sábado, 18 de janeiro de 2020

Combater alterações climáticas com ciência e religião

Por David Langness.


Os Bahá'ís confiam na ciência. A religião sem ciência – dizem os ensinamentos Bahá'ís – não passa de superstição:
Se a religião não estiver de acordo com a ciência, então é superstição e ignorância, pois Deus dotou o homem com a razão para que ele compreendesse a realidade. As bases da religião são racionais. Deus criou-nos com inteligência para que as compreendêssemos. Se elas se opõem à ciência e à razão, como poderemos acreditar nelas e segui-las? ('Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 128)
Este princípio Bahá'í de entendimento entre a ciência e a religião significa que os Bahá'ís devem conciliar os ensinamentos espirituais da sua Fé com realidades científicas, nomeadamente as alterações climáticas.

Sabemos que a atmosfera da terra e os seus oceanos estão a aquecer, e a grande maioria dos cientistas concorda que esse aquecimento é causado pela actividade humana. Para proteger a Terra – e a humanidade – das consequências, temos de conseguir harmonizar e conciliar a perspectiva científica com a perspectiva espiritual. E como qualquer estudante de história sabe, isto nem sempre é fácil.

Numa carta sobre alterações climáticas, dirigida a um grupo de Bahá'ís, em Novembro de 2017, a Casa Universal de Justiça, através do seu secretariado, referiu a importância da ciência para todos os Bahá'ís e seres humanos:
Entre os ensinamentos Bahá'ís estão aqueles que referem a importância da ciência. “Grande, em verdade, é o mérito dos cientistas … nos povos do mundo”, observou Bahá'u'lláh. 'Abdu'l-Bahá escreveu que as “ciências de hoje são pontes para a realidade” e repetidamente enfatizava que “a religião deve estar em conformidade com a ciência e a razão”. Significativamente, numa ocasião em que colocaram uma questão científica a Shoghi Effendi, ele respondeu numa carta escrita em seu nome que “nós somos uma religião e não estamos qualificados para abordar assuntos científicos.” E em resposta a temas científicos levantados em várias ocasiões, ele advertia consistentemente os Bahá'ís de que esses assuntos deviam ser investigados por cientistas.

A investigação científica sobre os contributos humanos para o aquecimento global desenvolveu-se gradualmente ao longo de um século de investigação, e mais recentemente, sob intenso escrutínio. Apesar de existirem diferentes perspectivas entre cientistas individuais, existe actualmente um grau notável de consenso entre os especialistas em áreas relevantes sobre as causas e os impactos das alterações climáticas. Resultados científicos sólidos obtidos com o uso de métodos científicos credíveis, produziram conhecimento sobre o qual podemos agir; posteriormente, os resultados da acção deve ser sujeitos a novas investigações científicas e comparados com factos objectivos no mundo físico. No conjunto de temas em debate – que incluem a dimensão da contribuição humana, a projecção de consequências futuras, e as possibilidades de resposta – alguns aspectos são, obviamente, menos fundamentados por descobertas científicas do que outros, e consequentemente, sujeitos a análises críticas adicionais. (A Casa Universal de Justiça, 29 de Novembro 2017, a um grupo de Bahá'ís)
“...existe actualmente um grau notável de consenso entre os especialistas em áreas relevantes sobre as causas e os impactos das alterações climáticas”, escreveu a Casa Universal de Justiça.

E a carta prossegue afirmando: “Resultados científicos sólidos obtidos com o uso de métodos científicos credíveis, produziram conhecimento sobre o qual podemos agir...”

Sabemos, portanto, que a ciência e o espírito humano podem e devem trabalhar juntos para evitar e prevenir os piores resultados nos nossos problemas ambientais. Como é que isto pode acontecer?

Os ensinamentos Bahá'ís recomendam uma abordagem coordenada, racional e cientificamente fundamentada para estes problemas. Além disso, os Bahá'ís acreditam que devemos desenvolver uma ampla consciência de cidadania mundial:
Ó povos e famílias em contenda na terra! Voltai as vossas faces para a unidade e deixai que o esplendor da sua luz brilhe sobre vós. Reuni-vos e, por amor de Deus, decidi-vos a erradicar tudo o que seja causa de contenda entre vós. Depois, o brilho do grande Luminar do mundo envolverá toda a terra e os seus habitantes de uma única cidade e ocupantes de um único trono. (Bahá'u'lláh, Gleanings, CXI)
Por muito severas que sejam as suas políticas e leis ambientais, nenhuma nação pode resolver sozinha um problema global. Por definição, os problemas globais exigem soluções globais. Neste momento, todos nós – cidadãos do mundo – enfrentamos uma crise ambiental. As alterações climáticas ultrapassam as fronteiras nacionais. Independentemente da origem dos gases poluentes, todos nós partilhamos a mesma atmosfera. A ciência diz-nos que a temperatura da atmosfera está a subir e a atingir níveis insustentáveis. Então o que podemos fazer?

Os ensinamentos Bahá'ís dizem-nos que o melhor rumo de acção envolve a unidade – necessitamos de uma estratégia coordenada e global que defenda a população humana, regule a exploração e utilização dos recursos do planeta, e una a Terra como um único país. Sem esse princípio inspirador da unidade mundial, não teremos as ferramentas necessárias para salvar o nosso planeta:
A unidade do género humano, tal como Bahá'u'lláh anteviu, implica o estabelecimento de uma comunidade mundial em que todas as nações, raças, crenças e classes estejam estreita e permanentemente unidas, e em que a autonomia dos seus estados membros, e a liberdade e iniciativa pessoal dos seus membros individuais, sejam garantidas de um modo definitivo e completo. Esta comunidade mundial deve, tanto quanto podemos antecipar, incluir uma legislatura mundial, cujos membros na qualidade de representantes de toda a espécie humana, controlarão todos os recursos das respectivas nações componentes e formularão as leis que forem necessárias para regular a vida, satisfazer as necessidades e harmonizar as relações de todas as raças e povos entre si... Numa tal sociedade mundial, a ciência e a religião, as duas forças mais poderosas da vida humana, reconciliar-se-ão, cooperando e desenvolvendo-se harmoniosamente. (Shoghi Effendi, The World Order of Baha'u'llah, pp. 203-204)

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Texto original: Combatting Climate Change with Science and Religion (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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