sábado, 20 de junho de 2020

O Santo Marinheiro, a Sarça Ardente e a Eterna Aliança de Deus

Por Peter C. Lyon.


A Epístola do Santo Marinheiro – imponentemente mística e poderosamente simbólica – foi revelada por Bahá’u’lláh; é um texto repleto de mistérios e até profecias.

‘Abdu’l-Bahá aconselha os Bahá’ís:
Estudai a Epístola do Santo Marinheiro para que possais conhecer a verdade e considerar que a Abençoada Beleza [Bahá’u’lláh] predisse plenamente eventos futuros. Que aqueles que percebem, fiquem avisados. Em verdade, isto é uma dádiva para os sinceros! (‘Abdu’l-Bahá, Baha’i Prayers, p. 319)

Shoghi Effendi refere que certas epístolas estão “dotadas por Bahá’u’lláh com um poder e significado especiais” (Shoghi Effendi, Baha’i Prayers, p. 307)

Poderá o Santo Marinheiro ser uma dessas Epístolas especiais?

Reafirmar a Antiga Aliança

Houve circunstâncias únicas em torno da origem e composição desta Epístola. Quando Bahá’u’lláh revelou o Santo Marinheiro, em Março de 1863, a recém-nascida comunidade Bábi enfrentada pressões perigosas. Havia ameaças de perseguições e o primeiro-ministro otomano tinha decretado o exílio de Bahá’u’lláh de Bagdade para Istambul. A Epístola do Santo Marinheiro foi revelado em árabe e persa (e hoje apenas a parte em árabe está oficialmente traduzida). Tal como qualquer texto das Escrituras Bahá’ís, pode ser interpretada de múltiplas formas.

O Santo Marinheiro começa:
Ele é o Misericordioso, o Bem-Amado! Ó Santo Marinheiro! Ordena à tua arca da eternidade que apareça perante a Assembleia Celestial, Glorificado seja o meu Senhor, o Todo-Glorioso! [este refrão surge após cada linha e será excluído daqui em diante por uma questão de brevidade]. Lança-a sobre o mar antigo, em Seu Nome, o Mais Maravilhoso, E permite que os espíritos angélicos entrem, em Nome de Deus, o Altíssimo. Levanta a âncora, então, para que possa navegar sobre o oceano da glória… (Bahá’u’lláh, Baha’i Prayers, p. 319)
Uma leitura possível desta ode coloca Bahá’u’lláh como o santo marinheiro e a “arca da eternidade” como a imutável fé de Deus. (Adib Taherzadeh, The Revelation of Baha’u’llah: Baghdad 1853-63, p. 236).

O tema da aliança – a promessa de que Deus guiará a humanidade e que esta obedecerá às Suas leis – é o traço distintivo desta epístola. A palavra aliança tem aqui um significado duplo: Deus promete enviar uma série de mensageiros divinos para educar a humanidade durante todos os tempos; e Bahá’u’lláh promete dar liderança e orientação à comunidade Bahá’í – e ao mundo – à medida que vão evoluindo.

Para demonstrar que a Fé Bahá’í é parte da antiga aliança de Deus, o Santo Marinheiro ouve novamente o Livro do Génesis, a Arca de Noé e o dilúvio:
Porque estou para derramar águas em dilúvio sobre a terra para consumir toda carne em que há fôlego de vida debaixo dos céus; tudo o que há na terra perecerá. Contigo, porém, estabelecerei a minha aliança; entrarás na arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos. (Genesis 6:17-18)
Tanto Bahá’u’lláh como Noé são marinheiros que guiam os crentes. A arca, que protege os elementos sagrados da criação de Deus contra o desastre, pode ser interpretada como a antiga fé de Deus – seja a de Noé ou a de Bahá’u’lláh. As Escrituras Bahá’ís salientam a unidade essencial destes dois comandantes divinos:
É o Santo dos Santos que constitui a essência da religião de Adão, Noé, Abraão, Moisés, Cristo, Maomé, o Báb e Bahá’u’lláh, e que perdurará durante todas as Dispensações proféticas. Nunca será abolido, pois consiste em verdade espiritual e não material. (‘Abdu’l-Bahá, Some Answered Questions, newly revised edition, p. 69)
Além disso, o Santo Marinheiro reforça a ideia de que a Aliança de Bahá’u’lláh é a mesma que no Antigo Testamento faz referência a Moisés:
Ordena-lhe que apareçam e alcancem esta condição sublime e invisível… Uma condição onde o Senhor apareceu na Chama da Sua Beleza na árvore imortal… Onde as personificações da Sua Causa se purificaram do ego e da paixão… Em torno da qual a Glória de Moisés circula com as hostes eternas… Onde a Mão de Deus surgiu do Seu peito da Grandeza… (Bahá’u’lláh, Bahá’í Prayers, p. 320)
A frase “o Senhor apareceu na Chama da Sua Beleza na árvore imortal” refere-se ao encontro de Moisés com a Sarça Ardente:
Apareceu-lhe o Anjo do Senhor numa chama de fogo, no meio de uma sarça; Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo e a sarça não se consumia… Deus, do meio da sarça, o chamou e disse: Moisés! Moisés! … Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob. (Êxodo 3:2-6)
De igual modo, a frase “Onde a Mão de Deus surgiu do Seu peito da Grandeza” alude a outro episódio em que Moisés tem uma doença na mão e fica curado miraculosamente:
Disse-lhe mais o Senhor: Mete, agora, a mão no peito. Ele o fez; e, tirando-a, eis que a mão estava leprosa, branca como a neve. Disse ainda o Senhor: Torna a meter a mão no peito. Ele a meteu no peito, novamente; e, quando a tirou, eis que se havia tornado como o restante de sua carne. (Êxodo 4: 6-7)

Profecia Cumprida

O significado das palavras de ‘Abdu’l-Bahá sobre a Epístola do Santo Marinheiro prever eventos futuros ficou claro em Agosto de 1863, seis meses após a revelação da Epístola, quando Bahá’u’lláh viajou de navio, conforme referido por Shoghi Effendi:
[Bahá’u’lláh], conforme pressagiado na Epístola do Santo Marinheiro, foi colocado a bordo de um navio a vapor turco e três dias mais tarde, ao meio-dia, juntamente com os Seus companheiros de exílio, desembarcou no porto de Constantinopla [no dia 16 de Agosto de 1863]. (Shoghi Effendi, God Passes By, p. 157)
A Epístola do Santo Marinheiro parece antever as subsequentes viagens por mar, nomeadamente o exílio de Bahá’u’lláh em 1868 (em que atravessou o Mediterrâneo) para a cidade prisão de Akká, e as viagens de ‘Abdu’l-Bahá à Europa e América, viagens essas que foram tremendas para a expansão da Fé no Ocidente.

Tendo explorado estes aspectos desta Epístola única, poderá o leitor concluir que ela está dotada de um poder especial? Um princípio essencial da Fé Bahá’í diz que cada pessoa deve investigar a verdade de forma independente; por isso, convido-vos a descobrirem.

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Texto original: A Holy Mariner, A Burning Bush, and God’s Ancient Covenant (www.bahaiteachings.org)


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Peter C. Lyon é um especialista em comunicações, residente em Washington, DC. É graduado em História e Espanhol pela Universidade do Texas. É escritor e leitor ávido de livros de história. Aceitou a Fé Bahá’í em 2001.

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