sábado, 21 de dezembro de 2019

Um Desejo de Paz para o Natal

Por Preethi.


O Natal é provavelmente o momento em que os temas da paz e da boa-vontade parecem mais profundamente cravados na consciência colectiva da sociedade. Para os Cristãos, que o celebram como feriado religioso, o Natal é uma lembrança da promessa sobre a paz, que se encontra no Antigo Testamento.

Para muitas outras pessoas que o celebram como feriado cultural, a história do nascimento de Jesus, conforme narrada nos evangelhos e representada na omnipresente arte cristã, capta a imaginação e inspira muitas pessoas a entregarem-se de forma determinada à prática da caridade e da generosidade.

Os evangelhos relatam a história dos pastores que vigiavam os seus rebanhos no campo, quando um anjo lhes apareceu trazendo as boas novas do nascimento do Prometido.
Naquela região havia pastores que passavam a noite no campo guardando os rebanhos.
Apareceu-lhes um anjo e a luz gloriosa do Senhor envolveu-os. Ficaram muito assustados,
mas o anjo disse-lhes: «Não tenham medo! Venho aqui trazer-vos uma boa nova que será motivo de grande alegria para todo o povo.Pois nasceu hoje, na cidade de David, o vosso Salvador que é Cristo, o Senhor!
Poderão reconhecê-lo por este sinal: encontrarão o menino envolvido em panos e deitado numa manjedoura.»Nisto, juntaram-se ao anjo muitos outros anjos do céu louvando a Deus e cantando:«Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na Terra aos homens a quem ele quer bem!» (Lc, 2: 8-14)
Mas para lá desta bela e encantadora narrativa de paz e boa-vontade, vemos a realidade chocante do nosso mundo.

Na semana passada, quando ouvi a notícia de mais um tiroteio numa escola, em plena quadra natalícia, dei por mim a pensar na canção de Simon & Garfunkel, “7 O'Clock News/Silent Night”. Esta música contém a sobreposição de duas gravações: um arranjo vocal simples da conhecida “Silent Night”, e uma simulação do boletim noticioso “7 O'Clock News” baseado em acontecimentos reais ocorridos em 3 de Agosto de 1966.


A sobreposição da bela e familiar melodia de Natal e das suas palavras que invocam a paz e a serenidade, juntamente com boletim noticioso, que – em profundo contraste – destaca os problemas que afligem o mundo, criam um efeito que os músicos designam como “calafrio positivo”.

Quando leio os títulos das notícias que chegam à minha caixa de correio electrónico, vejo que a violência se espalha na nossa sociedade. O massacre numa escola primária pode ter sido mais uma tragédia sem sentido, mas também nos recorda o quanto estamos vulneráveis a actos de violência e agressão. A violência ainda existe a uma escala global; em muitas partes do mundo, há estados que cometem agressões contra outros estados e até contra cidadãos.

E mesmo em zonas livres de conflitos, a violência ainda existe nos corações e nas mentes das pessoas, na forma de preconceito, apatia e inimizade. E ao reflectir sobre tudo isto, não pude deixar de pensar que, de alguma forma, Simon & Garfunkel podiam, com a mesma facilidade, cantar uma versão actualizada de “7 O'Clock News/Silent Night” nos dias de hoje.

Não é um pensamento muito inspirador ou optimista, particularmente durante esta época festiva.

Então o que fazemos com esta promessa de paz? Para aqueles que o Natal é mais do que um feriado cultural, o que fazemos com a promessa bíblica sobre o Prometido que trará uma era de paz?

Apesar dos Bahá'ís não celebrarem o Natal, o nascimento de Jesus – um dos Manifestantes de Deus – tem uma grande importância. Bahá'u'lláh referiu-se eloquentemente a Jesus:
Sabe que quando o Filho do Homem entregou o espírito a Deus, toda a criação chorou num grande pranto. Ao sacrificar-Se, porém, uma nova capacidade infundiu-se em todas as coisas criadas. As suas evidências, como se testemunha em todos os povos da terra, estão agora manifestas diante de ti. A sabedoria mais vasta que os sábios pronunciaram, o conhecimento mais profundo que qualquer mente explicou, as artes que as mãos mais hábeis produziram, a influência exercida pelo mais poderoso dos governantes, são apenas manifestações do poder vivificador libertado pelo Seu Espírito transcendente, omnipresente e resplandecente.

Testemunhamos que quando Ele veio ao mundo, Ele derramou o esplendor da Sua glória sobre todas as coisas criadas. Através d'Ele, o leproso recuperou da lepra de perversidade e da ignorância. Através d'Ele, o ímpio e rebelde foram curados. Através do Seu poder, nascido do Deus Todo-Poderoso, os olhos dos cegos abriram-se e a alma do pecador santificou-se… Testemunhamos que através do poder do Verbo de Deus todo o leproso foi purificado, toda a enfermidade foi curada, toda a debilidade humana foi banida. Ele é Quem purificou o mundo. Bem-aventurado o homem que, com um rosto radiante de luz, se volveu para Ele." (Gleanings from the Writings of Baha'u'llah, XXXVI)
A paz, porém, é um trabalho em andamento e algo pelo qual nós, humanidade, nos esforçamos. Jesus trouxe uma mensagem de paz e amor, ensinou-nos a “amar o próximo” como a nós próprios – e com isso estabeleceu as bases para a paz, tal como fizeram outros Manifestantes. A revelação de Bahá'u'lláh, de igual modo, trouxe uma mensagem semelhante de paz, mas desta vez num contexto de unidade global.

A revelação de Bahá'u'lláh fala explicitamente sobre esta paz e unidade. A humanidade atingiu a sua maturidade e está pronta para alcançar esta paz e unidade. Bahá'u'lláh afirma:
Grande é, em verdade, este Dia! As alusões que lhe são feitas em todas as Sagradas Escrituras como o Dia de Deus atestam a sua grandeza. A alma de todo o Profeta de Deus, de todo o Mensageiro Divino, estava sequiosa por este Dia maravilhoso. As diversas raças da terra, de igual modo, desejavam alcançá-lo. Porém, assim que o Sol da Sua Revelação se manifestou no céu da Vontade de Deus, todos, excepto aqueles que o Omnipotente desejou guiar, estavam confundidos e desatentos.

Ó tu que te recordaste de Mim! O mais penoso véu separa os povos da terra da Sua glória e impede-os de escutar o Seu chamamento. Deus permita que a luz da unidade envolva toda a terra e que o sêlo “o Reino é de Deus” fique estampado na fronte de todos os seus povos. (Gleanings from the Writings of Baha'u'llah, VII)
Se olharmos para o nosso mundo, vemos como a unidade é possível numa nova forma. Antigamente apenas podíamos esforçarmos por criar unidade entre indivíduos e famílias; agora a humanidade está numa situação em que pode criar as bases de uma sociedade internacional que reflicta a sua unidade essencial. 'Abdu'l-Bahá afirma:
Em ciclos passados, a harmonia foi estabelecida, mas devido à falta de meios, a unidade de toda a espécie humana não pôde ser alcançada. Os continentes continuaram profundamente divididos; e mesmo entre os povos de um mesmo continente a associação e a troca de ideias era praticamente impossível. Consequentemente, as trocas, a compreensão e a unidade entre todos os povos e raças eram inatingíveis. Neste dia, porém, os meios de comunicação multiplicaram-se, e os cinco continentes da terra fundiram-se virtualmente num único… De igual modo, todos os membros da família humana, sejam povos ou governos, cidade ou aldeias, tornaram-se crescentemente interdependentes. A auto-suficiência já não é possível, pois os laços políticos unem todos os povos e nações, e acordos sobre comércio, indústria, agricultura e educação, são fortalecidos todos os dias. Consequentemente, a unidade de toda a humanidade pode ser alcançada neste dia. Na verdade, esta é apenas um dos prodígios desta era maravilhosa, deste século glorioso. As eras passadas foram privadas disto; mas este século – o século de luz – foi dotado com esta glória, poder e compreensão únicas e sem precedentes. Consequentemente, vemos descobertas miraculosas de novas maravilhas, todos os dias. Posteriormente, veremos quão brilhantes são as suas velas acesas na assembleia do homem. (Selections from the Writings of 'Abdu'l-Baha, #15)
O que é ainda mais encorajador, é que as Escrituras afirmam que a paz não é apenas possível, mas também inevitável - é o destino certo da espécie humana. O caminho para este objectivo, porém, está inteiramente nas nossas mãos. A Casa Universal de Justiça declarou:
Se a paz será alcançada somente depois de horrores inimagináveis, precipitados pelo apego obstinado da humanidade a velhos padrões de comportamento, ou se será concretizada agora através de um acto de vontade coletiva - eis a escolha que se oferece a todos os que habitam a Terra. Nesta conjuntura crítica, em que os problemas incontroláveis que confrontam as nações se fundiram numa preocupação comum pelo bem-estar do mundo todo, o fracasso na contenção da vaga de conflitos e de desordem seria inconcebivelmente irresponsável. (A Promessa da Paz Mundial)
E como é suposto trabalharmos pela paz?

Em 1985, a Casa Universal de Justiça elaborou uma declaração sobre este assunto intitulada “A Promessa da Paz Mundial”. A declaração abordava vários tópicos relacionados com esta grande questão e salientava que alcançar a paz apenas se pode basear numa consciência genuína da unicidade da humanidade, o que “apela a nada menos que a reconstrução e desmilitarização de todo o mudo civilizado – um mundo organicamente unificado em todos os aspectos essenciais da sua vida, da sua maquinaria política, das suas ambições espirituais, comércio e finanças, escrita e língua, e todavia, infinito na diversidade das características nacionais das suas unidades federadas”.

A Revelação de Bahá'u'lláh que, através dos seus muitos ensinamentos sobre eliminação de preconceitos e divisão em todas as formas – desde a guerra, violência e discriminação, até a coisas aparentemente insignificantes como a maledicência e o divisionismo – actua como um projecto para a humanidade à medida que aprendemos o que significa estabelecer verdadeiramente o princípio da unicidade da humanidade como base para uma nova ordem mundial.

Assim, neste Natal, ao reflectir sobre como Jesus chegou a um mundo envolto em violência e viveu uma vida de amor e generosidade apesar das agressões perpetradas contra Ele, penso como o Seu ministério espalhou no mundo uma nova capacidade para amar. E, similarmente, penso como a revelação de Bahá'u'lláh espalhou no mundo a capacidade para apreciar verdadeiramente a unicidade da humanidade.

E assim, ao desejar que a paz num mundo que parece tudo menos elusivo, encontro conforto na promessa de Bahá'u'lláh: “Estas lutas infrutíferas, estas guerras ruinosas desaparecerão, e a 'Mais Grandiosa Paz' virá”.

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Texto original: A Christmas Wish for Peace (www.bahaiblog.net)

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Na sua vida profissional, Preethi tem-se envolvido em áreas como a educação, o desenvolvimento comunitário e o direito. No entanto, no seu coração, ela é uma criança que vê o mundo como um enorme parque de brincadeiras. Actualmente está a desenvolver um projecto educativo para levar histórias e culturas do mundo aos jovens, com recursos no One Story Classroom.

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