Nas Suas Escrituras, Bahá’u’lláh exclui a criação de qualquer forma de sacerdócio ou clero entre os Seus seguidores.
Por este motivo, os Bahá’ís não têm padres, diáconos, vigários, bispos, clérigos, mulláhs, monges, monjas, rabinos, gurus, pastores, pregadores reverendos ou ministros. Para os Bahá’ís não existe uma categoria profissional de dirigentes da religião.
Em vez disso, existe os corpos dirigentes da Fé Bahá’í a nível local, nacional e internacional – que são eleitos democraticamente pelo corpo dos crentes. Este processo único não envolve candidaturas, campanhas eleitorais ou criação de listas ou facções. Em vez disso, as eleições Bahá’ís são celebradas numa atmosfera espiritual tranquila, onde todos votam em quem a sua consciência lhes indica, considerando:
... sem o menor traço de paixão ou preconceito, e independentemente de qualquer consideração material, os nomes daqueles que melhor combinam as qualidades indispensáveis de lealdade, devoção altruísta, uma mente bem treinada, uma capacidade reconhecida e uma experiência amadurecida. (Shoghi Effendi, Baha’i Administration)Isto representa, obviamente, uma grande diferença em relação às práticas religiosas anteriores. A maioria das religiões do passado tem confiado em clérigos profissionais para liderar os seus seguidores, mas os Bahá’ís acreditam que esse tipo de liderança ungida - com todo o potencial que tem para criar confusão, corrupção e sectarismo – chegou definitivamente ao fim:
Ó congregação de sacerdotes!... Ponde de parte aquilo que possuís, mantende a vossa paz e dai ouvidos, depois, àquilo que a Língua da Grandeza e Majestade profere…
Se vós, sumo-sacerdotes, descobrísseis o perfume do roseiral da compreensão, não procuraríeis outro salvo Ele, e reconheceríeis, nas Suas novas vestes, o Sapientíssimo, o Incomparável, e afastaríeis os vossos olhos do mundo e de todos os que o procuram, e erguer-vos-íeis para O auxiliar...
Este não é o dia em que os sumo-sacerdotes podem dominar e exercer a sua autoridade. (Baha'u'llah, The Proclamation of Baha’u’llah)O clero – uma característica proeminente da história religiosa – teve um propósito quando a generalidade da população era analfabeta. Nesses tempos, este tipo de liderança religiosa tinham um papel social importante na educação espiritual das massas. Eles eram responsáveis por ensinar a religião, defender os seus princípios, e representar os seus interesses. Na sua função de professores, os líderes religiosos tornavam as palavras dos mensageiros de Deus acessível ao povo e respondiam a questões sobre os ensinamentos dos mensageiros de Deus, servindo como intermediários entre o profeta e o povo. Tem sido dada muita importância histórica a estas pessoas porque houve tempos em que, se não fosse o seu trabalho, a luz da religião ter-se-ia extinguido.
Nestes tempos, porém, em que o nível geral da educação subiu ao ponto de todos os indivíduos poderem ler, reflectir e tentar compreender por si próprios as palavras de Deus, os Bahá’ís acreditam que já não há necessidade desta função religiosa. Perpetuar o clero significaria substituir as opiniões dos indivíduos pela autoridade da palavra escrita de Deus, que Bahá’u’lláh proclamou novamente a todo o mundo:
Entre estes ensinamentos está a investigação independente da realidade para que o mundo da humanidade se possa salvar das trevas da imitação e alcançar a verdade; que possam rasgar e deitar fora essas vestes esfarrapadas e desgastadas de há 1000 anos atrás e possam vestir a túnica feita com a maior pureza e santidade no tear da realidade. (‘Abdu’l-Bahá, Tablet to the Hague)Apesar de não existirem líderes religiosos profissionais na Fé Bahá’í, esta possui uma estrutura administrativa altamente organizada - que se baseia num modelo democrático com orientação espiritual.
Quando Bahá’u’lláh proclamou a Sua nova Fé, Ele estabeleceu um sistema de administração moderno que entrega a autoridade para administrar, adjudicar, e legislar sobre os assuntos da religião nas mãos de instituições eleitas, que têm uma natureza consultiva. Estes corpos administrativos funcionam a nível local, nacional e internacional. Esta estrutura localizada e universal permite que a Fé Bahá’í – antevista por Bahá’u’lláh como uma comunidade orgânica, dinâmica e em constante crescimento – cresça e responda às necessidades avançadas dos nossos tempos.
A competência e o foco essencial da intervenção destas instituições Bahá’ís evoluirá naturalmente à medida que crescer a força numérica dos aderentes desta religião mundial. Actualmente, estas instituições são constituídas por nove pessoas eleitas. A cada cinco anos é realizada uma convenção internacional para eleger a Casa Universal de Justiça, o corpo administrativo global da Fé Bahá’í. Este organismo global da Fé Bahá’í tem a responsabilidade de guiar o seu progresso e desenvolvimento. A Casa Universal de Justiça está sedeada no Centro Mundial Bahá’í no Monte Carmelo, em Israel.
Além destes corpos administrativos, Bahá’u’lláh definiu instituições nomeadas cuja função era actuar como conselheiros experientes para as instituições eleitas. A responsabilidade de dar a conhecer a mensagem de Bahá’u’lláh às outras pessoas está nas mãos de todos os Bahá’ís. Cada Bahá’í estuda as Escrituras de Bahá'u'lláh por si próprio, e tanto quanto for capaz, reflecte esses ensinamentos na sua vida diária, de forma que possam descrever e demonstrar os princípios da Fé Bahá’í. Cada Bahá’í, de certa forma, oferece-se como um exemplo da sua fé em acção, tornando a sua Fé uma religião em que os actos falam mais alto que as palavras:
Ó Filho da Minha Serva! A orientação sempre foi dada por palavras, e agora é dada por acções. Cada um deve mostrar acções que sejam puras e santas, pois as palavras pertencem igualmente a todos, enquanto que essas acções pertencem apenas aos Nossos amados. Esforçai-vos, pois, com alma e coração para vos distinguirdes pelas vossas acções. Desta forma vos aconselhamos nesta epístola sagrada e resplandecente. (Baha’u’llah, The Hidden Words)
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Texto original: How a Religion with No Clergy Works (www.bahaiteachings.org)
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Joseph Sheppherd faleceu 2015. Foi um antropólogo e arqueólogo linguístico e cultural. Viveu nos Estados Unidos, Reino Unido, Panamá, Colômbia e Eslováquia. Passou vários anos entre os povos das selvas dos Camarões e da Guiné Equatorial. Foi professor, escritor, escultor, artista gráfico, artesão e pintor. Publicou 10 livros onde abordou diversos temas, desde assuntos profissionais até aos temas Bahá'ís, passando pela poesia, ficção e literatura infantil.
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