Os Bahá'ís confiam na ciência. A religião sem ciência – dizem os ensinamentos Bahá'ís – não passa de superstição:
Se a religião não estiver de acordo com a ciência, então é superstição e ignorância, pois Deus dotou o homem com a razão para que ele compreendesse a realidade. As bases da religião são racionais. Deus criou-nos com inteligência para que as compreendêssemos. Se elas se opõem à ciência e à razão, como poderemos acreditar nelas e segui-las? ('Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 128)Este princípio Bahá'í de entendimento entre a ciência e a religião significa que os Bahá'ís devem conciliar os ensinamentos espirituais da sua Fé com realidades científicas, nomeadamente as alterações climáticas.
Sabemos que a atmosfera da terra e os seus oceanos estão a aquecer, e a grande maioria dos cientistas concorda que esse aquecimento é causado pela actividade humana. Para proteger a Terra – e a humanidade – das consequências, temos de conseguir harmonizar e conciliar a perspectiva científica com a perspectiva espiritual. E como qualquer estudante de história sabe, isto nem sempre é fácil.
Numa carta sobre alterações climáticas, dirigida a um grupo de Bahá'ís, em Novembro de 2017, a Casa Universal de Justiça, através do seu secretariado, referiu a importância da ciência para todos os Bahá'ís e seres humanos:
Entre os ensinamentos Bahá'ís estão aqueles que referem a importância da ciência. “Grande, em verdade, é o mérito dos cientistas … nos povos do mundo”, observou Bahá'u'lláh. 'Abdu'l-Bahá escreveu que as “ciências de hoje são pontes para a realidade” e repetidamente enfatizava que “a religião deve estar em conformidade com a ciência e a razão”. Significativamente, numa ocasião em que colocaram uma questão científica a Shoghi Effendi, ele respondeu numa carta escrita em seu nome que “nós somos uma religião e não estamos qualificados para abordar assuntos científicos.” E em resposta a temas científicos levantados em várias ocasiões, ele advertia consistentemente os Bahá'ís de que esses assuntos deviam ser investigados por cientistas.“...existe actualmente um grau notável de consenso entre os especialistas em áreas relevantes sobre as causas e os impactos das alterações climáticas”, escreveu a Casa Universal de Justiça.
A investigação científica sobre os contributos humanos para o aquecimento global desenvolveu-se gradualmente ao longo de um século de investigação, e mais recentemente, sob intenso escrutínio. Apesar de existirem diferentes perspectivas entre cientistas individuais, existe actualmente um grau notável de consenso entre os especialistas em áreas relevantes sobre as causas e os impactos das alterações climáticas. Resultados científicos sólidos obtidos com o uso de métodos científicos credíveis, produziram conhecimento sobre o qual podemos agir; posteriormente, os resultados da acção deve ser sujeitos a novas investigações científicas e comparados com factos objectivos no mundo físico. No conjunto de temas em debate – que incluem a dimensão da contribuição humana, a projecção de consequências futuras, e as possibilidades de resposta – alguns aspectos são, obviamente, menos fundamentados por descobertas científicas do que outros, e consequentemente, sujeitos a análises críticas adicionais. (A Casa Universal de Justiça, 29 de Novembro 2017, a um grupo de Bahá'ís)
E a carta prossegue afirmando: “Resultados científicos sólidos obtidos com o uso de métodos científicos credíveis, produziram conhecimento sobre o qual podemos agir...”
Sabemos, portanto, que a ciência e o espírito humano podem e devem trabalhar juntos para evitar e prevenir os piores resultados nos nossos problemas ambientais. Como é que isto pode acontecer?
Os ensinamentos Bahá'ís recomendam uma abordagem coordenada, racional e cientificamente fundamentada para estes problemas. Além disso, os Bahá'ís acreditam que devemos desenvolver uma ampla consciência de cidadania mundial:
Ó povos e famílias em contenda na terra! Voltai as vossas faces para a unidade e deixai que o esplendor da sua luz brilhe sobre vós. Reuni-vos e, por amor de Deus, decidi-vos a erradicar tudo o que seja causa de contenda entre vós. Depois, o brilho do grande Luminar do mundo envolverá toda a terra e os seus habitantes de uma única cidade e ocupantes de um único trono. (Bahá'u'lláh, Gleanings, CXI)Por muito severas que sejam as suas políticas e leis ambientais, nenhuma nação pode resolver sozinha um problema global. Por definição, os problemas globais exigem soluções globais. Neste momento, todos nós – cidadãos do mundo – enfrentamos uma crise ambiental. As alterações climáticas ultrapassam as fronteiras nacionais. Independentemente da origem dos gases poluentes, todos nós partilhamos a mesma atmosfera. A ciência diz-nos que a temperatura da atmosfera está a subir e a atingir níveis insustentáveis. Então o que podemos fazer?
Os ensinamentos Bahá'ís dizem-nos que o melhor rumo de acção envolve a unidade – necessitamos de uma estratégia coordenada e global que defenda a população humana, regule a exploração e utilização dos recursos do planeta, e una a Terra como um único país. Sem esse princípio inspirador da unidade mundial, não teremos as ferramentas necessárias para salvar o nosso planeta:
A unidade do género humano, tal como Bahá'u'lláh anteviu, implica o estabelecimento de uma comunidade mundial em que todas as nações, raças, crenças e classes estejam estreita e permanentemente unidas, e em que a autonomia dos seus estados membros, e a liberdade e iniciativa pessoal dos seus membros individuais, sejam garantidas de um modo definitivo e completo. Esta comunidade mundial deve, tanto quanto podemos antecipar, incluir uma legislatura mundial, cujos membros na qualidade de representantes de toda a espécie humana, controlarão todos os recursos das respectivas nações componentes e formularão as leis que forem necessárias para regular a vida, satisfazer as necessidades e harmonizar as relações de todas as raças e povos entre si... Numa tal sociedade mundial, a ciência e a religião, as duas forças mais poderosas da vida humana, reconciliar-se-ão, cooperando e desenvolvendo-se harmoniosamente. (Shoghi Effendi, The World Order of Baha'u'llah, pp. 203-204)
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Texto original: Combatting Climate Change with Science and Religion (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
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