sábado, 11 de abril de 2020

A bela e triste história de amor do Báb e Sua Esposa

Por Kathy Roman.


Sou uma pessoa muito sentimental e adoro ler uma emocionante história de amor - e quando a história é verdadeira, então ainda melhor!

Uma das minhas narrativas preferidas na história da Fé Bahá’í é a história do Báb e da mulher que Ele apreciava acima de todas as outras: a Sua esposa Khadijih Bagum.

Tudo começou quando o Báb e Khadijih eram crianças. Eram primos em segundo grau e brincavam juntos, até que chegaram à idade em que, segundo as tradições islâmicas da sociedade persa, já não era permitido que estivessem juntos e se vissem. Quando o Báb completou 23 anos, a Sua mãe começou a procurar uma esposa para Ele.

Na mesma ocasião, Khadijih, que tinha cerca de 20 anos, teve um sonho vívido:
Uma noite vi no mundo dos sonhos, Fátima, a filha de Maomé, vindo a nossa casa e desejando que uma de nós se casasse com o seu filho. Eu e as minhas irmãs recebemo-la com afecto e cortesia. Quando ela se sentou, olhou-nos intensamente; depois levantou-se, aproximou-se de mim e beijou a minha testa. (Munirih Khanum, Episodes in the life of Munirih Khanum, Marriage of Khadijah to the Bab, pp. 32-33.)
Khadijih, acrescenta:
Na manhã seguinte, levantei-me e senti-me leve e feliz, mas tinha vergonha de contar o meu sonho a alguém. Na tarde desse mesmo dia, a mãe do Báb veio a nossa casa. Juntamente com as minhas irmãs, recebemo-la, e para minha surpresa, tal como tinha visto no meu sonho, ela levantou-se, aproximou-se de mim sorrindo, beijou a minha testa e abraçou-me. Após uma conversa normal, ela saiu. A minha irmã mais velha segredou-me ao ouvido que ela tinha vindo pedir a minha mão para o filho. Respondi: “Tenho tanta sorte!” Depois relacionei o meu sonho da noite anterior e disse a realização do meu sonho tinha trazido imensa alegria ao meu coração. (Idem)
Carta do Báb à Sua Esposa
O Báb e Khadijih casaram logo a seguir; o jovem casal estava muito apaixonado. Mas pouco depois do casamento, Khadijih teve um sonho assustador. Um leão feroz apareceu no seu pátio e ela agarrou-o com os braços à volta do pescoço. O leão arrastou-a pelo pátio dando duas voltas e meia. Quando Khadijih acordou na manhã seguinte, contou o sonho horrível ao seu marido. Ele explicou-lhe o significado do sonho – as suas vidas juntas não durariam mais do que dois anos e meio. E assim começou uma mudança nas suas vidas, com o casal a preparar-se para as muitas adversidades que viriam.

Um ano mais tarde, Khadijih, grávida do primeiro filho, ficou muito doente durante parto, colocando em risco a sua vida e a vida do bebé. A mãe do Báb assustada pela mãe e pela criança, pediu ao Báb que salvasse ambos. O Báb pegou num espelho e escreveu nele uma oração. Pediu à sua mãe que segurasse o espelho em frente da sua esposa Khadiji. Seguidamente, nasceu um menino a quem deram o nome de Ahmad. Mas pouco depois do seu nascimento, o bebé morreu.

A mãe de Báb ficou muito zangada e perturbada por o filho não ter conseguido salvar a mãe e o bebé, mas o Báb explicou que Deus não o destinara a ter filhos.

Seguidamente o Báb, que amava imensamente a sua mulher, escreveu-lhe estas palavras de conforto:
Ó bem-amada!... Não serás uma mulher, como outras mulheres, se obedeceres a Deus na Causa da Verdade, a maior das Verdades… Sê paciente em tudo o que Deus decretou. Em verdade, o teu filho Ahmad está com Fátima, a Sublime, no Paraíso santificado. (H.M. Balyuzi, The Bab, p. 47)
Khadijih, iluminada e espiritualmente amadurecida, notou que o seu amado marido não era um homem como os outros. Mas não tinha percebido o quão diferente ele era, até uma noite inesquecível. Algum tempo antes do Báb declarar a Sua Missão, Khadijih Bagum teve um encontro fascinante com o seu marido. No meio da noite, o Báb levantou-Se da cama e não voltou durante horas. Preocupada, Khadijih foi à Sua procura.
... ela viu a sala superior da Casa imersa em luz. Perguntou a si própria qual seria a fonte de toda aquela luz, e de onde teriam vindo todas aquelas lamparinas. Mas esta não era luz tangível; era luz divina, e ela não estava a ver com os seus olhos físicos, mas com a sua visão interior… Ali viu um Sol que iluminava o mundo e uma lua brilhante no meio da sala, com as Suas mãos levantadas em direcção ao céu. Apesar dos seus olhos estarem fixos na luz deslumbrante que emanava do Seu ser, um sentimento de temor e medo apossou-se dela. Queria sair dali, mas não era capaz de se mover. O seu temor cresceu tanto que se sentia entorpecida. (citado por Baharieh Rouhani Ma’ani, Twin Divine Trees, p. 34)
Na manhã seguinte, o Báb disse-lhe:
Sabei que o Deus Omnipotente se manifesta em Mim. Eu sou Aquele Cujo advento o povo do Islão esperou durante mil anos. Deus criou-Me para uma grande Causa, e tu testemunhaste a revelação divina. Apesar de eu não ter desejado que Me visses nesse estado, Deus, porém, assim o quis para que não houvesse qualquer espaço no teu coração para dúvida ou hesitação. Idem, p. 35)
Khadijih Bagum disse que assim que ouviu O Báb a proferir aquelas palavras, ela acreditou n’Ele… e o seu coração ficou calmo e seguro. Posteriormente, o Báb revelou uma oração para a sua amada Khadijih, para ser recitada nos momentos em que Ele estivesse ausente ou quando ela receasse pela sua segurança. Ele disse:
Na hora da tua perplexidade, recita esta oração antes de ires dormir. Eu próprio aparecer-te-ei e afastarei a tua ansiedade. (Nabil, The Dawn Breakers, p. 143)
O Báb e a Sua esposa Khadijih partilharam uma vida intensa de sacrifício, num momento que seria mais tarde conhecido como “A Hora da Alvorada” – o início de uma nova religião mundial. Apesar da feroz perseguição religiosa, separação forçada, e perda trágica do filho recém-nascido, os dois permaneceram firmemente dedicados um ao outro, e a Deus. O Báb descreveu a mágoa que sentiu quando se separaram:
Meu doce amor... Deus é minha testemunha que desde o momento da nossa separação, a mágoa tem sido tão intensa que não se pode descrever... (H.M. Balyuzi, Khadijih Bagum: Wife of The Bab)
Os dois recém-casados, muito apaixonados, estiveram pouco tempo juntos neste mundo. Mas durante esse curto período de tempo apreciaram cada dia e superaram cada adversidade. O seu amor resistiu até ao fim do tempo e estarão unidos em todos os mundos de Deus.

Tal como o Báb predisse, dois anos e meio depois do sonho de Khadijih com o leão, Ele foi martirizado… mas essa é outra história bela e trágica.

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Texto original: The Bittersweet Love Story of The Bab and His Beloved Wife (www.bahaiteachings.org)

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Kathy Roman é educadora reformada, aspirante a escritora, esposa e mãe de dois filhos que vive em Elk Grove, California (EUA), onde serve como responsável de Informação Pública Bahá’í.

3 comentários:

Vale da Busca disse...

A ordem dos eventos não está clara e para mim parece confusa.

O martírio do Báb em 2 anos e meio após o sonho parece estranho na linha temporal. O Báb, até onde sei, teve seu ministério de 6 anos (1844-1850).

Logo o sonho ocorreu em 1847-1848? A sua esposa não soubera antes de sua missão profética? O Báb se casou após receber sua missão profética?

Marco Oliveira disse...

O Báb e Khadijih apenas estiveram juntos durante dois anos e meio.
Quando o Báb foi exilado e expulso de Shiraz, Ele nunca mais viu a esposa, nem a mãe.
Depois, o Báb passou a maior parte do Seu ministério afastado da família.
Há um imprecisão na última frase, mas está conforme o original (em inglês).

alexbr82 disse...

Querido Marco, muito obrigado pelo maravilhoso serviço de tradução e postagem no teu rico blog!
Essa história vai ser partilhada durante o dia sagrado na nossa comunidade, obrigado!
Um forte abraço!