Em 2015 aconteceu algo completamente novo: as nações da Terra reuniram-se para assinar um tratado destinado a proteger os bens comuns ambientais.
O que significa isso? Os “bens comuns”, tal como a comunidade internacional das nações o define, são os recursos naturais, culturais e ambientais disponíveis para toda a gente. Os bens comuns incluem os mares, o ar, a água, os solos, a vida vegetal e animal, a nossa herança intelectual e cultural, e por fim, este planeta habitável que não é propriedade de ninguém – mas que é partilhado por todos.
A expressão vem da Roma antiga, onde a res communis designava as coisas que pertenciam a todos e todos podiam usufruir. A palavra relacionada comunidade implica uma propriedade partilhada.
O Acordo Climático de Paris, assinado pelos países do mundo em 2015, representa a primeira tentativa global para preservar e proteger os bens comuns do planeta.
O acordo histórico - que nunca tinha ocorrido na história da humanidade – assinalou não só um feito único, mas também uma notável mudança de paradigma na nossa consciência planetária. Reconhecemos unanimemente que os bens comuns da nossa terra pertencem a todos e que beneficiam a todos. Reconhecemos, ainda, a unidade essencial do planeta. Tal como dizem os ensinamentos Bahá’ís:
... tentemos com coração e alma que a unidade permaneça no mundo, que todos os povos se tornem um só povo, e que toda a superfície da terra seja como um só país, pois o Sol da Verdade brilha igualmente para todos.A Casa Universal de Justiça – o corpo dirigente internacional da Fé Bahá’í – reconheceu o tremendo significado deste tratado ambiental mundial sem precedentes na sua carta de Novembro de 2017, sobre alterações climáticas:
Todos os Profetas de Deus vieram por amor a este grande propósito. (‘Abdu’l-Bahá, Paris Talks, p. 171)
Um fenómeno complexo com as alterações climáticas não pode ser reduzido a propostas simples ou directivas políticas simplistas. Mesmo quando existe um acordo relativamente aos factos fundamentais, pode existir uma diversidade de opiniões sobre o que fazer em relação a esses factos, e o problema agrava-se quando existe incerteza ou quando os factos básicos são contestados por motivos partidários. Mas apesar de poder existir uma componente localizada e fortemente política na discussão pública, o mais notável é que num momento em que as nações têm dificuldade em chegar a acordo em tantos assuntos importantes, os governos de praticamente todos os países da terra cegaram a um consenso político num modelo comum – o acordo de Paris – para responder às alterações climáticas de uma forma que se antevê venha a evoluir ao longo do tempo com o acumular de experiência.Esta abordagem flexível e aberta ao assunto não exige que os Bahá’is que adoptem uma “linha partidária” sobre o tema das alterações climáticas. No entanto, pede que todos considerem seriamente como “alcançar unidade de pensamento e acção”:
Há mais de um século, ‘Abdu’l-Bahá referiu a “unidade de pensamento no mundo dos empreendimentos, cuja consumação será testemunhada em breve”. O acordo internacional sobre alterações climáticas recentemente adoptado, independentemente das falhas ou limitações que possa ter, apresenta mais uma demonstração notável do desenvolvimento antevisto por ‘Abdu’l-Bahá.
O acordo representa um ponto de partida para pensamento e acção construtivas que pode ser aperfeiçoado ou revisto ao longo do tempo, com base na experiência ou novas descobertas. Apesar dos Bahá’ís seguirem o princípio fundamental de não envolvimento em assuntos político-partidários, isto não pode ser interpretado como uma forma de impedir que [os Bahá’ís] tenham uma participação plena e activa na busca de soluções para os problemas urgentes que afectam a humanidade.
Considerando que a questão das alterações climáticas suscita preocupações sociais, económicas e ambientais em todo o mundo, os Bahá’ís interessados, as instituições e organismos Bahá’ís abordaram-na com naturalidade, seja a nível local, nacional ou internacional. No entanto, isso não significa que as conclusões sobre as descobertas científicas sobre alterações climáticas relacionadas com essas iniciativas devam ser entendidas ou apresentadas com matérias de convicção ou obrigação religiosa. Diferentes Bahá’ís, devido às suas diferentes origens, entendem as ideias sobre ciência e alterações climáticas de formas diferentes e sentem-se impelidos a agir de forma diferente, e não estão obrigados a qualquer uniformidade de pensamento nesses assuntos. (A Casa Universal de Justiça, 29 Novembro 2017, a um grupo de Bahá’ís)
Sempre que os Bahá’ís participam em actividades relacionadas com este tópico na sociedade em geral, podem ajudar a contribuir para um processo construtivo elevando a conversa acima das preocupações partidárias e interesses próprios, e a esforçarem-se para conseguir alcançar unidade de pensamento e acção. Vários conceitos Bahá’ís podem inspirar estes esforços: uma carta da Casa de Justiça datada de 01 de Março de 2017, por exemplo, aborda as questões morais do consumo e do materialismo excessivo que estão associados à exploração e degradação do ambiente. Ao início existirão, sem dúvida, muitas áreas onde o esforço para abordar a questão das alterações climáticas antropogénicas correspondem às abordagens amplamente aceites para melhorar o ambiente. As áreas de colaboração com outros podem expandir-se à medida que a experiência e a aprendizagem se desenvolvem. (Idem)Finalmente, a Casa Universal de Justiça salienta que as alterações climáticas estão intimamente ligadas à questão do “consumo e do materialismo excessivo”. A forma como usamos os recursos da Terra determina se o planeta pode sustentar o nosso consumo a longo prazo. Aqui a Casa de Justiça faz uma sugestão simples e fácil de implementar: todos podemos, independentemente das nossas ideias sobre alterações climáticas, começar por abordar o assunto tomando iniciativas para melhorar o ambiente natural.
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Texto original: The Paris Climate Accords, World Unity and the Baha’i Teachings (www.bahaiteachings.org)
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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site www.bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.
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