Hoje, o último dia do Festival de Ridvan, os Bahá’ís celebram a fundação da sua religião.
Foi em 2 de Maio de 1863 que Bahá’u’lláh, o Profeta fundador da Fé Bahá’í, saiu de Bagdade rumo a um novo exílio e a um futuro incerto. Mas este evento não é recordado com tristeza pelos Bahá’ís; pelo contrário, é celebrado como um dos momentos altos do calendário Bahá’í: é o chamado Décimo Segundo Dia de Ridvan.
O Festival de Ridvan celebra a estadia de Bahá’u’lláh durante doze dias no Jardim de Ridvan, nos arredores de Bagdade; eram os dias que antecediam a Sua viagem para o segundo exílio, desta vez em Constantinopla (capital do Império Otomano). Esta comemoração do Ridvan (que significa “Paraíso”) como um festival de renovação e paz, assinala o surgimento da Fé Bahá’í e celebra a primeira lei dessa nova revelação: a advertência de Bahá’u’lláh à humanidade para que cesse todas as guerras:
Este é o Dia em que os mais excelentes favores de Deus foram derramados sobre os homens, o Dia em que a Sua graça mais poderosa se infundiu em todas as coisas criadas. Incumbe a todos os povos do mundo reconciliar as suas diferenças e, com paz e união perfeitas, abrigar-se sob a sombra da Árvore do Seu cuidado e benevolência. (Baha'u'llah, Gleanings, IV)
Bahá’u’lláh acabou por sofrer quarenta anos de exílio, encarceramento e tortura devido aos Seus ensinamentos pacíficos e progressistas.
Durante dez anos, a influência de Bahá’u’lláh cresceu em toda a região e um número cada vez maior de pessoas eram atraídas pelos Seus ensinamentos. No início de 1863, o governo persa começou a pressionar o governador de Bagdade para O extraditar de volta para a Pérsia. Mas em vez disso, Bahá’u’lláh recebeu uma ordem de transferência para a capital do Império Otomano, Constantinopla (actual Istambul).
O primeiro exílio de Bahá’u’lláh, de Teerão (Pérsia) para Bagdade em 1852, e o segundo, de Bagdade para Constantinopla, seriam seguidos por outros dois exílios: em 1863, de Constantinopla para Adrianópolis (actual Edirne, na Turquia); e em 1868 para a colónia-prisão de Akka (Acre, na Palestina), onde Bahá’u’lláh passou o resto da Sua vida como prisioneiro.
As primeiras semanas da primavera de 1863 antes da breve estadia de Bahá’u’lláh no jardim Ridván tinham sido tragicamente dolorosas para os Seus amigos e família. Informados sobre a ordem de exílio do governo, que afastava Bahá’u’lláh de Bagdade e O separava da maioria deles para sempre, todos choravam e lamentavam. E no dia da partida, sentiram uma enorme tristeza e desespero. Cerca de 75 pessoas acompanharam Bahá’u’lláh naquela viagem de quatro meses até Constantinopla; mas um grande grupo de familiares, amigos e seguidores ficou para trás.
Um seguidor de Bahá’u’lláh, chamado Mirza Asadu’llah Kashani, testemunhou aqueles dias e escreveu este relato sobre a partida de Bahá’u’lláh de Bagdade, quando milhares de seguidores vieram despedir-se em lágrimas:
... no décimo segundo dia, à tarde, partiram sob a escolta de soldados turcos, para um destino desconhecido. Embora Bahá’u’lláh tivesse ordenado aos amigos que não os seguissem, eu estava muito relutante em deixá-lo afastar-se da minha vista e corri atrás deles durante três horas.
Ele viu-me, desceu do Seu cavalo, esperou por mim, e disse-me com Sua bela voz, cheia de amor e bondade, para voltar a Bagdade, e, com os amigos, começar o nosso trabalho, não lentamente, mas com energia: “Não te deixes vencer pela tristeza - estou a deixar os amigos que amo em Bagdade. Certamente enviar-lhes-ei notícias sobre o nosso bem-estar. Sê constante no teu serviço a Deus, que faz tudo o que lhe apraz. Vive na paz que te for permitida.”
Nós vimo-los desaparecer na escuridão com o coração apertado, pois os seus inimigos eram poderosos e cruéis! Chorando amargamente, voltamos as nossas faces para Bagdade, determinados a viver de acordo com o Seu mandamento.
Os Baha'is celebram o aniversário deste exílio porque a Declaração de Bahá’u’lláh marca o momento em que "as brisas do perdão sopraram sobre toda a criação". Nesse momento, segundo Bahá’u’lláh, "as portas do Reino foram abertas para vós, o chamamento de Deus fez-se ouvir, e as virtudes do mundo humano estão em processo de desenvolvimento.” Com esta acção reveladora - anunciando o advento de um novo ciclo de progresso humano, a unidade orgânica de toda a humanidade e o amanhecer de uma nova Fé mundial - Bahá’u’lláh transformou o momento trágico do Seu exílio num triunfo.
Actualmente, a véspera da partida de Bahá’u’lláh de Bagdade é comemorada todos os anos pelas comunidades Bahá’ís, não como um momento de tristeza ou dor, mas como um festival de grande alegria. O Décimo Segundo Dia de Ridván é uma demonstração do poder do Manifestante de Deus para criar o bem no meio do mal, trazer a luz para o lugar das trevas e alcançar a vitória numa aparente derrota.
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Traduzido e adaptado de: Exile and Exuberance: The 12th Day of Ridvan (www.bahaiteachings.org)
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