sábado, 22 de agosto de 2020

Será que todos adoramos o mesmo Deus?

Por Joseph Roy Sheppherd.



Será que todos adoramos o mesmo Deus? Sim, os ensinamentos Bahá’ís dizem inequivocamente que sim. Apesar das nossas diferenças linguísticas, culturais, e históricas, somos todos iguais aos olhos de um Deus único.

Independentemente da Fé que seguimos ou de como designamos o Criador, é o mesmo Deus que ouve as nossas orações.

Bahá’u’lláh explicou que a criação está separada do Criador. No entanto, os ensinamentos Bahá´ís indicam que em toda a criação podemos ver indícios do trabalho de Deus. Desde o majestoso movimento das estrelas e planetas na nossa galáxia até aos próprios átomos que a compõem, tudo reflecte o espantoso e impressionante trabalho do Criador:
Todo o louvor à unidade de Deus e toda a honra a Ele, o Senhor soberano, o incomparável e todo glorioso Governante do universo, Que do nada absoluto criou a realidade de todas as coisas, Que do nada trouxe para a existência os mais refinados e subtis elementos da Sua criação, e Que, salvando as Suas criaturas da humilhação do afastamento e dos perigos da derradeira extinção, as recebeu no Seu reino de glória incorruptível. Nada salvo a Sua graça abrangente, a Sua misericórdia omnipresente, poderia consegui-lo. (…)

Tendo criado o mundo e tudo o que nele vive e se move, Ele, através da operação directa da Sua Vontade irrestrita e soberana, decidiu conferir ao homem a distinção e capacidade únicas de O conhecer e amar – uma capacidade que deve necessariamente ser vista como o impulso gerador e propósito principal subjacente a toda a criação… (Selecção dos Escritos de Bahá’u’lláh, XXVII)
As escrituras Bahá’ís dizem que a existência do universo e o processo dinâmico que governa o aparecimento da própria vida são uma prova de que tudo emana da Vontade Divina. Deus criou não só a interacção física complexa de forças que actuam na natureza, mas também planos mais subtis de existência, dimensões invisíveis aos olhos humanos, cuja existência está para lá da percepção dos sentidos e da mente, um cosmos imaterial que interage com a nossa natureza espiritual. Estas múltiplas dimensões constituem uma realidade maior do que o universo físico:
É verdadeiramente um crente na Unidade de Deus quem reconhece em cada coisa criada um sinal da revelação d’Aquele Que é a Verdade Eterna, e não aquele que sustenta que a criatura é indistinguível do Criador. (Selecção dos Escritos de Bahá’u’lláh, XCIII)
Para o individuo, Bahá’u’lláh ensinou que o propósito da nossa criação é conhecer e amar Deus:
Sabei que o vosso verdadeiro adorno consiste no amor a Deus e no vosso desprendimento de tudo salvo d’Ele, e não nos luxos que possuis. Abandonai-os para aqueles que os procuram e volvei-vos para Deus, O que faz fluir os rios. (Baha’u’llah, The Summons of the Lord of Hosts, p. 61)
Mas como Podemos conhecer Deus, se Deus é incognoscível? Nas escrituras Bahá’ís, Deus é referido por atributos e não por descrições: o Omnisciente, a Suprema Sabedoria, o Que Sempre Perdoa, o Mais Generoso, o Omnipotente, o Todo-Glorioso, o Mais Gracioso, etc.

Estas qualidades divinas são descritas com palavras cujo significado mais simples está ao alcance da compreensão humana, mas que apenas podem ser aludidas dentro dos limites da linguagem – pois nunca poderíamos desenvolver um vocabulário espiritual adequado para descrever os atributos de Deus. A utilização destes termos qualificativos nas escrituras Bahá’ís demonstra claramente que Deus transcende as noções de forma ou constituição, raça ou género.

Esta existência não tem local ou condição e refere uma essência incognoscível que não se pode antropomorfizar. Assim, Deus não é um velho de barbas brancas, sustentado por uma hoste de anjos, conforme retratado por Michelangelo; Deus não é uma mulher nua coberta de estrelas arqueada sobre a terra, conforme mostra a iconografia egípcia; Deus não é qualquer imagem modelar com um halo circular, radiante, flamejante ou triangular. Deus não é uma série de coisas. Deus não é criado à nossa imagem, nem à imagem de qualquer linguagem simbólica que criámos no passado. Deus é aquilo que é – e os ensinamentos de muitas religiões dizem-nos que nós fomos criados à imagem de Deus.

Bahá’u’lláh ensina-nos que a nossa parte etérea, a nossa realidade espiritual, reflecte a imagem divina.

Por outras palavras, os seres humanos são essencialmente criaturas espirituais com corpos físicos que mudam de forma e dimensão no decorrer da vida, mas cujo ser interior não é afectado e continua a progredir independentemente da condição do veículo físico que o contém. Colectivamente, enquanto espécie, os seres humanos sempre possuíram almas e o potencial para reconhecer a existência do nosso Criador, independentemente da forma particular que os nossos corpos possam ter assumido ao longo da nossa existência material. Somos entidades portadoras de alma cuja razão de ser sempre foi conhecer e amar Deus:
O propósito de Deus ao criar o homem sempre foi, e sempre será, permitir-lhe conhecer o seu Criador e alcançar a Sua Presença. Deste propósito excelso, deste objectivo supremo, dão testemunho inequívoco todos os livros celestiais e todas as poderosas Escrituras divinamente reveladas. (Selecção dos Escritos de Bahá’u’lláh, XXIX)
O tempo de duração da nossa existência física é infinitesimal quando comparado com a extensão e duração do universo ao nosso redor; a nossa vida na Terra é um momento efémero e uma pequena parte do motivo pelo qual Deus nos criou.

Conhecer e amar Deus – ensinou Bahá’u’lláh – constitui um processo eterno que continua após a vida física. Em cada um de nós existe uma identidade espiritual perfeitamente adequada a este processo eterno; uma realidade imortal, parte de uma dimensão espiritual invisível. Todo o universo físico está envolvido e impregnado por esta dimensão espiritual, uma infinidade dentro de uma infinidade.

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Texto original: Do We All Worship the Same God? (www.bahaiteachings.org)


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Joseph Sheppherd faleceu 2015. Foi um antropólogo e arqueólogo linguístico e cultural. Viveu nos Estados Unidos, Reino Unido, Panamá, Colômbia e Eslováquia. Passou vários anos entre os povos das selvas dos Camarões e da Guiné Equatorial. Foi professor, escritor, escultor, artista gráfico, artesão e pintor. Publicou 10 livros onde abordou diversos temas, desde assuntos profissionais até aos temas Bahá'ís, passando pela poesia, ficção e literatura infantil.

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