozinha à noite, sabendo que tinham ocorrido 70 casos de conduta sexual imprópria apenas num dos anos em que lá estive – e esses eram só os casos denunciados. A nível mundial, apenas 1% das meninas que são violadas pedem ajuda. E porque é que elas pediriam ajuda, quando vemos incontáveis casos de pessoas que não acreditam na versão das mulheres e os homens agressores se safam apenas com uma advertência? As mulheres que sobrevivem a ataques e violência sexual sentem efeitos traumáticos, nomeadamente, depressão, distanciamento, stress pós-traumático, uso de drogas, pensamentos e tentativas suicidas.

Os ensinamentos Bahá'ís abominam esta força e violência hedionda:
Neste ciclo do Deus Omnipotente, a violência e a força, a coacção e a opressão, são todas condenadas. ('Abdu'l-Bahá, Selections from the Writings of 'Abdu'l-Bahá, p. 149)
Os Bahá'ís trabalham pelos direitos e liberdades de todas as pessoas; e pela igualdade de sexos, pela capacitação das mulheres, falam em seu nome e protegem-nas. 'Abdu'l-Bahá afirmou:
Enquanto a realidade da igualdade entre homem e mulher não for plenamente estabelecida e alcançada, o mais avançado desenvolvimento social da humanidade não é possível. (The Promulgation of Universal Peace, p. 72)
Este mandato para a igualdade exige que ponhamos fim às atitudes machistas e que responsabilizemos e julguemos os homens que fazem comentários depreciativos ou degradantes, e que cometem crimes hediondos contra as mulheres. Leva-nos a apoiar organizações que combatem a violência contra mulheres – como a Tahirih Justice Center, de inspiração Bahá'í – assim como a boicotar tudo o que enaltece a agressividade e os ataques sexuais. Pede-nos para acreditar naquelas mulheres que tiveram a coragem de dar a cara e contar as histórias das suas experiências; e que compreendamos que é uma honra se uma mulher se sente suficientemente corajosa para partilhar a sua dor e dizer “Eu também” (#metoo)

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Texto original: How Objectification Leads to Violence Against Women (www.bahaiteachings.org)

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Radiance Talley é licenciada em comunicação pela Universidade de Maryland. Além da escrita, do desenho, e da comunicação em público, Radiance tem um profundo conhecimento da teoria da construção, técnicas de negociação, gestão de conflitos, comunicação organizacional e intercultural, antropologia e sociologia.

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